quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

UM POEMA DE NATAL...


Adoração dos Magos de Bernardo Cavallino (1647),
Óleo sobre madeira, 325X185 cm, Museo Nationale Capodimontti, Nápoles.





Amanhã, nasceremos para o novo:
Deus nos trará o Céu e toda a espera

separará do joio o incauto trigo
reinventará no fogo estranhas feras.

Amanhã, nasceremos como os lírios
entre o húmus do tempo e seus odores

entre a ausência, a saudade, o esquecimento
entre a sombra de tudo e estranhas flores.

Renascidos da dor que nos liberta
amanhã, rogaremos outras carnes

amanhã, pediremos novos rostos...
Mas, hoje, desejamos Teu silêncio

hoje, Senhor, só a morte desejamos
somente a Tua face enfim rogamos.



quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

DICA DE LEITURA: "DIÁRIO FILOSÓFICO" DE CONSTANTIN NOICA*


AutorConstantin Noica
Tradução: Elpídio Mário Dantas Fonseca
Edição 01
Formato: 14 X 21 cm
Número de Páginas: 120
Acabamento: Brochura
ISBN: 978-85-8033-021-2
Lançamento: 2011





Constantin Noica é um dos maiores filósofos de todos os tempos. Este romeno, infelizmente, pouquíssimo conhecido e ainda menos estudado no Brasil, nos entrega o que promete em seu título, ou seja, um diário filosófico com aforismos e breves pensamentos, que raramente ultrapassam uma página, sobre os mais variados temas, tendo a Filosofia como eixo condutor de uma reflexão... E que Filosofia!!!!!

Com temas bastante recorrentes em toda a sua obra, como os símbolos cristãos do filho pródigo e do irmão do filho pródigo, a escola, as ciências liberais e exatas, e a pedagogia, Noica nos mostra que a escola era o mundo, onde vivia o filho pródigo, que aprendia com a realidade.

Crítico do ensino formal da filosofia, que, segundo ele, afastava o homem do mundo real, Noica nos mostra grande preocupação com o ensinar do que com o esclarecer. Por isso, as constatações de Noica são simples, muitas vezes simbólicas, mas que compactam a experiência do real com absoluta maestria.

Este livro, mais uma tradução magistral de meu amigo Elpídio Mário Dantas Fonseca e mais um grande lançamento que a Editora É proporciona aos amantes da boa leitura, é extremamente fácil de ler, mas que desperta nos leitores atentos, uma incrível vontade de meditar sobre o que ele está falando. Um livro para quem se preocupa com a saúde do espírito e com a sua existência dentro de ordem maior, a fim de ter uma vida rica e de contato com o mundo.

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“A filosofia não é possível senão na cidade, entre homens, naqueles mercados de que não se desgrudava Sócrates. Ela lhe dá o único encontro com o outro. Você põe andar sobre andar, suprime os jardins (ou deixa, quando muito, estes jardins públicos convencionais) – e algures, perto de uma escada de serviço, vai nascer um filósofo.”


“O erro de Narciso não é o de ocupar-se consigo. É o de ocupar-se de certa maneira consigo. O narcisismo é uma maldição apenas para os que, vendo, querem fixar a própria imagem; para permanecerem nela mesma, porque são perfeitos. O erro de Narciso é o de ser perfeito. É sua única imperfeição. (Será que plagio Gide?)”


“Assim Abel como Caim levam sacrifício. Mas para o sacrifício de Abel, Deus olha com prazer, mas para o sacrifício de Caim, não.”


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Constantin Noica (Trechos do Diário Filosófico)



*Constantin Noica (Vităneşti-Teleorman, 12/25 de julho de 1909 – Sibiu, 4 de dezembro de 1987). Estreou na revista Vlăstarul [O Renovo], em 1927, como aluno do liceu bucarestino “Spiru Haret”. Estudou na Faculdade de Letras e Filosofia de Bucareste (1928-1931), formando-se com a tese de licenciatura Problema Lucrului în Sine la Kant [Problema da Coisa em Si em Kant]. Foi bibliotecário no Seminário de História e Filosofia e membro da Associação “Criterion” (1932-1934). Depois de fazer estudos especializados na França (1938-1939), fez o doutorado em Filosofia, em Bucareste, com a tese Schiţă pentru Istoria lui Cum e cu Putinţă Ceva Nou [Um Esboço para a História de Como é Possível Algo Novo], publicada em 1940.] Foi relator de Filosofia nos quadros do Instituto Romeno-Alemão de Berlim (1941-1944). Concomitantemente editou, juntamente com C. Floru e M. Vulcănescu, quatro dos cursos universitários de Nae Ionescu e o anuário Isvoare de Filosofie [Fontes de Filosofia] (1942-1943). Teve domicílio forçado em Câmpulung-Muscel (1949-1958) e foi detento político (1958-1964). Trabalhou como pesquisador no Centro de Lógica da Academia Romena (1965-1975). Os últimos doze anos, passou-os em Păltiniş, sendo enterrado no pequeno mosteiro próximo. Seus estudos distribuíram-se em todos os campos filosóficos, notadamente epistemologia, filosofia da cultura, axiologia, antropologia filosófica, ontologia e lógica.

domingo, 11 de dezembro de 2011

"COBRA DE DUAS CABEÇAS": A POESIA E A PROSA INÉDITAS DE SOSÍGENES COSTA...







A Editora Mondrongo – editora do Teatro Popular de Ilhéus – tem a honra de lhes apresentar Cobra de duas cabeças, livro de Herculano Assis, que traz poesia e prosa inéditas de Sosígenes Costa.

Segundo o professor e ensaísta Jorge de Souza Araújo: Cobra de duas cabeças resulta “da amorosa pesquisa e justificado penhor, caros à memória de um poeta de excelência, aqui observado como pensador e crítico notabilizado por uma verrina que, de tão surpreendente, constitui-se mais ainda afeta à literatura baiana e brasileira”.  Já o poeta Heitor Brasileiro Filho acredita que “os textos reunidos, particularmente a prosa, desmistificam a imagem quase sempre contemplativa, compenetrada, e até sisuda do poeta.  O que aparenta pouco para um autor da literatura brasileira, no caso específico de SC é muito significativo porque ajuda a compor um complexo mosaico. Traços de uma personalidade mitificada, exatamente, por ausência de informações precisas sobre sua vida e seu pensamento ‘objetivo’”.

O lançamento de Cobra de duas cabeças será no próximo sábado, dia 17, às 19 horas, em Belmonte, cidade natal do poeta. Também, no dia 17, o site da editora entrará no ar, através do qual se poderá adquirir essa e outras obras da editora. O endereço virtual será: www.mondrongo.com.br





quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

PE. JOSÉ MAURÍCIO NUNES GARCIA: UM GÊNIO ESQUECIDO E INDOMÁVEL


O padre José Maurício Nunes Garcia (Rio de Janeiro, 22 de setembro de 1767 – 18 de abril de 1830)





em comemoração ao bicentenário
da Missa Pastoril para a Noite de Natal (1811)



  
Neste fim de ano de 2011, chamo a atenção de ti, caro leitor, para um aniversário... mas não o de uma pessoa, ou de um poeta – o que nesse nosso contexto seria bem adequado; aliás, este ano, podemos assim dizer, “comemoramos” os trezentos anos da morte de Botelho de Oliveira e o centenário de morte de nosso querido parnasiano, Raimundo Correa: é de uma obra que eu quero lembrar, mais necessariamente dos 200 anos da Missa Pastoril para a Noite de Natal (1811), do Pe. José Maurício Nunes Garcia, um dos maiores nomes da história de nossa música e também um dos mais esquecidos.

Filho de Apolinário Nunes Garcia e Victória Maria da Cruz, uma escrava, José Maurício muito cedo revelou seu incrível talento para a música, compondo, aos 16 anos sua primeira obra, uma antífona para a Catedral e Sé do Rio de Janeiro: Tota pulcra es Maria, em 1783. Talento que, ao lado de suas convicções religiosas, será sua principal arma contra os principais inimigos que terá por quase toda a sua vida profissional: a falta de recursos técnicos, o preconceito e o corporativismo de invejosos que não aceitavam um homem de cor e quase autodidata no comando da Capela Real e na apreciação do rei D. João VI... os gênios também têm as suas cruzes. O empobrecimento da vida cultural após o retorno de D. João VI para Portugal, e a crise financeira depois da Independência do Brasil, em 1822, causaram uma diminuição da atividade de Nunes Garcia, agravada pelas más condições de saúde do compositor. Em 1826, compôs sua última obra, a Missa de Santa Cecília, para a irmandade de mesmo nome. Morreu em 18 de abril de 1830 e apesar de ser padre, teve cinco filhos, dos quais reconheceu um.

O José Maurício viveu e atuou numa época bastante conturbada para a história brasileira. O Rio de Janeiro, pouco antes da chegada da corte portuguesa, culturalmente em nada se distinguia da exigüidade dos demais grandes centros nacionais. Entretanto, presença da Família Real, na, então, capitão da colônia, mudou esta situação radicalmente, atraindo as totais atenções e passando a ser o centro de irradiação de estéticas novas, nomeadamente o neoclassicismo, com o abandono da tradição barroca que, até então, continuava a exercer grande influência em todo país, daí da pra se medir o tamanho do atraso no qual vivi o Rio de janeiro e todo País àquela época. É certo que esta tradição ancestral não feneceu imediatamente, mas, dali em diante, o patrocínio oficial à vertente neoclássica foi o golpe mortal nela infligido, e do Rio irradiou-se uma visão diferente que, aos poucos, dominaria em todo o território.

José Maurício tinha luzes surpreendentes para alguém de sua origem e condição social. Pobre, mulato, perdendo o pai cedo e sendo educado com grande dificuldade, até hoje não se sabe exatamente como conseguiu adquirir a cultura que seus primeiros biógrafos reiteradamente alegam ter-lhe pertencido. Seu progresso na Igreja foi muito rápido, a ponto de ser dispensado de formalidades e pré-requisitos, onde a ascendência de sangue escravo era um estorvo considerável para uma carreira eclesiástica e mesmo mundana bem sucedida naquela sociedade escravocrata e preconceituosa. Mais tarde foi indicado Pregador Régio da Capela Real, e o bispo seu superior declarou que ele era um dos mais ilustrados sacerdotes de sua diocese.

Antes do período cortesão suas composições se ressentem à escassez de recursos humanos e técnicos do ambiente que beiravam a uma verdadeira miséria técnica e humana; diversas peças suas traem a indisponibilidade de instrumentistas, forçando-o a “adotar” soluções fora da ortodoxia como acompanhamentos reduzidos ao órgão, ou às madeiras. Durante bom tempo as aulas de teoria e prática musical que ministrava tinham de ser realizadas apenas com a viola de arame, não podendo contar sequer com um cravo ou pianoforte. Entretanto, quando indicado a Mestre de Capela da corte teve acesso à importante biblioteca musical da Casa de Bragança que Dom João VI trouxe consigo, contribuindo para sua instrução geral, para uma maior variedade de gêneros musicais trabalhados e para o conhecimento da obra de grandes mestres europeus como Mozart e Haydn, que terão prufunda influencia em sua vida e obra, e doas quais me arisco em dizer que se aproximava em talento e missão. Os muitos músicos e cantores altamente qualificados contratados pelo rei em sua chegada, que formaram uma orquestra considerada por todos os conhecedores e os viajantes estrangeiros como uma das melhores do mundo em seu tempo, possibilitaram que aprofundasse sua técnica de instrumentação e escrita vocal.

Seu declínio se acentuou com a partida de Dom João e com o vazio que isso produziu na cena musical carioca. Seu sucessor Dom Pedro I, apesar de amante da música e simpático ao padre, não pôde manter a pensão do compositor, e ele teve de fechar sua escola. Um de seus filhos, escrevendo sobre o pai nesta fase de obscurecimento, fala de sua frustração, de um envelhecimento precoce e de doenças crônicas que perturbaram sua produção e paz de espírito.

A apreciação contemporânea o considera o maior compositor brasileiro de seu tempo, mas critica suas concessões aos modismos que não encontravam eco verdadeiro em sua natureza, e certa contenção excessiva em sua escrita, que nunca mostra rasgos mais audazes ou experimentalismos. Sua produção conhecida chega a cerca de 240 obras, muitas delas redescobertas ou restauradas em meados do século XX por Cleofe Person de Mattos, musicóloga que teve papel fundamental na revalorização da música do período colonial brasileiro.

***
Hoje em dia suas composições voltaram às salas de concertos e recitais em igrejas, já tendo diversas delas gravadas e publicadas... E dessas composições a que mais me encanta e a que escolhi para cpomentar rapidamente, por motivo de seu bicentenário é a A Missa Pastoril para a Noite de Natal (1811).

 Se parares um pouco para refletir, caro leitor, há certa utilização de um cantus-firmus, que confere às missas renascentistas uma forte e identificável unidade, construída, em certos trechos das composições, sob o princípio da imitação; e isso se verificará, inclusive nos séculos seguintes, nos séculos seguintes... Sobre um  ponto de vista diferente, a busca dessa unidade por compositores que empregaram o mesmo motivo, com ou sem variações, não terá o mesmo espírito imitativo, nem o mesmos traços do cantus-firmus, criando-se, assim, uma linguagem diferente e nova. Compositores como Galuppi, que no século XVIII escreveram missas com semelhante unidade cíclica, aplicaram-se em formações vocais e instrumentais reduzidas, cujas melodias eram, freqüentemente, retiradas de cânticos folclóricos e populares, chamaram-nas de missae rurales e missae pastoritae. A Missa Pastoril para a Noite de Natal (1811), do Pe. José Maurício não foge à regra, pois repete, mas numa linguagem um pouco mais diversa, meio século mais tarde, tal procedimento, num Rio de Janeiro colonial que acabara de imergir como sede do Império Português.

A primeira versão da Missa fora composta em 1808 apenas para vozes e órgão. O nível do conjunto instrumental, na época da criação da Real Capela certamente desestimulou D. João VI que chegara ao Brasil àquele ano. Posteriormente orquestrada (1811), a missa do Pe. José Maurício pode finalmente se dar ao propósito para a qual fora composta, bem como a quase toda à sua obra musical, que é o de acompanhar a liturgia natalina com o seu canto tranqüilo, de caráter pastoral, recolhido, mas sem se negar à obstinação.

Embora moderada, face às poucas possibilidades técnicas de sua época incluindo a de seus novos cantores, as dificuldades dos solos que permeiam a Missa Pastoril para a Noite de Natal (1811) não seriam trechos adequados aos velhos cantores que em 1808 transferiram-se da velha Catedral da Sé para a Real Capela. Com a necessária reserva, conclui-se então que a partitura autógrafa de sua Missa reúne elementos das duas versões: de um lado, as partes corais caracterizando a posição do compositor ante seus habituais interpretes – em sua maioria vozes infantis e falsetistas – que até 1808 formavam o quadro de músicos disponíveis na antiga Catedral, e, do outro, os solos destinados aos novos cantores da Capela Real, chegados ao Rio de Janeiro, em 1809, e dotados de vozes capazes de destacar a genialidade e o virtuosismo comum à escritura vocal do Pe. José Maurício Nunes Garcia.

A Missa Pastoril para a Noite de Natal (1811), ocupa posição singular entre as muitas obras do Pe. José Maurício Nunes Garcia, pelo caráter peculiar e por certos desvios dos padrões convencionais de composição, coisa que não escapa aos sentidos das demais obras do autor. Do ponto de vista de sua estrutura, a Missa Pastoril para a Noite de Natal (1811) ela até que se enquadra ao modus operandi de seu compositor: textos desdobrados, em partes solísticas sistematicamente, pela repetição freqüente dos mesmos textos. Todavia, quanto à contenção melódica, transforma-se com desdobramento com vários picos de brilho e virtuosismo. Seu caráter natalino, e um tanto que simplório, não lhe propiciará uma envergadura criativa comparável às grandes missas que o Pe. José Maurício comporá no futuro, mas lhe sobra em beleza o que lhe falta de sofisticação, às vezes... A economia extrema dos motivos empregados, bem como a repetição inflexível da mesma temática fez dessa Missa uma composição de certa pobreza técnica, mas “elaborada” no sentido de lhe conferir uma riqueza de outro tipo: ser uma composição da mais pura e verdadeira devoção ao Cristianismo e seu sentido.

Nessa estrutura marcada pela uniformidade a diversificação de elementos fica por conta dos solos, entre os quais destaco o Qui sedes, para soprano solista e três baixos concertantes, e o Et Incarnatus, para duo de sopranos clarinete e cordas: ambas representam e conservam muito bem os aspectos singelos, por assim dizer,  desta obra. Contrapondo-se à simplicidade vocal outro tipo de manifestação simplória e, ao mesmo tempo de particular beleza, é o motivo do clarinete – algo, particularmente, muito especial para mim – exposto desde o início da obra, e guiando-a muitas vezes daí então, como um leit-motif de graça e ingenuidade, que com o seu caráter pastoril, complementa com adequação o específico ambiente desta obra, como bem o quisera o Pe. José Maurício.

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Os links abaixo trazem breves exemplos – Viva à Internet – desta que é uma das obras mais significativas da cultura brasileira e que demonstram a grandiosidade de um gênio ainda um pouco esquecido... mas, indomável.







    

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

LANÇAMENTO "DICTA&CONTRADICTA" - Nº 8... TRÊS POEMAS DE SILVÉRIO DUQUE...






A Dicta&Contradicta é uma revista semestral lançada em 10 de junho de 2008 em São Paulo, pelo Instituto de Formação e Educação (IFE).

Reúne artigos e resenhas de intelectuais brasileiros e estrangeiros sobre os grandes temas da cultura ocidental: a ética, a filosofia, a literatura e as artes, sob uma perspectiva de longo prazo, desvinculada da política partidária e com uma vocação, na medida do possível, universal.

Com isso, a revista – com uma mentalidade acadêmica, mas sem academicismos – procura atender a uma demanda do mercado por textos de maior transcendência e profundidade.

A Dicta&Contradicta traz um editorial – que expressa a opinião do Instituto de Formação e Educação –, uma seção de artigos principais, uma seção destinada a textos traduzidos de autores estrangeiros, um perfil de um intelectual ou artista, uma seção de filosofia e uma de literatura.

Além disso, há uma seção destinada à análise de poemas, intitulada Anatomia do Poema, um poema e um conto inédito, além de artigos breves sobre música, artes plásticas e cinema. Livros, destina-se às resenhas de livros nacionais e estrangeiros, e O lançamento que não houve a uma obra importante ainda não lançada no Brasil ou carente de maior visibilidade.

A revista fecha com Gênesis, um texto clássico de domínio público ainda não traduzido no Brasil, e com uma seção de humor.

A revista tem, como colaboradores, nomes como o de Antonio Fernando Borges, Bruno Tolentino, Carlos Felipe Moisés, Dionísius Amêndola Valença, Érico Nogueira, Fernando Henrique Cardoso, Ivo Barroso, Jessé de Almeida Primo, Luiz Felipe Pondé, Marcelo Consentino, Marcelo Ferlin Assami, Maria Cecília L. Gomes dos Reis, Nelson Ascher, Olavo de Carvalho, Pedro Sette Câmara...

O lançamento do 8ª número de Dicta&Contradicta realizar-se-á na Mercearia São Pedro (R. Rodésia, 34, Vila Madalena, São Paulo) a ser realizada na noite de segunda-feira 12/12, das 19h30... até “a saída do último arroz de festa”.

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Segue o índice desta nova edição; aproveitem e dêem uma olhada na seção Poesia (rsrsrs):



ÍNDICE

O QUE HÁ DE NOVO NA IDADE MÉDIA?
Olivier Boulnois

DROGAS: A SÍNDROME DA MENTIRA
Anthony Daniels

ESPECULAÇÕES SOBRE ALEGORIA E SÍMBOLO
Henrique Elfes

PERFIL

KIERKEGAARD, O PENSADOR INCÔMODO
Álvaro L.M. Valls

FELIZ NOVA DIETA
Julio Lemos

FILOSOFIA

OS MECANISMOS DA MELANCOLIA
MartimVasquesda Cunha

LITERATURA, FICÇÃO E REALIDADE
Nicolau Rocha Cavalcanti

SOCIEDADE

SÍRIA EM TRANSE
Plínio Gomes

TEOLOGIA

VIAGEM RUMO AO MUNDO
Marcelo Consentino

LITERATURA

IMAGINAÇÃO, TEMOR E TREMORES
Rodrigo Duarte Garcia

AS FACES DO ATEÍSMO
EM OS IRMÃOS KARAMÁZOV
Renato José de Moraes

DAVID FOSTER WALLACE E THE PALE KING
Julio Lemos

TEATRO

TOM STOPPARD: TEATRO ACESSÍVEL
A VENDEDORAS COM CURSO SUPERIOR
Pedro Sette-Câmara

POEMAS

TRÊS POEMAS
Silvério Duque

POEMA TRADUZIDO

ALGUMA POESIA DE DURS GRÜNBEIN
Tradução de Érico Nogueira

GÊNESIS

PÓS-ESCRITO CONCLUSIVO NÃO CIENTÍFICO ÀS MIGALHAS FILOSÓFICAS
S. Kierkegaard

CONTO

EVOLUÇÕES
MoemaVilela

CONTO TRADUZIDO

2 B R O 2 B
Kurt Vonnegut, Jr.

MÚSICA

APRÈS UNE LECTURE DU DANTE
(FANTASIA QUASI SONATA): UMA VISÃO
MUSICAL DA MORTE
Alvaro Siviero

CINEMA

OS DÓLARES DE LEONE
Joel Pinheiroda Fonseca

ANATOMIA DO POEMA
Jessé de Almeida Primo

RESENHAS

OBRAS DE EMIL CIORAN
Rodrigo Gurgel

C., TOM MCCARTHY. LA CARTE ET LE TERRITOIRE
MICHEL HOUELLEBECQ
Vinícius Castro

BOURGEOIS DIGNITY, DEIRDRE MCCLOSKEY
Renato Lima

A CASA DA SABEDORIA, JONATHAN LYONS
Joel Pinheiro da Fonseca

THE CONSPIRATOR
Ricardo Gross

SONS OF ANARCHY
Lucas Mafaldo

DEUS, PÁTRIA E FAMÍLIA, B FACHADA
Nuno Costa Santos

O LANÇAMENTO QUE NÃO HOUVE

SHAME AND NECESSITY, BERNARD WILLIAMS
Eduardo Pohlmann

HUMOR

NOVO TOLICIONÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUESA
RuyGoiaba



quinta-feira, 24 de novembro de 2011

POEMA SOBRE OS SEIOS DA MULHER AMADA...



Femme assise dans un fauteuil de Pablo Picasso (1916), óleo sobre tela, 120cmX85; coleção particular.



Somente aqui eu deixarei meus versos
e os vestígios que o tempo traz à luz
gestos, carnes, desejos, rastros... eis
o meu poema inteiro de memórias

pois é chegado o tempo dos retornos
das coisas que colhi entre os escombros:
a ordem, a mesa posta, o arar do campo
as formas luminosas da existência

o vaso que se esconde em todo barro
este mover de tudo, o musgo, os muros
a terra, a sombra e o sopro em meio às cinzas...

Como quem redescobre antigas chagas
neste poema há todos os meus passos
e entre os teus braços mais que a minha vida.



quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A OFICINA DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA (OCA) REALIZA EXPOSIÇÃO NO CENTRO DE CULTURA AMÉLIO AMORIM, EM FEIRA DE SANTANA...






A direção do Centro Universitário de Cultura e Arte de Feira de Santana (CUCA) informa que amanhã, dia 24 de novembro, acontecerá a abertura da Exposição 2011, promovida pela OCA – Oficina de Criação Artística – como resultado de suas oficinas, com apresentação de um catálogo, resultado da seleção das melhores obras elaboradas pelos seus alunos durante o segundo semestre deste ano.

A publicação da seleção denominada Prêmio Catálogo e que contou com a colaboração dos artistas Nanja, Márcio Junqueira e Silvio Portugal na seleção dos trabalhos, apresenta os alunos premiados e atribui menção honrosa àqueles que se destacaram. Além da publicação, será oferecida uma bolsa de estudos em qualquer das oficinas da OCA (Cerâmica, Fotografia, Produção em Vídeo, e Arte para Criança).

A exposição estará à disposição do público até o dia 15 de dezembro, no Foyer do Centro de Cultura Amélio Amorim.


sexta-feira, 18 de novembro de 2011

HENRIQUE WAGNER EM ENTREVISTA CONCEDIDA A HILTON VALERIANO PARA O BLOG “POESIA DIVERSA”, EM 18 DE NOVEMBRO DE 2011:



Henrique Wagner é baiano de Salvador, onde reside. Nascido no dia 16 de maio de 1977, é poeta, contista, ensaísta e crítico de cinema. Colaborou com os jornais A TARDE, Correio Brasiliense, Rascunho, entre outros. Publicou os livros de poemas O grande pássaro e As horas do mundo, e o livro de ensaio A linguagem como estética do pensamento.








Vivemos em tempos difíceis, inclusive para a literatura, por quenão!?; e, cada dia que passa, o mundo todo parece ignorar cada vez mais as razões para se viver e apenas aceitam uma vida de pretextos, esquecendo-se de que a civilização é, antes de tudo, "vontade de convivência"... como diria o bom e velho Ortega y Gasset. Em épocas como esta, de agitação conturbada e contrastante – barroquismo de niilistas –, o dever de um intelectual seria qual? Manter-se calado, sem dúvidas. Nessas ocasiões, saiba, é melhor calar-se, mesmo tendo algo a dizer; seria preciso mentir, com certeza; mas o intelectual não tem esse direito. O intelectual não pode mentir. Daí o seu dever, a sua missão... e o poeta e crítico literário, Henrique Wagner cumpre-a com alegria e afinco, como podemos ver nesta incisiva entrevista que ele concede a Hilton Valeriano.


Silvério duque


1) Como ocorreu seu contato inicial com a poesia?

Resposta: Creio que esse contato inicial com a poesia se deu mais cedo do que imaginei, por muito tempo, ao longo de minha vida, e por um caminho aparentemente sem muita relação com a arte das palavras. Deu-se pelo silêncio. É que sempre fui um garoto extremamente tímido, do tipo que filava os dias e as aulas, e freqüentava a vida apenas nas tardes de quarta ou quinta-feira, quando me isolava na laje da imensa casa de meus pais, para desenhar histórias em quadrinhos. Depois do silêncio veio a letra de música traduzida. Eu era assinante da revista Bizz, e vivia lendo as letras enquanto ouvia as bandas mais famosas do rock and roll americano. Tanto que meu primeiro “poema” parece a letra traduzida de uma canção americana, e eu até uso palavras do tipo “baby”, “garota”, e frases descritivas, cruas, tipicamente americanas. Eu tinha mais ou menos treze anos de idade, à época. Com o fim do meu primeiro namoro sério, escrevi, quase convulso, um texto desesperado, diretamente na máquina de datilografar – uma Remington portátil –, apinhado de erros de digitação que davam ao “poema” a aparência de um poema tipográfico mallarmeniano. Seguiu-se a essa experiência um longo feriado lírico, no qual vivi tormentas de toda ordem e muitos namoros, uma vida intensa ao lado de mulheres fortes que me ensinaram muito sobre poesia, na medida em que a mulher é de uma profundidade equivalente à mãe das artes. Retomei a poesia em forma de poemas aos dezoito ou dezenove anos, depois de sentir o desejo de ler poemas e não mais as letras traduzidas citadas acima. O que mais pode influenciar um poeta é outro poeta, e não a vida, como gostam alguns. E não afirmo que se trata de escrever imitando alguém, mas de fazer uso de uma mimese pouco aristotélica, pouco grega, que diz mais sobre o poder que tem a arte de incitar a arte, como uma espécie de parceria ou relação amistosa entre gêmeos. Um bom poeta é um digest, e certamente fez uso de outro poeta e outras leituras para a composição de sua obra, de modo a transmitir sua mensagem, séculos a fio, usando seu ethos transusbstanciado, um misto de natureza e cultura, vida e livros.


2) Como você vê a cena poética atual no Brasil?

Resposta: Quase não vejo, porque tenho me ocupado mais com prosa e dramaturgia, há alguns anos. E porque, também, quando leio poesia, ultimamente, busco um lugar seguro, leio os poetas que gosto ou que sei fazerem parte de uma linhagem que participa de minha orientação literária. Acresce ainda o fato de que jamais houve tanta poesia exposta no mundo, em função da internet, com seus tantos blogs repletos de poemas – em geral bilhetes suicidas e cartas de amor. De todo modo, preciso dizer que a poesia brasileira, a partir do pouco que li de poetas contemporâneos, vai muito mal. Vive-se ainda o restolho da poesia concreta, que, se já não era lá grande coisa, imagina em seus resíduos. Por outro lado, há aqueles que insistem em fazer poesia regional nordestina, tentando a sorte de um Cabral de Melo Neto. Há ainda a turma que anda fazendo uma poesia mais formal, numa retomada à geração de 45. E por fim, há a poesia “fácil” de uma turma sempre justificada por seu lirismo – nessa turma se encaixa perfeitamente o caso do poeta baiano Ruy Espinheira Filho, com sua mania de lembrança e seus poemas mornos, sem qualquer “susto” ou arrebatamento. Dos autores vivos mais velhos gosto muito de Alberto da Costa e Silva, Ledo Ivo – sempre esquecido por quem gosta de fazer afirmações bombásticas do tipo “o maior poeta vivo do Brasil, e sempre esbarram em Ferreira Gullar e Manoel de Barros; Ledo Vivo, ousaria o trocadilho, pedindo desculpas pelo fácil expediente –, Paulo Bomfim e o não tão velho Nelson Ascher. Gostaria de poder citar o Bruno Tolentino, encaixá-lo no time dos grandes poetas vivos brasileiros. Infelizmente, o secularismo não me permite tamanha metafísica. Pensando nos mais jovens, gosto do Alexei Bueno, algumas coisas do Ivan Junqueira, mais conhecido por seus ensaios e traduções do francês, e Rodrigo Petrônio, vencedor de alguns prêmios de poesia respeitados, autor de poemas com um elevado senso de forma e consideração pelo conteúdo. Recentemente o amigo Raimundo Bernardes, poeta, ensaísta e tradutor baiano, me apresentou a dois poetas interessantíssimos: Érico Nogueira e Marcos Catalão. Ainda estou em fase de leitura da obra desses dois nomes. Mas já é possível perceber que são talentosos e originais, pelo que li até o momento. Infelizmente, depois de toda uma tradição de bons poetas, a Bahia de Gregório, Castro Alves, Junqueira Freire, Arthur de Salles, Sosígenes Costa, dentre outros, vem produzindo poesia de péssima qualidade. Aposto, atualmente, na poesia séria, consistente e sem firulas do Silvério Duque, com seus sonetos maduros quanto aos temas escolhidos e quanto à reserva feita a fórmulas fáceis. Há o que se trabalhar, ainda, mas penso que Silvério vem construindo uma poesia que nos prepara para uma grande obra, mais cedo ou mais tarde. E há a poeta Fabrícia Miranda, que faz uma poesia com profundo conhecimento do idioma e da complexidade da condição humana, escrevendo poemas marcados pela excelência em conduzir o leitor, por meios os mais sofisticados, ao cerne das grandes questões humanas, sempre com uma linguagem muito elegante, refinadíssima. Seus poemas inéditos, alguns postados em seu blog, são impactantes pelos temas e pelo trato dado aos temas. Quero ainda voltar ao amigo Raimundo Bernardes. Esse jovem poeta e intelectual está por trás da produção poética de quase todos os jovens poetas com alguma qualidade, na Bahia e fora da Bahia. Ele vem funcionando como um mentor para diversos autores, que, de forma ingrata, não dão os devidos créditos. Sempre que houver um poeta baiano escrevendo bem, acredite, há a mão de Raimundo Bernardes na construção do pensamento e da poética desse autor. Raimundo é muito generoso com os iniciantes, e trabalha na coxia, sem alardes. Mas é preciso lembrar que Raimundo não é milagreiro: ele faz o que pode, e pode muito, e se a poesia baiana vai mal, provavelmente é porque não tem a disciplina necessária para ser um epígono do amigo supracitado. Em tempos de preguiça, decorrente das facilidades e da pouca leitura invectivadas pelo mundo virtual, não há qualquer surpresa quanto a isso.


3) Como você vê a relação entre tradição poética e movimentos de vanguarda? É possível o diálogo entre a tradição e as vanguardas, ou uma poesia de invenção deve ser necessariamente uma poesia de ruptura?

Resposta: O diálogo é feito de perguntas e respostas, não? Pois bem, a vanguarda é a pergunta. Destarte, digo que o diálogo entre a tradição e as vanguardas não só é possível como existente, desde a Antologia Grega e as sátiras de Horácio. Uma poesia de invenção é, antes de qualquer coisa, uma poesia de qualidade. Com ou sem ruptura. Não vejo qualquer problema em inventar a roda, desde que se faça alguma contribuição à evolução da roda. É possível torná-la menos circular, por exemplo. O Borges poeta é um grande exemplo de autor entre a tradição e a vanguarda, que “deu certo”. Mas que vanguarda? Aquela que ousa inovar dentro da tradição. Isso, para mim, é mais louvável – e mais difícil, embora a dificuldade não seja um critério válido para mim – que um poema visual, que atesta a insuficiência da palavra escrita, por imperícia do poeta visual, não da poesia. Borges descobriu um modo de fazer poesia original porque investiu no passado, aumentando-o para os tempos modernos. Borges voltou à origem, e parece ter começado tudo de novo a fim de construir sua teogonia e sua odisséia. E o resultado é uma poesia de Borges, mais ninguém.


4) Parece existir um preconceito proporcionado por posturas pseudo-vanguardistas em relação à poesia que se pratica no Nordeste, sobretudo no eixo Sudeste-Sul. Muitos poetas de grande talento são totalmente ou propositalmente ignorados em outras regiões do país. Estaríamos diante de uma espécie de monopólio cultural (revistas, jornais, editoras, prêmios literários) cuja principal característica seria a recusa de qualquer poesia com os pés na tradição, ou seja, a aceitação de uma poesia que somente apresentasse um viés “inovador”?

Resposta: Não gosto muito de reclamar leitores. Há muito o que fazer na vida. Ler poesia é apenas uma das atividades humanas, e não acho que seja a mais prazerosa, aliás. O Nordeste já deu muita literatura – e muita arte, de um modo geral –, e acredito que está cansado, esgotou-se, assim como os leitores cansaram de tanta produção nordestina. Os grandes poetas ignorados pelo eixo Sudeste-Sul são verdadeiras lendas em suas aldeias. E uma aldeia fica. Muito mais que um exemplar da revista Cult. O monopólio cultural não existe apenas no eixo Sudeste-Sul. Existe no Nordeste também, que recusa a poesia “moderninha” dos filhos de Leminski e netos de Oswald de Andrade. Infelizmente o Nordeste não tem a força midiática que o eixo já citado aqui, tem. Mas isso não é resultado de uma política literária, mas de uma política “agrária” que envolve questões muito mais urgentes que literatura.


5) Como você vê a importância dos movimentos Modernista de 22, e do Concretismo para o desenvolvimento da poesia brasileira?

Resposta: Para mim foram movimentos de suma importância para tornar clara a supremacia, quanto à qualidade literária, da literatura feita depois desses dois movimentos. Todo modernismo tem, como obrigação, ser relativista, ainda que pareça, sempre, intolerante, radical etc. O relativismo se dá porque, enquanto o modernismo acontece, milhões de voltas ao mundo em 80 dias vão acontecendo. A necessidade de criar um manifesto, um panfleto, é tão grande, que esquecem de fazer arte, e uma arte que ponha em prática a teoria, que seja fiel às idéias propaladas muito mais por vontade de entrar para a história como inventor de uma tendência do que para criar, de fato, uma ruptura necessária. Aliás, alguns autores apontam para a infidelidade de Oswald de Andrade em relação a suas idéias, seus manifestos, seus panfletos. Dentre esses autores estão dois poetas respeitáveis: Ferreira Gullar e o extinto Bruno Tolentino. Em suma, esses movimentos foram importantes para o desenvolvimento da poesia brasileira porque mostraram algumas ruas inóspitas e becos sem saída. Mostraram ao autor brasileiro o que não se deve cultivar, por falta de consistência dos objetivos e das supostas teorias. A poesia brasileira, depois desses movimentos, voltou a estacar impávida.


6) O crítico literário Antonio Candido afirmou que todo país possuiria um representante máximo de sua literatura, um escritor que encarnasse a identidade cultural de seu país, sobretudo no âmbito da linguagem, e citou como exemplos nomes como Cervantes na Espanha, Goethe na Alemanha, Dante na Itália, Borges na Argentina, Camões em Portugal. O mesmo crítico afirmou que o Brasil não possuiria essa figura máxima em sua literatura. Talvez dois nomes: Guimarães Rosa e Machado de Assis. Qual a sua opinião sobre essa questão? O que pensar de um nome como o padre Antonio Vieira?

Resposta: Antonio Candido precisa lembrar, e não é tarde ainda, que o Brasil tem apenas 500 anos de zumbi. Não há tradição com quinhentos anos de vida, se pensarmos no hinduísmo, por exemplo, e ainda no velho continente, a Europa, que é uma invenção dos gregos, aliás. O poeta Hesíodo foi o primeiro a empregar esse nome, e o célebre Heródoto, o “pai da História”, no século V a.C., escreveu: “Quanto à Europa, parece que não se sabe de onde veio seu nome e nem quem o deu”. Sabe-se ainda um pouco da lenda: uma princesa chamada Europa, filha do rei Agenor, é raptada por um touro gentil, mas voluntarioso. Ele a levou para uma grande ilha grega, Creta. O touro uniu-se à princesa, tornando-a “mãe de nobres filhos”. Mas há o exemplo de Borges na Argentina, usado pelo famoso crítico literário e sociólogo brasileiro. Acontece que a Argentina é uma Nova Europa, assim como houve e há a Nova Inglaterra nos Estados Unidos da Hawthorne, com a sua letra escarlate. Acredito em Machado de Assis, sem qualquer hesitação, como figura máxima da literatura feita no Brasil até o momento. Mas outros virão, embora os prognósticos não sejam favoráveis. Quanto ao padre Antonio Vieira, há que pensar em seus lusitanismos – afastando-o, portanto, do posto de representante máximo brasileiro –, e na imensa parte de sua obra voltada para uma função social, porquanto religiosa em terra de índios, que diminui consideravelmente o valor artístico necessário a todo autor que se queira representante de uma literatura, em qualquer país.