Eu, Silvério Duque, sou poeta, nasci em Feira de Santana, aos 31 de março 1978. Sou licenciado em Letras Vernáculas, pela Universidade Estadual de Feira de Santana. Além da poesia, assumo as atividades de músico, clarinetista, já coordenei a Escola de Música da Sociedade Filarmônica Euterpe Feirense, aliás, as bases de minha formação musical advém das Filarmônicas; sou professor, crítico literário, escrevi e escrevo para vários jornais e revistas e sou autor de dois livros de poesia O crânio dos Peixes, ( Ed MAC, 2002 ) e Baladas e outros aportes de viagem, ( Edições Pirapuama, 2006 ). Meus próximos livros, Ciranda de Sombras e A pele de Esaú, estão no prelo. Aqui, neste Blogger, publico meus poemas e minhas considerações sobre Arte e, principalmente, Literatura, as quais, obviamente, estão sujeitas às mais diversas críticas que serão devidamente aceitas, desde que feitas com inteligência, elegância e respeito. Como é a Internet, tudo aqui é público, portanto, o que aqui escrevi pode ser utilizado por qualquer um, contanto que se dê o devido uso e crédito, o que é o direito de todas e quaisquer fontes intelectuais. E quero aproveitar a "liberdade poética" que a data natalícia nos oferece para reinterar meu compromisso com todos que acessam este Blogger e aproneitar para desejar-lhes um FELIZ NATAL E UM PRÓSPERO ANO NOVO. Um forte abraço e espero que continuem gostando.
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
SAI O RESULTADO DA IV EDIÇÃO DO CONCURSO LITERÁRIO "BAHIA DE TODAS AS LETRAS"
Frontispício da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Salvador-BA.
O concurso é realizado pelas editoras Via Litterarum e Editus (Editora da UESC), com patrocínio para os primeiros colocados da Fundação Chaves. Ano após ano, a boa remuneração para os primeiros colocados vem aumentando o interesse por esse concurso.
O meu amigo e poeta Gustavo Felicíssimo, teve a grata felicidade de ser premiado em duas categorias: Poesia e Literatura de Cordel. Esta última em parceria com outro grande poeta amigo Piligra.
RESULTADOS:
POESIA
(Cada autor inscreveu três trabalhos, sendo avaliado o conjunto)
Vencedor: Gustavo Felicíssimo
Obras: Procura, O credo de Don Juan e Monólogo de Don Juan
LITERATURA DE CORDEL
Vencedor: Gustavo Felicíssimo e Lourival P. Piligra Júnior
Obra: A peleja virtual entre dois poetas arretados
ENSAIO LITERÁRIO
Vencedora: Maria José de Oliveira Santos
Obra: Um caso de amor na Cidade de Salvador da Baía de Todos os Santos
CRÔNICA
(Cada autor inscreveu três trabalhos sendo avaliado o conjunto)
Vencedor: Manoel Souza das Neves:
Obras: Mentiropédia, Eu tenho medo de mulher e Auxílio – Funeral
CONTO
(Nessa deu empate)
Obra: Amaro, de Tiago Santos Groba
Obra: O mergulho, Denize Ravizzoni
Mais informações no site da universidade:
http://www.uesc.br/editora/index.php?item=conteudo_concurso.php
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
O CARROSSEL DE MARK GERTLER
Por não trazer um céu sob os sapatos.
Então, busquei, em gestos insensatos,
despir, do azul, o Azul da madrugada.
que se espargiu em tuas alpargatas,
roubei de ti o azul das coisas gratas,
que, em teu olhar, nasceu tão simplesmente.
haver tantos azuis que azuis se amassem,
qual o Mar e o Céu, no azul, nos espelhamos...
porque, do azul, as coisas sempre nascem,
pois, no morrer do azul, nós retornamos.
DOIS ESTANDARTES SERTANEJOS... A ARTE DE JUARCI DÓREA E JOÃO MARTINS
Fantasia Sertaneja de Juraci Dórea (em exposição no Museu Regional de Arte CUCA)
Bate papo com o pilão de João Martins (em exposição na Galeria Carlo Barbosa CUCA)
Sua maior inspiração é, sem dúvidas, a natureza: natureza típica de Irará sua terra natal. Pintando quadros com imagens múltiplas de paisagens, frutas, flores, animais, pássaros, gaiolas, casarios, carroças, sertanejos... entre outros elementos. Sua obra traz uma exuberância muito singular de cores que saltam de frutas e aves típicas da região sertaneja e neste colorido emaranhado é impossível, ao espectador, não se envolver, digamos, sinestesicamente, pensando sentir o sabor de mangas, jacas e pinhas, ou ouvir o estribilho agudíssimo de sofres ou cardeais, que ornam com sensibilidade e maestria as suas telas. A quase totalidade deles compõe o cenário do universo infantil vivenciado em Irará. A exuberância de cores dos trabalhos plásticos de João Martins, aliado aos seus versos, lhe valeram a alcunha de poeta da cor, embora seja na pintura que ele consegue a síntese e o lirismo que lhe escapam em muitos de seus versos.
Assumindo, com muito orgulho, a sua condição de iraraense, João Martins busca muitas inspirações em sua cidade natal, remetendo-se às suas raízes de menino sertanejo. Situada entre o Recôncavo e o Sertão da Bahia, Irará possui uma flora e fauna belíssimas e diversas manifestações culturais, onde o artista colherá a maior parte de suas inspirações.
Do outro lado, a experiência e genialidade de Juraci Dórea. Sua obra, inteiramente dedicada ao Sertão e às manifestações sócio-culturais daquela região, mostra-nos um mundo muito próprio e singular envolvido num Sertão de misticismo e realidade, de poesia e trabalho árduo, de alegria e sofrimento constantes...
Todo este antagonismo é visitado e revisitado por Juraci através de um traço inconfundível, onde vaqueiros assemelham-se a cavaleiros errantes, bois e cabras parecem se metamorfosear em pássaros, criaturas místicas pousam ao lado de sertanejos, amor, alegria, violência e perversão compõem a mesma amalgama cultural da qual o artista, como qualquer outro grande em seu ofício, faz uso para mostrar nada mais nada menos que a realidade que o cerca, refletindo o universo sertanejo que Guimarães Rosa encontrou nos descampados mineiros, Graciliano Ramos buscou nas caatingas alagoanas, Vicente do Rego Monteiro arrancou dos confins de Pernambuco e Juraci Dórea reflete de sua Bahia e mais precisamente de Feira de Santana, a qual me parece ser sua saga e, muitas vezes, sua sanha e sua sina. Como bem exemplificou o professor e escritor Rubens Alves Pereira, “a obra de Juraci Dórea abre-se como um estandarte sobre a vida sertaneja. Nela, viceja a o espírito de um povo simples e humilde do Sertão, elevem-se grandes referenciais da cultura popular. Sobre tudo uma arte que se plasma nos largos gestos da arte contemporânea em que o artista se insere, enriquecendo-a com suas peculiaridades”.
Da mesma maneira que o pintor de Irará, João Martins, Juraci Dórea, de Feira de Santana, tem, na poesia, sua rosa dos ventos; no caso do feirense, por se guiar pela poesia popular do cordel, por exemplo, guia-se por rumos mais seguros. Ambos, principalmente, em suas obras, são grandes cronistas de suas memórias, do Sertão e da brasilidade. Ambos, sobre certos aspectos, realizam uma obra erudita, de uma expressividade, de um aprofundamento e, por que não, de um didatismo único e necessário... tudo isso, através de uma releitura do imaginário sertanejo fazendo, tanto do iraraense quanto do feirense, artistas excepcionais que ao lado de Gil Mário, Cleonice Barbosa e, evidentemente, de Gabriel Ferreira, só vêm a nos mostrar o quanto que, atualmente, estamos muito bem servidos de artistas plásticos.
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
UM SONETO...?
bendita, também, seja toda sede
e tudo mais que nos desperte a carne
ou que nos torne estranhos ante o espelho.
Bendito o nosso instante mais impuro;
o que sobrou de nós e o nosso início –
tanto vazio e cor num só começo –,
tantas mortes das quais nos refazemos.
Que Deus nos abençoe por entre as pedras
com o ressoar cruel do vão destino;
e que eu O veja inteiro ( em cada passo )
– e que possas senti-Lo em meio aos braços
com os quais, na dor, abraças teus joelhos...
Bendita seja a paz destes silêncios.
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
MEMÓRIAS DOS PINTORES DE FEIRA DE SANTANA... POR JURACI DÓREA
Dia 09 de dezembro, às 20 h no CUCA (Centro Universitário de Cultura e Arte) que fica na rua Conselheiro Franco, s/n, Feira de Santana-BA.
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
UM ENCONTRO INESQUECÍVEL COM A LITERATURA...
Nesta sexta-feira, às 17 horas, na Academia de Letras da Bahia haverá mais um Encontros Literários: ponto de cultura espaço das letras, com Gustavo Felicíssimo e Hevelina Hoisel fazendo comentários sobre a obra de Ildásio Tavares e Myriam Fraga, dois dos maiores expoentes da literatura baiana no século XX.
Trata-se de um programa de pós-graduação em literatura e diversidade cultural da UEFS - Universidade Estadual de Feira de Santana.
A curadoria do encontro está a cargo do poeta Luis Antônio Cajazeira Ramos.
Quem gosta de boa poesia não pode perder!!!!!
LASCIA CH'IO PIANGA MIA CRUDA SORTE... ou UMA TRÍPLA RECOMENDAÇÃO A RESPEITO DOS CASTRATI
Alesssandro Moreschi (1858-1922), último dos castrati...
Imagem do filme Farinelli, Il Castrato...
Capa do CD Sacrificium, de Cecilia Bartoli (Universal, 2009).
Um dos episódios mais fascinantes e cruéis da história da música foi a existência dos castrati. A palavra, literalmente traduzida para “castrado” em português, designava os cantores que, demonstrando algum talento para o canto lírico, tinham seus testículos removidos para, desta forma, impedir as mudanças hormonais que tornam a voz mais grave. Sobre certo ponto de vista a Igreja teve grande culpa por esta prática, pois suas interdições equivocadas impediam as mulheres de cantar nas igrejas e nos coros.
O auge desta “prática artística” deu-se entre os períodos Barroco e Rococó, ou, para ser mais preciso, em fins do século XVII e primeira metade do XVIII. Aliás, foram os compositores do barroco os que mais exploraram a força e o lirismo dos castrati. George Friedrich Händel (1685-1759), por exemplo, tem áreas escritas para os heróis de suas óperas exclusivamente para castrati, e, comumente, tanto personagens masculinos quanto femininos eram interpretados por eles: Cara sposa de Xerxes e Lascia ch’io pianga de Rinaldo são boas ilustrações para o que afirmo.
Supõe-se que mais de 4000 eram castrados por ano durante todo o século XVIII. Na Itália era muito comum existir muitas barbearias, em sua maioria, napolitanas, que possuiam, à entrada, um dístico com a seguinte indicação "Qui si castrano ragazzi". Era de Nápoles, inclusive, de onde vinham a maioria dos castrati. Os meninos proviam das ruas ou de famílias pobres que viam na castração de seus filhos a única perspectiva para uma vida com dignidade. Entretanto, arrancar testículos garatia o talento, muito menos o sucesso, e, muitos, não achando emprego, voltavam à rua, à miséria e, pior ainda, à prostituição.
Para os que prosperavam, e estes eram poucos, os estudos eram sérios e exigiam dos castrati dedicação subre-humana. Há pouquíssimas gravações que mostram como era a voz de um castrati que combinava extenção, potência e versatilidade; um dessses parcos registros estão nas gravações, entre 1902 e 1904, feitas por Alesssandro Moreschi (1858-1922), considerado o último de sua especie, morto em 1922 e que, até 1913, atuou como solista do coro da Capela Cistina. Após muito analisarem a suas gravações vários especialistas chegaream a conclusão de que Moreschi se tratava de uma voz potente, porém medíocre e "destemperada," pelo fato de que ele não recebeu a educação musical que receberam os grandes castrati do século XVIII, época em que estes estavam no auge. Quando Moreschi iniciou sua carreira, o último dos famosos cantores castrados, Juan Bautista Stracciavelutti (1780-1861), mais conhecido como Vellutti, já havia falecido há anos.
O caso mais lendário entre os castrati é o de Carlo Maria Broschi, mais conhecido como Farinelli segundo registro de época sua extensão vocal abrangia do Lá2 até Ré6, como escreveu Johann Joachim Quantz (1697-1763): "Farinelli tem uma voz de soprano ligeiro, completa, rica, luminosa e bem trabalhada, com uma extensão que abrange desde o Lá debaixo do Dó central a Ré três oitavas acima do Dó médio… Sua entonação era pura, seus vibratos maravilhosos, seu controle sobre sua respiração era extraordinário e sua garganta muito ágil, porque cantou os intervalos mais amplos rapidamente e com a maior facilidade e firmeza. As passagens das obras e todo tipo de melismas não representaram dificuldades para ele. Na invenção das ornamentações livres nos adágios foi muito fértil." O poder e a doçura da voz de Farinelli se perpetuariam por várias cortes que iam desde a de Luis XV, da França, a de Felipe V, da Espanha.
Quem quiser conferir um pouco do repertório dos castrati recomendo, primeiramente, algumas gravações de Alesssandro Moreschi, que podem ser conferidas, por exemplo neste link: http://www.youtube.com/watch?v=slhhg8sI6Ds, mas os leitores deverão desculpar a precariedade de uma gravação com mais de 100 anos. Podem assistir ao filme Farinelli, Il Castrato (Bélgica/França/Itália, 1994) de Gèrard Courbiau, com Stefano Dionisi no papel principal: http://www.youtube.com/watch?v=ZNp8hYycx4c ou adquirir o novo disco, Sacrificium, da médio-soprano italiana Cecília Bartoli que, num trabalho estupendo de talento e pesquisa, revisita, em seu novo album, as principais obras escritas para os castrati: http://www.youtube.com/watch?v=WZdcp_FpfqI.
Em 1870, o Papa Leão XIII proibiria a castração para "fins artísticos" e, em 1878, baniria os castrati dos coros das igrejas... um gesto bastante humano (para não dizer o contrário) na tentativa de apagar centenas de anos de dor, frustração e humilhações.
Feira de Santana, 1 de dezembro de 2009.
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
MAIS UM PRÊMIO PARA FEIRA DE SANTANA...
Nesta próxima segunda, dia 14 de dezembro, às 19h, na Casa das Rosas, Av. Paulista, 37, são Paulo - SP, A Canon do Brasil e a Fábrica de Livros promoverão um evento para a publicação da obra em antologia do II Prêmio Literário Canon de Poesia 2009, selo editorial Fábrica de Livros / Scortecci Editora, reunindo por ordem alfabética, 50 (cinquenta) POESIAS e seus AUTORES (minibiografia), conforme seleção e escolha irrevogável da Comissão Julgadora.
Os 50 (cinqüenta) participantes escolhidos com as melhores POESIAS receberão como prêmio e a título de Direito Autoral, 10 (dez) exemplares da obra, além da divulgação e promoção da poesia pela Canon do Brasil pelo período de um ano em ações de Marketing e Propaganda.
Entre os participantes desta antologia estão dois baianos, ambos de Feira de Santana, que são os poetas Erivaldo Oliveira de Araújo, com o poema Os santos dos sertões femininos e Silvério Duque, com o poema O grito: sobre um quadro de Edwar Munch.
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
POEMA DO BREVE REGRESSO... EM FRANCÊS
Carolina (sobre um tema de Chico Buarque de Holanda) de Gabriel Ferreira. Acrílico sobre tela. (70X70)cm. 2007.
Há algumas semanas, publiquei, aqui mesmo neste blog, um poema intitulado Poema do breve regresso; agora, volto a publicá-lo por que me chegou às mãos uma tradução – mais uma - para a língua francesa deste mesmo poema. O autor do novo poema – porque traduzir é também criar – é o bom e velho Pedro Vianna, a quem eu conheci – e ao seu valoroso trabalho com o site http://poesiepourtous.free.fr – através da queridíssima pessoa do poeta Miguel Antônio Carneiro, a quem eu devo, também, mais do que uma crítica à altura de seu talento, outro grande amigo e mestre que me tem ajudado de uma forma cujos agradecimentos que lhe devo não caberiam em laudas e mais laudas de “muito obrigado”; o trabalho de Pedro Vianna é louvável principalmente pela valorização de muitos novos e veteranos poetas de nossa querida Bahia que ele tão caprichosamente constrói em seu site:
http://poesiepourtous.free.fr/poesiepourtous/poesiepourtous/pomoi.htm.
Meus caros Pedro e Miguel... mais uma vez, na falta de algo mais apropriado: MUITÍSSIMO OBRIGADO!!!
Eis, novamente, o(s) poema(s):
UM BREVE REGRESSO
– Na casa velha
dormem, ainda,
outras canções de antigas tardes,
mas nada nos diz
o eco melancólico destes silêncios.
A fúria das lembranças que se foram
( muito cedo ) nos invade a memória
com rosários e rezas;com as estórias de uma infância
muito além de nosso compreender;
com a ternura antigaque alongava os dias, os sorrisos
e os nossos supostos sonhos...
Ah, tudo é um imenso vazio que nos povoa as almas!
( Na casa velha de minha infância
as lembranças projetam dores
sobre este olhar perdido ).
UN BREF RETOUR
– Dans la vieille maison
dorment, encore,
d'autres chansons des après-midi de jadis,
mais rien ne nous dit
l'écho mélancolique de ces silences.
La furie des souvenirs qui s'en allèrent
(très tôt) envahit notre mémoire
avec chapelets et prières ;
avec les histoires d'une enfance
bien au-delà de notre entendement ;
avec la tendresse ancienne
qui allongeait les jours, les sourires
et nos rêves supposés...
Ah, tout est un immense vide qui peuple nos âmes !
(Dans la vieille maison de mon enfance
les souvenirs projettent des douleurs
sur ce regard perdu).
NOEL ROSA... O SHOW CONTINUA!!!
Mapa para quem quer chegar ao Cidade da Cultura... o difício é querer sair.
A cantora feirense, Céliah Zaiin, repetirá, na próxima sexta-feira, dia 27 de novembro, às 21h, no Cidade da Cultura, que fica na Rua H, n. 170, Conj. João Paulo II, Feira de Santana – BA (O telefone para informações é 75 3483 2740) , seu show em homenagem ao grande Noel Rosa, o “poeta da Vila”...
Um dos maiores compositores da história da Música Popular Brasileira, Noel Rosa nasceu de um parto difícil em que o uso do fórceps pelo médico causou-lhe um afundamento da mandíbula; a deformação conseqüente desta prática o marcaria por toda a sua vida. Criado no bairro carioca de Vila Isabel, Noel pertencia à chamada “classe média carioca”; era filho do comerciante Manuel Garcia de Medeiros Rosa e da professora Martha de Medeiros Rosa. Ainda na adolescência aprendeu a tocar bandolim de ouvido e tomou gosto pela música – e pela atenção que ela lhe proporcionava. Logo, passou ao violão e cedo se tornou figura conhecida da boemia carioca.
Entrou para a Faculdade de Medicina, mas logo o projeto de estudar mostrou-se pouco atraente diante da vida de artista, em meio às noitadas regadas a samba e à cerveja. Noel foi integrante de vários grupos musicais, entre eles o Bando de Tangarás, ao lado de João de Barro (o Braguinha), Almirante, Alvinho e Henrique Brito.
Já em 1929 Noel arriscou as suas primeiras composições, Minha Viola e Toada do Céu, ambas com fortíssima influencia da música regional, que muito sucesso fazia por aqueles tempos e gravadas pelo próprio Noel, que, diga-se e registre-se, foi quem mais gravou suas composições. Mas foi em 1930 que o sucesso chegou, com o lançamento de Com que roupa?, também gravado por ele, um samba bem-humorado que sobreviveu décadas e hoje é um clássico do cancioneiro brasileiro.
Céliah Zaiin lembra-se que, desde a sua graduação, era “apaixonada pela obra de Noel”; ela nos lembra de sambas “como Onde está a honestidade, que fala de brasileiros que enriqueceram da noite pro dia sem receber herança ou ter trabalhado muito para isso, ou qualquer outra justificativa plausível... é de fato um assunto bem atual, aliás, Noel é um compositor sempre atual, por isso a grandeza de sua obra”. Pra Célia, este show é uma “oportunidade de o público feirense familiarizar-se ainda mais com a obra deste carioca que é antes de tudo, um dos maiores gênios de nossa música”.
Noel revelou-se um dos mais talentosos cronistas do cotidiano carioca, com uma seqüência de canções que primam tanto pelo bom humor como pela veia crítica. Orestes Barbosa, exímio poeta da canção, seu parceiro em Positivismo, o considerava o "rei das letras".
Noel também foi protagonista de uma curiosa polêmica travada através de canções com seu rival Wilson Batista. Os dois compositores atacaram-se mutuamente em sambas agressivos e bem-humorados, que renderam bons frutos para a música brasileira, incluindo clássicos de Noel como Feitiço da Vila e Palpite Infeliz.
Entre os intérpretes que passaram a cantar seus sambas, destacam-se Mário Reis, Francisco Alves e a inesquecível Aracy de Almeida.A tuberculose o levaria prematura e romanticamente à morte aos 26 anos de vida.
O show, “Tributo a Noel” contará, como na primeira vez, com o piano de Tito Pereira, a quem Célia considera um dos mais talentosos músicos da atualidade e com a participação especial do clarinetista Silvério Duque.
Não percam!!!
sábado, 21 de novembro de 2009
DIÁLOGOS GRAPIÚNAS
Diálogos: panorama da nova poesia grapiúna (Ed. Editus/Via Litterarum, 2009).
Recebi, nesta última semana, um presente de meu amigo, e poeta, Gustavo Felicíssimo: seu livro Diálogos: panorama da nova poesia grapiúna (Ed. Editus/Via Litterarum, 2009), do qual ele é organizador. Primeiramente, o livro me chamou a atenção pela excelente qualidade gráfica, tanto da capa quanto de seu interior, ambas assinadas pelo poeta e artista gráfico George Pellegrini. Mas é o seu conteúdo que realmente me impressionou...
Gustavo, que tem um trabalho de divulgação das novas gerações da poesia baiana e brasileira de altíssima qualidade, reitera este ofício ao publicar texto de dez poetas que, segundo ele (e, também, pelo que qualquer bom leitor poderá constatar), formam o mais novo – e o mais qualificado – grupo da novíssima poesia baiana oriundo da Região Grapiúna. São eles: Edson Cruz, Heitor Brasileiro Filho, Noélia Estrela de Oliveira, Piligra (Lorival P. Piligra Júnior), George Hamilton Pellegrini Ferreira, Daniela Galdino, Mither Amorim Mendonça e Geraldo Lavigne de Lemos.
Esses nomes agregam – como haveria de ser num trabalho como este – uma grande diversidade temática e formal, todavia, igualam-se pela seriedade dos temas, pela busca de uma poesia pura e com o diálogo estabelecido com quase todas as tendências poéticas. Segundo Ildásio Tavares, que prefacia o livro – e o Ildásio sempre sabe o que diz –, há um ponto de coerência e afinidade quando esses poetas esmiúçam o conteúdo dos seres e das coisas; para Ildásio Tavares, lá estão os signos referenciados do passado e do presente; lá só não estão o pieguismo, a piada e a superficialidade. O trabalho de Gustavo Felicíssimo é sério e, por isso mesmo, em sua antologia, só há poetas sérios... Por favor, lembrem isto ao Marco Lucchesi.
Quem se aventurar nas páginas de Diálogos... encontrará a síntese perfeita entre imagem e palavra na econômica, porém dialética, poesia de Edson Cruz; o verso sincero e livre de Heitor Brasileiro; a delicada angústia de Noélia Estrela; os formais e coloquiais sonetos de Piligra; a enigmática literatura de George Pellegrini; o erotismo pujante e lírico de Rita Santana; o verso livre e apaixonado de Fabrício Brandão; o deslumbramento reflexivo de Daniela Galdino; os haicais (e falando em haicais já se diz tudo) de Mither Amorim; o esmiuçar emotivo de Geraldo Lavigne.
Além do mais, o leitor constatará uma coisa óbvia: o trabalho sério e impressionante do pesquisador e organizador Gustavo Felicíssimo, que entre critérios estéticos e políticos constrói uma obra de referência, onde novas vozes se misturam, em igual índole, a nomes referencias como Sosígenes Costa, Adelmo Oliveira e Cyro de Mattos e para onde não encontramos sinais de nenhum “verbalista” que, como bem acentuou, certa vez, o filósofo Olavo de Carvalho, são os ditos "poetas que saltam direto do estímulo verbal à reação emotiva, sem passar pelo trabalho de imaginação e muito menos pela triagem crítica das representações imaginativas e cuja sua tendência é buscar a comoção ante os simples jogos vocabulares que, bem examinados, não significam absolutamente nada e nem poderão suscitar emoção nenhuma a não ser no sucesso do movimento Concretista que se deveu a propagação do verbalismo no lugar do verdadeiro poeta..." Por favor, lembrem isto, também, ao Marco Lucchesi.
Ainda citando o Ildásio Tavares, o verdadeiro legado da civilização grapiúna são os seus escritores; e o Gustavo Felicíssimo acrescenta a este legado nomes que o tornarão uma herança ainda mais valiosa às gerações futuras.
Uma vez, neste mesmo Blogger, referindo-me à poesia e ao trabalho de pesquisa e de divulgação de Gustavo Felicíssimo, disse que ele merecia todos os elogios que, sem pudor, e com sinceridade e débito prestava a ele netas poucas e insuficientes palavras... e, agora, torno novamente a dizê-lo, pois ele merece.
Candeias, 19 de novembro (Dia da Bandeira Nacional) de 2009.
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
PROJETO VIVA A POESIA VIVA
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
ANTÔNIO CARLOS GOMES (1836 – 1896)
Antônio Carlos Gomes (1836-1896)
A influência européia foi, sem dúvida, determinante durante os primórdios da cultura musical autóctone dos países latino-americanos. Não esqueçamos que uma parte muito significativa da população é, antes de tudo, de origem indígena; assim sendo, herdeira de uma cultura muito singular, muito diferente daquela trazida pelos colonizadores espanhóis, portugueses, franceses... Também é verdade que estes povos autóctones tiveram pouco haver com a cultura que se foi desenvolvendo ao longo de centenas de anos de colonização, e que a imposição da cultura importada foi determinante, atingindo limites que tornam muito dificultosa e detecção de vestígios autóctones na atualidade, mas não há dúvidas que um substrato indelével fez-se determinante para cada espaço cultural da América. Estas mudanças históricas acabam, de certa forma, se repetindo, com ou sem a força que ainda resta da cultura nativa com a transplantação da cultura da Europa: Barroco, Arcadismo (ou Neoclassicismo), Romantismo... Este último, sobretudo, foi o principal responsável pela busca de elementos nativos, pela construção de um ideal nacionalista e da busca de uma identidade nacional, principalmente com o fim da influência das antigas classes dominantes e dos modelos clássicos. As mudanças foram lentas, mas, na luta para se livrar da independência européia, foi-se recriando um modelo nativista que, mesmo imbuído de uma fortíssima influência européia, misturou diversas tendências estéticas na busca de uma tão esperada “cor-local”. Por isso mesmo, encontramos, ao longo do romantismo brasileiro, por exemplo, várias figuras que passaram de uma estética a outra – e até praticaram muitas ao mesmo tempo. Este foi o caso da literatura de Gonçalves Dias e Castro Alves. Mas, no ano em que se comemora os cinqüenta anos da morte de Heitor Villa-Lobos, ninguém melhor para ilustrar esta diversidade estética do que o maestro Carlos Gomes.
I
Antônio Carlos Gomes nasceu em campinas, em 1836, e, como não poderia ser diferente, àquela época, foi, de início, um fiel amante da Escola Italiana. Porem, sua dedicação à música de salão também foi notória, e o ajudou a apreciar a música popular que, por mais ínfima que fosse, se poderia encontrar algum elemento verdadeiramente nativo. Assim, não demoraria muito para que o popular ganhasse uma linguagem mais sofisticada pelas mãos de muito mestres da música erudita, inclusive pelas de Carlos Gomes.
Foi com O Escravo que o elemento nacionalista se fez indispensável na obra do maestro de Campinas, por mais que O Guarani seja a sua obra mais conhecida e, aparentemente, mais “romântica”, mas se é possível, em ambas, distinguir, em Carlos Gomes, um fácil melodismo que evoluiria, com grande rapidez para um profundo expressionismo muito presente em O Escravo, onde se é possível, destacar a grande qualidade de orquestrar que Carlos Gomes, assimilaria de Puccini. Assimilação, diga-se, apenas modelar, pois sua obra se confunde com a evolução da música brasileira o que, àquela época, acontecia com imensa velocidade, imbuída de uma grande mescla de elementos melódicos e rítmicos de notável influência indígena, e, principalmente, africanas, pois as influências eram oriundas de várias áreas culturais, como Moçambique, Guiné, Daomé, Sudão...
De uma mescla tão intensa, a obra de Carlos Gomes iniciaria uma nova história dentro da música brasileira e seu evolucionismo, história da qual sua música far-se-á, também, determinante. Diversos compositores latino-americanos comprometeram-se a “cantar a sua terra” através de uma música independente, que, dentro do possível, libertasse-os do sedimento da música produzida na Europa, permitindo-lhes alcançar uma expressão nacionalista genuína. Não há dúvidas que Carlos Gomes é o pioneiro nesta luta, que mais tarde, seria assumida por nomes como Alberto Ginastera, Carlos Chaves, Manuel Ponce e, claro, Heitor Villa-Lobos. Um bom exemplo prático desta busca por uma identidade nacional que podemos retirar da obra de Carlos Gomes, encontra-se em suas peças para piano, onde ritmos populares e folclóricos, como o lundu, ganham uma roupagem erudita sem perder as características primevas que lhe serviram de influência. Mas não confundamos as coisas; Carlos Gomes se utiliza de elementos populares à sua maneira , criando um folclore pessoal nascido de um trabalho de autenticidade, dando ao elemento popular, uma nova face que é o rosto do eruditismo, como, mais tarde, também fariam, Nepomuceno, Villa-Lobos, Bartók, Falla e Stravinsky.
Apesar da inquestionável qualidade de sua obra e de seu caráter inovador e genuinamente nacionalista Carlos Gomes amargava, ao lado dos inúmeros elogios que recebia, tanto aqui como “nas terras d’além mar”, críticas severas e injustas que, na grande maioria das vezes, não passavam de puro depreciatismo, acusando-o de um mero imitador da ópera italiana, e, pior ainda, de ser um “capacho” a serviço da dominação européia – vejam que estas idiotices típicas dos comunistas já estão presentes por aqui faz um bom tempo – e cuja obra nada traz de inovador e, menos ainda, de brasileira. Tal calúnia atravessaria os séculos, principalmente com o “fervor de inovação” e de “desprezo ao passado” e “às raízes” promulgadas pelo modernismo paulista de 1922 e que transformaria Carlos Gomes em um dos primeiros exemplos de como as ideologias podem espalhar nuvens de ignorância difíceis de dissipar.
Na verdade, sua música era tão européia quanto tinha de ser e é sempre bom lembrar que, por mais que o espírito revolucionário estivesse no cerne do Romantismo, ele ainda se regia por regras específicas seja na poesia, na pintura, na arquitetura ou na música, e seguir estas regras era tão imperativo, aos românticos, quanto, desprezá-las, era dever dos modernos. Além do mais isso não impediria que Carlos Gomes fosse, dentro das possibilidades abertas pela escola romântica, um inovador e, independentemente de tal intuito, um gênio incontestável. Esta genialidade foi aproveitada ao máximo pelo maestro, transformando-o, ao que até agora eu sei, na primeira celebridade internacional da história do Brasil... e com total merecimento.
II
No século XIX, estrear várias óperas na Europa, principalmente na Itália, era uma consagração almejada por qualquer compositor (mas alcançada por pouquíssimos), sobretudo se ele não era italiano, ou, pelo menos europeu; imaginar, então, que este compositor fosse um brasileiro, tornaria esta consagração ainda maior do que já era; e foi este o caso de Antônio Carlos Gomes, que, em 1870, e sua ópera, O Guarani, de inspiração literária em um dos mais célebres romances da Literatura Brasileira, estreariam em Milão. O sucesso era o esperado, levando-se em conta o forte “italianismo” da ópera, o que não a caracteriza como mera imitação, à maneira de Verdi, como quer a maioria de seus detratores, muito menos plágio ou falta de nacionalismo. Simplesmente, em O Guarani, Carlos Gomes aplicou fómulas que eram de extrema necessidade aos modismos de sua época, principalmente no meio onde se apresentara, para garantir a aceitabilidade de sua música.
Desde os primeiros acordes em que se apresenta o tema introdutório d’O Guarani, por exemplo, ao tipo de ordenação temática da Overture, tudo obedece a clichês utilizados pela grande maioria dos compositores operísticos da Itália, ou de quaisquer países onde era imperava o italianismo. O prelúdio, em forma de fanfarra, é uma função teatral que muito bem ilustra esta influência e com a qual Carlos Gomes inicia sua ópera mais famosa. A primeira aparição deste tipo de “anúncio” remonta, talvez, a Monteverdi, mas já se é possível identificar semelhante formação em Bach e Escarlatti. Mas, sem dúvida foi Lully o primeiro a criar verdadeiras aberturas dramáticas. Essas “Aberturas” à francesa que pouco a pouco invadiu os teatros da Europa era formada por uma parte lenta, seguindo-se a uma mais rápida – num estilo, muitas vezes, fugato – para se concluir numa última parte que é uma repetição abreviada de seu início. No entanto, seu desenvolvimento, na Itália, deu-se de forma muito distinta, seguindo um modelo VIVO – LENTO – VIVO, recheado de um profundo melodismo; melodismo este que fugia a quaisquer influências francesas.
***
Somente na segunda metade do século XIX surgiu um tipo muito novo de abertura operística que consistia em uma espécie de pout-pourri e a abertura alemão, à maneira de Ludwiving von Beethoven e Carl Maria von Weber, além de se prelundiar com a fanfarra monteverdiana, além de possuir um claríssimo conteúdo melódico refinada com uma das melhores orquestrações já ouvida neste tipo de composição – algo que só se poderia realizar pelas mãos hábeis de um grande músico.
Essa mistura de estilos já seria o suficiente para ilustrar o caráter inovador de sua obra, além de se utilizar de elementos da música negra, e de seus mais diferentes ritmos, e da figura indígena criada pelo romantismo de José de Alencar que, por mais europeizada que fosse – e devesse ser – representava, como nenhum outro símbolo, o nacionalismo brasileiro. Carlos Gomes iniciou sua carreira no italianismo para termina-la com um estilo muito próprio e com uma personalidade que o faria passar para a História da Música como um de seus maiores compositores... doa em quem doer.
Candeias, agosto/novembro de 2009
Aproveitem e ouçam a abertura d' O Guarani e a belíssima e popular modinha (mas que só poderia ter sido feita por um compositor erudito) Quem sabe?, pois, enquanto isso, em Brasília, é sempre 19:00h.
http://www.youtube.com/watch?v=seNrjXhTOBA
http://www.youtube.com/watch?v=TNlcdN-HvIU
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
OUTRO POEMA SOBRE A BAHIA...
Mulheres na praia de Hector Carybé, aquarela sobre papel , 50 X 70cm, 1975.
CETTE MER QUI VIT DANS MON CŒUR...
Onde não existe o mar
meu coração não bate,
nem
onde o chão e o sol não se avistam,
ali, não haverá meus olhos,
nem mãos para enterrar meu corpo...
Lá, onde a natureza é uma canção distante,
minha alma de água clara e chão fecundo
perderá seu azul e a sua imensidão,
perderá suas sementes,
seus arados... colheitas...
Onde não existe o mar
meu coração não existe,
nem
existirá o chão em que meus passos habitam...
e
o que há em mim de mortal e simples
perderá seu infinito.
Feira de Santana, 15 de outubro de 2009.
E A AGENDA DE NOVEMBRO CONTINUA...
O evento contará com uma palestra de Heitor Brasileiro Filho, poeta e estudioso da obra sosigenesiana, também com uma performance teatral de José Delmo, que interpretará trechos do consagrado poema Iararana.
Oriundo de Belmonte, o poeta chegou a Ilhéus em 1926, onde escreveu a maior parte da sua obra. Nascido e falecido em novembro, Sosígenes Costa é um dos mais celebrados poetas grapiúnas e, segundo o poeta e crítico paulista José Paulo Paes, o maior poeta da Bahia depois de Castro Alves.
Em vida publicou um único livro, “Obra Poética”, pela Editora Leitura, em 1959, pelo qual recebeu o Prêmio Jabuti de Poesia, o mais importante do país. Esse livro, segundo Jorge Amado, teve os originais quase arrancados à força por ele e por James Amado, “lutando contra a obstinada decisão de ineditismo do homem tão orgulhoso e tímido que foi Sosígenes Costa”. Entre 1978 e 1979, por meio da editora Cultrix, e por iniciativa de José Paulo Paes, foram publicadas a segunda edição, revista e ampliada, de “Obra Poética” e o inédito “Iararana”. Já em 2001, via Conselho Estadual de Cultura da Bahia, fora publicada a sua “Poesia Completa”.
Há alguns estudos sobre sua obra, a saber: “Pavão, Parlenda, Paraíso”, 1978, de José Pulo Paes; “O poeta grego da Bahia”, 1996, de Gerana Damulakis; e “Travessia de Oásis – A Sensualidade na Poesia de Sosígenes Costa”, (2004), de Florisvaldo Mattos. O professor, jornalista e pesquisador, Gilfrancisco, ainda reuniu as crônicas que Sosígenes publicou na imprensa grapiúna e, em 2001, ano do Centenário de Sosígenes, as publicou com o apoio da Fundação Cultural de Ilhéus, com extensa memória sobre a Academia dos Rebeldes, grupo liderado por Pinheiro Viegas, em Salvador, e da qual fez parte juntamente com Jorge Amado. Sosígenes ainda fez parte da Academia de Letras de Ilhéus, como nos informa o poeta Heitor Brasileiro Filho, “impondo como condição sine qua non que não tivesse que fazer qualquer discurso quando da sua posse”. Em 2004, por conta de um consórcio entre as editoras da UEFS (Universidade Estadual de Feira de Santana) e UESC (Universidade Estadual Santa Cruz), sob a organização de Cyro de Mattos e Aleilton Fonseca, publicou-se “O triunfo de Sosígenes Costa”, um compêndio contendo estudos, depoimentos e uma breve antologia poética.
A poesia de Sosígenes nos arrebata pela pungência dos seus versos, pela espiritualização da carne e pela carnalização do espírito. Nela, reflete-se viva a adequação ao simbolismo e ao modernismo, sem dúvida, partes efetivas e afetivas na formação desse poeta que, pela sensibilidade e originalidade, tornou-se, seguramente, um dos mais potentes poetas baianos de todos os tempos e um dos mais expressivos e populares poetas brasileiros do século XX.
Homenagem a Sosigenes Costa
Academia de Letras de Ilhéus
Dia 14 de Novembro, 19 horas
É com imenso prazer que convido a todos para:
SHOW TRILOGIA DO REGGAE com Dionorina, Jorge de Angélica & Gilsam.
DIA 14/11/09 às 20:00h., NO CUCA (Centro Universitário de Cultura e Arte) que fica na rua Conselheiro franco, s/n, Feira de Santana-BA.
A entrada é franca.
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TRIBUTO A NOEL ROSA na voz de Céliah Zaiin
Única apresentação no Cidade da Cultura
Rua H, nº 170, Conjunto João Paulo II, Feira de Santana-BA
Dia 27/11 Última sexta-feira do mês, às 22:00 h.
(Em homenagem ao Rádio Brasileiro)
terça-feira, 3 de novembro de 2009
VIDAS SECAS... DE GRACILIANO RAMOS
Graciliano Ramos (1892-1953)
INVERNO
MUDANÇA
Tinham deixado os caminhos, cheios de espinho e seixos, fazia horas que pisavam a margem do rio, a lama seca e rachada que escaldava os pés.
Pelo espírito atribulado do sertanejo passou a idéia de abandonar o filho naquele descampado. Pensou nos urubus, nas ossadas, coçou a barba ruiva e suja, irresoluto, examinou os arredores.
Sinhá Vitória esticou o beiço indicando vagamente uma direção e afirmou com alguns sons guturais que estavam perto. Fabiano meteu a faca na bainha, guardou-a no cinturão, acocorou-se, pegou no pulso do menino, que se encolhia, os joelhos encostados ao estômago, frio como um defunto. Aí a cólera desapareceu e Fabiano teve pena. Impossível abandonar o anjinho aos bichos do mato. Entregou a espingarda a Sinhá Vitória, pôs o filho no cangote, levantou-se, agarrou os bracinhos que lhe caíam sobre o peito, moles, finos como cambitos. Sinhá Vitória aprovou esse arranjo, lançou de novo a interjeição gutural, designou os juazeiros invisíveis.
Ausente do companheiro, a cachorra Baleia tomou a frente do grupo. Arqueada, as costelas à mostra, corria ofegando, a língua fora da boca. E de quando em quando se detinha, esperando as pessoas, que se retardavam.