SONETOS DA SEDUÇÃO AMOROSA
ou PEQUENO CANTARES DOS LONGES
E DE CHEGADA
(por Silvério Duque)
à minha sempre Lucifrance Castro
Teu rosto
eu vislumbrei em meus anseios
aquele a quem meu peito já previa.
O meu amor não morre com a saudade
nem se finda se há muito não te vejo.
Falo de ti como quem vem de um sonho
– por teu amor aceito a vida e a morte...
Se me reinvento agora e a cada instante
é porque te adivinho em cada gesto.
Como um mistério em si tão revelado
toda presença ao teu surgir converge
como um traço de giz em pedra escura.
E tudo quanto eu quero e quanto temo
há de fazer-se em ti para que eu viva
que o meu viver sem ti é um voar de cinzas.
II
Saber-se
pertencer é ser inteira
como um rio que persegue as próprias águas
e ter por sobre o rosto o rosto do outro
sem se importar ser nada à sua volta.
Sombras, rastros ou coisas desgraçadas
tudo é um pouco de ti – tua presença
por vezes arruinada e recomposta
– qual teu cheiro na cama já refeita.
Meu corpo existe a reclamar teu corpo
(que o teu corpo é meu corpo revivido)
e o dia de amanhã já se faz logo
a me trazer tão leve sobre a terra...
A vida de minha alma é a tua alma
e o grão de meu desejo quer tua fome.
Alagoinhas/Candeias, 08-12 de junho de 2015.