sábado, 27 de junho de 2009

UMA HOMENAGEM A BRUNO TOLENTINO...


O poeta Bruno Tolentino (1940-2007)
A BALADA DA MEDUSA
de um Trompe L’œil à Tolentino
sob a forma de um possível soneto inglês




ao Jessé de Almeida Primo.


Nosso amor, como tudo neste mundo,
é um risco, um faz-de-conta... uma impressão
sem sentido, uma tola profusão
do imperfeito e do imprevisto, do fundo
escuro e sem sentido do desejo.
Nossa dor como tudo nesta vida
é um desespero – pedra confundida
com a ânsia alucinada do teu beijo – ,
uma alucinação – olhar desfeito
ante à sombra, à luz, à escuridão –
e tantos mais contrários desta união
do feito, do perfeito e do refeito:
e, assim, se somam tudo quanto é triste
sem saber qual de nós menos existe.

Improvisado após a leitura de A Balada do Cárcere de Bruno Tolentino.Feira de Santana, 12 de julho de 2004.

OUTRA TRADUÇÃO DE SHAKESPEARE...


Geni de Gabriel Ferreira (acrílico sobre tela - 70x70 - 2007), coleção particular.
Teu verão eterno...

Devo igualar-te aos termos do verão,
lindos e afáveis como teu semblante?
O vento, que desfaz cada Estação,
igual a tudo, dura um breve instante.
Tudo que é Belo, à luz do olhar, fascina,
porém, se o que era luz perde a clareza,
de seu belo, a Beleza, enfim, declina
por si ou pela ação da Natureza.
Só teu verão eterno então perdura,
com seu mais terno e mais profundo intento;
a impor-te a sombra, a Morte só murmura,
porque esta estrofe a de se opor ao Tempo,

e, enquanto houver viventes nesta Lida,
há de existir meu verso a dar-te vida.




A FUNDAÇÃO CASA DE JORGE AMADO, COVIDA...



Segunda-feira, 29/06, o escritor italiano Giovanni Ricciardi lançará o volume 6 da coleção Biografia e Criação Literária, a partir das 18h, na Fundação Casa de Jorge Amado, Pelourinho.



Compareçam!

quarta-feira, 17 de junho de 2009

UMA FONTE À CRUZ E SOUZA...


O poeta Cruz e Sousa (1861-1898)

UMA FONTE À CRUZ E SOUZA



No lago, as águas cristalinas dormem
a espelhar todo um céu emoldurado;
é o próprio céu na terra embalsamado
numa aparente quão sutil desordem.

No ocaso, a luz do sol, na lagoa, escorre;
e Eu sempre vejo as sombras afrontando
essa Paz que me faz viver sonhando,
mesmo que o sol mais abrasado jorre.

É verde a margem, deleitável e erma,
qual minha alma extasiada e enferma
a roçar sobre o espelho destas águas.

É uma mulher de enrubescidas faces,
que, sussurrando, é como se lavasse
as minhas tristes e profundas mágoas.




terça-feira, 16 de junho de 2009

UMA TRADUÇÃO DE SHAKESPEARE


As três idades do homem e a morte de Hans Baudung

AS IDADES DO HOMEM

à Fernanda Oliveira





Quando a hora move míseros instantes,
em noite horrenda se desfaz o dia,
na angústia, se converte meu semblante,
à foice, a rosa entrega sua alegria;
já sem folhas eu vejo o torso altíssimo,
que outrora era conforto ao manso gado,
e ir-se, em funéreo passo – e em pêlo alvíssimo –,
o que era verde estio, então, ceifado;
ponho-me a perguntar por tua beleza,
consumindo-se toda em vil renova,
como há de ser a toda Natureza,
e a todo ser vivente... dura prova;

fora a prole, a assistir teu passamento,
nada te salvará da mão do Tempo.







segunda-feira, 15 de junho de 2009

DVD: O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON








Com o lançamento, nesta semana, em DVD, do filme, O curioso caso de Benjamin Button (The Curious Case of Benjamin Button) do aclamado diretor David Fincher, com Brad Pitt, Cate Blanchett, Kimberly Scott, Jason Flemyng, Taraji Henson, Elle Fanning, Mahershalalhashbaz Ali e Emma Degerstedt, produzido numa parceria dos estúdios Warner e Paramount, com a consagrada direção de David Fincher, faz-se necessário “redizer” muitas das coisas que já tive o prazer de falar aqui mesmo quando o assisti no cinema: O curioso caso de Benjamin Button é um daqueles filmes onde uma velha máxima se faz surpreendentemente verdadeira: "O Cinema é mágico". Não importa se nascemos jovens e morramos velhos, ou se fosse ao contrário, como é a existência singular do personagem que nomeia este conto de Scott Fitzgerald, de onde o filme é baseado; não podemos nos furtar daquilo que a vida nos oferece, nem daquilo que ela é. Molharemos as calças, sentiremos medo, ficaremos curiosos, teremos prazer, dor, dúvida, e, no fim, esquecidos ou não, teremos que aceitar, de uma forma ou de outra. Não podemos nos furtar ao tempo e de como, nele, a vida se conduz única para qualquer um de nós. Isto que estou a dizer até poderia soar tenebroso, mas em nenhum momento do filme isto é mostrado desta maneira – e eu duvido que alguém tenha se sentido assim, mesmo naquela que, para mim, é uma das mais "barrocas" cenas já construídas pelo cinema, que é a da morte de Benjamin (ops!, contei o que não devia), nos braços de sua amada Queenie, ele, inconsciente, por sua condição, finalmente, de recém-nascido ao inverso, e, ela, envelhecida, no mais profundo sentido da palavra; desta forma, onde, à primeira vista, deveria haver uma cena de amor trivial entre avó e neto, revela-se uma das mais angustiantes representações da morte que o cinema poderia proporcionar. Além do mais, não tive, como em todo bom filme, que ficar indiferente a tudo que me era ali mostrado, principalmente na história de um homem que rejuvenesce em um século que também parece ficar mais jovem – um século que começou com a primeira guerra mundial (uma tragédia proporcionada pelo homem) e parece terminar com uma tragédia natural que o homem fez questão de tornar mais horrenda – à medida que se aproxima de seu término; como me foi impossível ficar indiferente à minha própria vida, a qual eu mesmo fui levado a rever, ao assistir este filme. O Curioso caso de Benjamin Button me deu algumas das 3h15 mais prazerosas de minha vida.

UMA INDICAÇÃO TÃO TARDIA, QUANTO MERECIDA E NECESSÁRIA...


O poeta Antônio Brasileiro (1944 - )


Ciclistas, óleo de Antônio Brasileiro Borges



O poeta Antônio Brasileiro Borges foi eleito, na última segunda-feira, por unanimidade, para ocupar a cadeira de nº 21, que pertenceu a Jorge Amado e, por conseqüência de pensão-alimentícia, à Zélia Gattai, na Academia de Letras da Bahia (ALB), tornando-se o primeiro imortal, desta Instituição, não nascido nem radicado em Salvador. Doutor em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais, e professor de Teoria da Literatura na Universidade Estadual de Feira de Santana, o grande fundador, e, certamente, o melhor representante do grupo Hera, que tem mais de 25 títulos publicados entre poesias, ensaios, romances e contos, mas nunca fora agraciado com uma publicação por uma grande editora – uma injustiça que, eu espero, solucione-se em breve –, entre os quais A estética da sinceridade & outros ensaios (Imprensa Universitária da UEFS, 2000), Antologia Poética (Fundação Casa de Jorge Amado/Copene, 1996) e Dedal de areia, que venceu a edição de 2004 do Prêmio Durval de Morais, da ALB, é, sem dúvidas, uma escolha acertada em todos os pontos pelos membros da ABL e que lhe dá diversidade e qualidade... A indicação de Antônio Brasileiro para tal instituição pode até ser tardia, mas merecidamente necessária.

Eis um dos melhores exemplos da poesia de Antônio Brasileiro:




QUE DEUS GUARDE MEU PAI...



Não passar. Ficar para semente.

Não era isto que meu pai queria?
Sentava-se na rede e adormecia
julgando ter domado a dama ausente.

E sonhava talvez. Talvez menino
montando burros bravos, nu, ao vento;
um homem é a sua ação sobre o destino.

Meu pai então fazia um movimento
e a rede, a adormecer, estremecia:
pequenos sustos no tempo, era só isto.

E escancarava os olhos duramente
para mostrar que se Ela o procurava
era de cara a cara que a encarava.

Que Deus guarde meu pai. Eternamente.



Poema extraído de Poemas Reunidos, de Antonio Brasileiro, poeta brasileiro radicado em Feira de Santana. O livro foi editado pelo Selo Letras da Bahia, em 2005.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

IMPERDÍVEL... NOVA EXPOSIÇÃO DE GABRIEL FERREIRA NO MAC (MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA DE FEIRA DE SANTANA) DE 05 DE MAIO A 07 DE JUNHO DE 2009






EXPOSIÇÃO DESENHO DE POESIA 2009

Gabriel Ferreira é natural de Tanquinho-BA, artista plástico e desenhista, músico percussionista, professor do IMAQ (Ponto de Cultura) e graduado em economia/UEFS.

Exposições desde 1994 no Tríduo Cultural de Tanquinho; exposições individuais no Museu de Arte Contemporânea-MAC, Pouso da Palavra em Cachoeira, CUCA e UEFS; exposições coletivas no CUCA, Museu Regional de Artes-MRA e MAC em Feira de Santana; Salões de Artes da Funceb em Feira e Itabuna, Salão do MAN em Salvador-BA, Bienal do Recôncavo, Bienal da UNE. Conta também com premiação em Salão de Arte; publicação de ilustrações em livros, revistas e jornais. Desenvolvimento de oficinas de xilogravura e artes plásticas no Projeto Recriando e Criando Lendas e Mitos na região do sisal.



EXPOSIÇÃO DESENHO DE POESIA 2009 - NO MAC (05 DE MAIO A 07 DE JUNHO DE 2009)

A temática intitulada Desenho De Poesia faz a “ponte” pintada entre literatura e tela do artista. A poesia, a letra de música, o conto, a prosa e o palavreado desenham muita imaginação e instigam o desejo pela mistura de cores e traços, o que se configura em nova ação de interpretar a obra e recriá-la em linguagem visual.

A edição de 2009 faz um passeio pela letra da música, com uma atenção especial a um fragmento da obra do Pixinguinha: umas “pixingas” (como diria Larissa Lelis) sobre tela, umas vontades soltas.

São ilustrações figurativas, fragmentadas, esfaceladas. Tudo para parecer feito à mão e sem compromisso com as coisas tortas existentes.