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segunda-feira, 25 de março de 2013

A "POESIA SELETA" DE ADELMO OLIVEIRA


Título: Poesia seleta de Adelmo Oliveira
Autor: Adelmo Oliveira
Editora: Mondrongo Livros
ISBN
9788565170161
Valor: R$ 20,00




Um capítulo à parte é o soneto adelmiano, inscrito numa tradição do soneto peninsular e do soneto brasileiro. Lá estão Camões, Gôngora, Quevedo, Gregório, Bilac, Cruz e Souza, Jorge de Lima Vinícius, sete oitabos da poesia ibero-brasileira abaixo da superfície, e a ponta deste iceberg é Adelmo Oliveira, conglomerado intertextual que rachará, sem dúvida, a cabeça titânica do leitor incauto. Os amantes da poesia agora têm à disposição o sumo, ou seja, o melhor de um dos melhores poetas brasileiros. Saiu publicado pela Mondrongo a Poesia Seleta de Adelmo Oliveira, com seleção de Gustavo Felicíssimo e estudo crítico de Jorge de Souza Araújo. A obra está disponível para aquisição, bastando CLICAR AQUI:






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“Humanista em tempo integral, Adelmo Oliveira é o “andarilho do vento” que paga pesado tributo ao gesto de viver emparelhado com os 300, 350 da multidão que Mário de Andrade anunciou dispersa e quase nunca reunida. Permanecendo na saga de um existir peado de circunstâncias de solidária conformação à dor de muitos, ainda nos sonetos brilha tanto a estrela maior de Adelmo que só conseguimos ombreá-lo a outros seus comparsas, exímios sonetistas malungos: o pernambucano Carlos Pena Filho, o maranhense Nauro Machado, o capixaba Geir Campos, o outro baiano Florisvaldo Mattos, o que se confirma em exemplaridades como em Morte dos dias. Petrarqueano, no Soneto de um delírio, Adelmo Oliveira conclui ser impossível poder escapar à vertigem de onipotência do sentimento amoroso, reconhecendo, logo após abrir sua particular caixa de pandora das feridas do mundo pelo avesso e erigir um “mar de gesso”, em franca capitulação: “Tocado de corrente magnética/ Liguei o fio da vida na matéria (...) Prendi a alma nas cordas da Paixão””.

Jorge de Souza Araújo




“Adelmo Oliveira, poeta, decididamente poeta, firmemente plantado em seu passado cultural, passando do bastão que lhe passaram seus arquétipos, seus ancestrais, seus pais, irmãos e filhos. O caminho para trás é o mesmo caminho para frente, diria Heráclito se estivesse vivo. E será que ele não está? Nosso poeta executa com inspiração, transpiração, informação e maestria a única possibilidade de inovar neste final de século e na década do terceiro milênio – o passo à frente Calçado pela retaguarda com o olho na vanguarda, mesmo porque quem não olha para adiante, fica atrás.

Culto, lido, experimentado, calejado, sofrido, maltratado pela maldade dos homens e pela Moira – esta deusa impiedosa -, sazonado pela dor física da tortura, pela dor mental infligida pela ignorância, pelos punhais gelados da suprema dor de ver-se morrer em seu projeto narcísico do futuro, Adelmo Oliveira não deu a isso tudo o troco turvo da amargura. Deu ao mundo, como flor, a dor filtrada dos seus versos, e como todo poeta – que só é grande se sofrer, como disse outro – Adelmo se fez grande pelo sofrimento da vida vertido no sofrimento da linguagem para atingir o único paraíso palpével – o Éden da poesia, onde a Queda se resolve em Ritmo, onde o Pecado se resolve em beleza.

Um capítulo à parte é o soneto adelmiano, inscrito numa tradição do soneto peninsular e do soneto brasileiro. Lá estão Camões, Gôngora, Quevedo, Gregório, Bilac, Cruz e Souza, Jorge de Lima Vinícius, sete oitabos da poesia ibero-brasileira abaixo da superfície, e a ponta deste iceberg é Adelmo Oliveira, conglomerado intertextual que rachará, sem dúvida, a cabeça titânica do leitor incauto. Ao soneto, como de resto a toda a sua poesia, o poeta traz sua erudição, sua sensibilidade enraizada na Tradição, e dela renovadora, e sua capacidade de transubstanciar a vida em verso e de fazê-lo com elegância, em momentos nos quais atinge o difícil rincão do inefável”.

Ildásio Tavares








SONETO DA ÚLTIMA ESTAÇÃO
(MITOLOGIA MARINHA)

por Adelmo Oliveira




Esta que vem do mar por entre os ventos,
sacudindo as espumas dos cabelos,
vem molhada de azul nos pensamentos,
seu corpo oculta a ilha dos segredos.

Vem e dança ao andar sobre as areias
úmidas sob os passos e os desejos,
onde as ancas são ondas em cadeias
infinitas de luz contra os espelhos.

Nem precisa de flor nem de perfume,
ela é a própria essência do ciúme,
feita de mito e se fazendo estrela.

Vem – dança – e passa aos fogos do verão
– fantasia da última estação.
explodiu na vertigem da beleza.




quarta-feira, 14 de setembro de 2011

IMPERDÍVEL: MEU LIVRO "A PELE DE ESAÚ" POR APENAS R$ 15,00... VEJA COMO ADQUIRIR...


Editora: Via Litterarum
Autor: Silvério Duque
Apresentação: Ildásio Tavares
Posfácio: Gustavo Felicíssimo
Ilustração: Gabriel Ferreira
Ano: 2010
Páginas: 72 il.
Formato: 15,5x21cm
ISBN: 978-85-98493-66-4

Preço: Apenas R$ 15,00
Como adquirir: http://www.quiosquecultural.com.br.

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A ESCRITURA DE SILVÉRIO DUQUE



por Ildásio Tavares






Um dos momentos cruciais da formação do povo de Israel é quando Jacó assume a pole position, num golpe de mestre que começa com Esaú ven­dendo-lhe a primogenitura por um prato de lenti­lhas. Este factóide diz – de pronto – alguma coisa do temperamento e personalidade de ambos. Do ime­diatismo e gula de Esaú, da sagacidade de Jacó. Mais tarde, esta cessão da primogenitura tem que ser rati­ficada pelo pai de ambos, Isaac, que teria de dar sua benção. Aí, Jacó se vale de outro estratagema. Como Isaac estivesse meio cego, Jacó seria apalpado. Esaú era muito peludo e então, Jacó se veste com a pele de um animal e assim consegue se fazer passar pelo irmão que lhe tinha concedido seus direitos.

Ao nomear este belo livro de sonetos finamente escandidos de A Pele de Esaú, quero crer que Silvério Duque tivesse se inspirado neste episódio, ainda mais que coloca a epígrafe da passagem em que o Senhor adverte Esaú, que começava a querer-se rebelar, mas que finda por se afastar e criar seu próprio povo longe das doze tribos de Jacó que viriam a formar o rei­no de Israel. Esaú tinha sido tolo, contudo, era forte e também contava com as bênçãos de Deus. Vinha de uma linhagem cuidadosamente selecionada de Abraão e Sara, para Rebeca e Isaac e que desaguaria nos 12 filhos que Jacó teria com Zilpah, Bilhah, Lia e Raquel, formando o povo eleito, o povo de Israel, até hoje vivo.

Neste meridiano da perda e da rejeição, na figura de um Esaú destituído de seu destino, Silvério elabo­ra uma intricada associação de sentimento e pensa­mento, buscando a verticalidade de personagens que se multiplicam porque se querem fundir em um só. Afinal, o drama de degredo e aparte que sofre Esaú é de todo ser humano, anjo caído, que, um dia, se afas­tou da presença de Deus. E toda odisseia que Esaú tem que executar na busca de si mesmo pode-se con­figurar em seus aspectos trágicos e cada poema deste livro, pois, discorre sobre um jaez da personalidade humana com este suporte analógico, na verdade.

Mais do que o simples discorrer lírico, em que o poeta se exprime de dentro pra fora, este livro encar­na um processo dialógico e dialético em que o poeta entra e sai no personagem e extrai daí o seu signifi­cado, num trâmite de intersubjetividade. Esta atitude reforça os aspectos dramáticos do poema e, ao dar voz aos personagens, torna o contexto mais efetivo. Destarte se estabelece um fio condutor que vem con­ferir unidade ao texto. Aliás, o livro todo é muito bem organizado, com um exato rigor de expressão e de ordenação, todo ele muito coeso, em suas partes, em suas divisões, o que consiste, em verdade, uma corte­sia para com o leitor.

Do ponto de vista formal, o livro é impecável. Depois dos primeiros originais, eu recebi mais duas emendas do autor, provando que há um critério e dis­ciplina no sentido do apuro textual, algo que conside­ro fundamental.

Tenho visto inúmeros textos de aspirantes a poe­tas que não se dão conta que a poesia é a mais perfeita das artes. Apresentam-me, na verdade, um rascunho. Mesmo alguns poetas ditos consagrados mostram--me textos sintaticamente imperfeitos e inçados de cacofonias – poesia é a redação mais elevada. Silvério sabe disto e passa a limpo várias vezes seu texto. Res­peita e venera a redação de sua poesia. Por isso pode pôr conflitos no papel com efetividade...

Por isso é poeta.

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Que sabes tu dos frutos, das sementes,
da dureza das flores contra o vento?
A aurora vem tragar a noite espessa
de onde brotou, sem dores, o teu grito.

Se a afirmação do amor nos aborrece,
morrer é mera vocação dos vivos,
pois, no morrer de tudo, há um recomeço.
Não queiras mal ao tempo ou ao espanto;

não queiras mal ao grão, à terra escura...
Que sabes tu das trevas ou da carne?
Que sabes tu das noites, dos princípios?

Hoje, é chegado o tempo dos retornos,
e toda forma espera o seu ofício
como o vaso existente em todo barro.



sexta-feira, 5 de novembro de 2010

TRÊS VEZES ILDÁSIO TAVARES: POR GUSTAVO FELICÍSSIMO, JOÃO UBALDO RIBEIRO E POR ELE MESMO...


Ildásio Tavares (Gongogi, 25 de Janeiro de 1940 - Salvador, 31 de Outubro de 2010)


ILDÁSIO TAVARES: EXISTÊNCIA CONSAGRADA À POESIA



por Gustavo Felicíssimo








É impossível ater-se à história da literatura baiana no Século XX sem se dedicar demoradamente a Ildásio Tavares. É tão vasta a sua obra, sua formação e suas incursões literárias que seria inviável e extravagante, no curto espaço que temos, discorrer sobre essa questão.




Mas vale lembrar que aos nove anos de idade Ildásio já tinha lido toda a obra infantil de Monteiro Lobato, que antes do ginásio era fluente em latim, francês e inglês. Formado em Direito e Letras pela UFBA, tem Mestrado cursado na Southern Illinois University, USA, em 1971; Doutorado em Língua Portuguesa na UFRJ, em 1984; e Pós-Doutorado na Universidade de Lisboa, com bolsa do Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, 1990.




Como literatura não se faz com nomes nem com títulos, ao seu agente sempre é exigido produção, renovação ou silêncio, como é o caso de muitos escritores que não passaram de um par de livros, ou até mesmo de um único, o que não o impede de ter a obra reconhecida e valorizada, como é o caso de Sosígenes Costa, grapiúna como Ildásio, falecido em 1968 com apenas um livro publicado.




Esse, certamente, não foi o caso de Ildásio Tavares que estreia na poesia no ano de 1967, com poemas inseridos na antologia “Moderna Poesia Bahiana”. Seu primeiro livro veio ao público em 1968, com “Somente Canto”, a esse seguem-se outros, entre os quais se destacam: “Tapete do Tempo”, 1980; “IX Sonetos da Inconfidência”, 1997; e o moderno “Odes Brasileiras”, de 1999.




Talvez o próprio vate não se dê conta, mas também podemos acrescentar à sua biografia a importante e valorosa contribuição que dá ao futuro da poesia brasileira ao abrir, generosamente, as portas da sua casa aos jovens escritores baianos que para lá marcham semanalmente em busca de um papo agradável e, principalmente, conselhos sobre seus escritos.




Ali, na varanda da casa, na espaçosa sala de visitas ou no escritório repleto de livros e correspondências, tendo ao fundo o mar de Itapuã, muita gente ouviu Ildásio falar sobre a arte de escrever. Ali, sob sua pena severa, porque severa é a poesia, muita gente aprendeu a escandir um verso, muita gente ouviu falar pela primeira vez em soneto, redondilha, ode ou terça rima. Ali, muitos livros, poemas, poetas e críticos foram estudados à exaustão.





No dizer de Jorge Luis Borges um livro somente merece ser lido se for capaz de entreter. Foi dessa forma, me entretendo, dando inúmeras gargalhadas, literalmente, que li ainda no original o livro mais recente de Ildásio Tavares, “As Flores do Caos”, 2009, vencedor do prêmio literário do Pen Clube de Portugal em 2010, uma obra que reúne sonetos selecionados pelo autor, frutos de uma vida inteira dedica à arte, especialmente à poesia. Entre eles estão os IX Sonetos da Inconfidência, escolhidos para esse encontro.




Em meio a tão bons poemas, cada leitor acaba tendo o seu preferido. Certo mesmo é que tudo gira em torno de personagens importantes da Inconfidência Mineira. Esses personagens se transformam em símbolos, e as composições em versos decassílabos, com grande versatilidade e muita inventividade.




Sentia-me feliz ao descobrir em cada poema uma variação métrica própria, a forma como o poeta desloca a cesura dos versos sem perder a musicalidade. Aqui o de Arte Maior, ali o Sáfico, o Heróico. Vemos a estrutura do poema cedendo ao impulso da emoção.




O destaque maior fica por conta do poema III, O Alferes. Trata-se de um grito zombeteiro, apesar de angustiado, de Joaquim José da Silva Xavier, dentista e militar de baixa patente que ficou sendo o símbolo maior do movimento. Enforcado, teve seu corpo esquartejado e seus pedaços exibidos em lugares onde pregou ideais de liberdade. O alferes no primeiro quarteto: Meu coração é um arsenal de horrores/ e dores que atropelam meu país./ Gargalha, puta! Zomba, meretriz!/ O dia há de chegar dos teus senhores.




Fábio Lucas, um dos mais importantes críticos e conferencistas internacionais de literatura brasileira, unanimemente apontado como um dos críticos literários mais importantes do Brasil, reportou-se sobre estes poemas dizendo que O trabalho de Ildásio Tavares vai além do divertimento semântico. Sob pretexto de celebrar personagens de nossa história, constrói sonetos carregados de sentido, mensagens plurivocais, pejadas de palavras explosivas, pois, no curso da sonora abundância, se atiram além das idéias, como uma carruagem iluminada na escuridão da noite.





Em “O canto do homem cotidiano”, 1977, a poesia de Ildásio Tavares estabelece uma lírica que quer se esquivar da realidade opressora do nosso tempo, sem, contudo, deixar de reconhecê-la, como faz no poema que dá título ao livro: Eu canto o homem vulgar, desconhecido/ Da imprensa, do sucesso, da evidência/ O herói da rotina,/ O rei do pijama,/ O magnata/ Do décimo terceiro mês,/ O play-boy das mariposas/ O imperador da contabilidade.” (...) “Mas que, na frustração cotidiana,/ Vai encontrando aos poucos sua glória/ Por isso eu canto a luta sem memória/ Desse homem que perde, e não se ufana/ De no rosário de derrotas várias/ E de omissões, e condições precárias/ Poder contar com uma só vitória/ Que não se exprime nas mentiras tantas/ Espirradas sem medo das gargantas/ Mas sim no que ele vence sem saber/ E não se orgulha, campeão na história/ Da eterna luta de sobreviver.





Este é o homem que encontramos nas ruas, nos bares, nas praças, nos bancos. Homens que jogam bola, capoeira, dama, dominó. São profissionais autônomos, empregados no comércio, na indústria e funcionários públicos. Todos estes, matéria prima para a lírica moderna, onde o poeta canta a própria existência em confronto à realidade opressora do nosso tempo. Perguntado sobre essa questão em uma entrevista que nos concedeu o poeta responde que sempre foi assim. Contudo, em nossa época, o poeta sofre uma crise tão forte de identidade ante um sistema esmagador que, às vezes, cantar sabe a um grito no escuro.




Ciente que o tempo do artista difere do tempo do homem comum, o poeta abre mão das cronologias para privilegiar o seu tempo interior e mostra-nos uma alma que difere do mundo circunstante. Alheia às necessidades humanas, a poesia insiste em colocar o inexistente acima do existente. No poema O meu tempo (infelizmente fora do rol que nos foi passado), do qual trazemos aqui apenas um fragmento, ele nos mostra tal implicação com clareza:





Não existe hora certa, existe o meu relógio,


Lembrando sempre com seu tic-tac


Que há vida


Para ser vivida,


Que houve a vida


Que não se viveu.


Não importa que o rádio renitente ruja


São tal hora e tal minuto,


Hora oficial,


Afinal,


Que há de oficial em minha vida?





Se O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada, como afiança Cora Coralina, então, povoada de momentos de uma história construída pelos trajetos que vem percorrendo, de análises teóricas dos autores, de poetas, de músicos, enfim, o cotidiano presente, da religiosidade, ilustrando o acadêmico, o conhecimento e as ideias, o cognitivo e o afetivo, o singular no plural, o universal no particular, com inventividade e ironia, a obra de Ildásio Tavares, pode-se dizer, tem as qualidades necessárias para, por certo, ser considerada uma obra importante.




Podemos afirmar que o substrato da sua poesia está em uma determinada concepção onde o criador se constrói ao se relacionar com o mundo concreto, como observamos também no poema Restos, onde ao estabelecer relações e interações com outros homens, se apropria dos dados da cultura através das mediações simbólicas que estabelece e que se configura por sua totalidade, causando a estranheza necessária para tirar o leitor da sua inércia e levá-lo à reflexão.







Para concluir, compartilhamos as palavras do crítico literário e historiador Nelson Werneck Sodré sobre o poder de criação de Ildásio Tavares, considerações com as quais nos alinhamos totalmente. Diz ele: É fácil compreender a alta qualidade do poeta. Em primeiro lugar pelo domínio da arte poética na linguagem de síntese que é sua essência. E ainda pela capacidade, nessa linguagem, praticar aquilo que Brecht ensinou, as diferentes maneiras de dizer a verdade.














MEU AMIGO ILDÁSIO TAVARES

por João Ubaldo Ribeiro








Depois dos quarenta, mais ou menos, a gente dificilmente faz amigos. Faz companheiros, aliados, cúmplices, sócios, correligionários, o que lá for, mas amigos mesmo, desses que conhecem a alma da gente, desses com quem às vezes a gente conversa sem precisar falar, desses que, mesmo sem nos dar razão, ficam do nosso lado, desses que carregam com eles lances fundamentais de nossa história, amigos que se abraçam com calor depois de uma longa ausência, amigos com quem se quer partilhar todas as alegrias, nossas e deles, amigos de raiz, esses amigos se fazem ainda cedo. A vida afasta alguns, talvez muitos, mas os que permanecem são suficientes para provar o valor supremo da amizade, o sentimento mais nobre que podemos abrigar.




Quanto mais velhos ficamos, menos desses amigos fazemos e mais nos reaproximamos dos antigos. Com a idade se vão as ilusões que nos arrebatavam na juventude, juntam-se os desenganos, brota um certo cinismo tido na conta de sabedoria, cresce talvez o ceticismo quanto à natureza humana. E fazer uma nova amizade dá muito trabalho, não é uma empresa simples, enquanto os dois candidatos a amigos passam um ao outro o seu perfil e a biografia que querem ter, se familiarizam com a personalidade de cada um, decidem sobre concessões mútuas e, enfim, se entregam a um período de sintonia que frequentemente não se completa, dá mesmo muito trabalho.



Também quanto mais velhos ficamos, vamos compreendendo com maior vividez como os amigos são importantes, muito mais importantes do que imaginávamos antes. Os amigos compõem a nossa identidade, quem entende nossos amigos nos entende um pouco, quem conhece nossos amigos nos conhece um pouco. Somos vistos e avaliados não apenas pelo que temos de individual, mas também pelo que nossos amigos nos acrescentam, até porque aprendemos com eles, e eles conosco. E, a par disso, como é bom contar com um interlocutor que nos ouve e quer genuinamente o nosso bem, que desperta em nós o que de melhor temos, que nos traz lembranças alegres e cuja convivência nos deixa um pouco mais em paz com a vida, e nos torna a existência menos solitária. Como, por tudo isso, são raros e preciosos os amigos, mais raros e mais preciosos a cada instante.



Quando morre um amigo assim, morremos também um pouco. Por ser lugar-comum, não deixa de ser verdade. Acabo de morrer um pouco, acabo de morrer bastante, porque morreu meu amigo Ildásio Marques Tavares, de quem jamais vou deixar de sentir grande saudade e cuja memória procurarei sempre honrar. As amizades não se explicam, acontecem espontaneamente e amadurecem com o convívio. Minha amizade com Ildásio veio de afinidades descobertas desde a adolescência e se fortaleceu ao longo dos anos, culminando em compadragem, porque ele me convidou para batizar seu filho Gil Vicente. Lemos juntos, escrevemos juntos, fizemos farras juntos, viramos noites estudando juntos, aprontamos happenings juntos, juntos reformamos o Brasil e o mundo. Sua memória certeira guardava praticamente todos os momentos dessa convivência — e tudo agora lá se foi, lá me fui eu também um pouco, a recuperação é impossível.



Perda pessoal muita dura de enfrentar, é difícil estimar sua extensão, o vazio que vai deixar. Só sei que uma grande referência minha desaparece, uma das mais importantes, desde que Glauber morreu. Ildásio não tinha nada a ver com Glauber, mas com ambos eu podia aparecer de peito aberto, mostrar fraqueza, pedir palpite, conversar desguarnecido, abrir segredos. E ambos seguraram minha barra, quando enfrentei vicissitudes para as quais não estava preparado, me acudiram quando precisei de força. Até hoje não me habituei à ausência de Glauber e sei que não vou habituar-me à ausência de Ildásio, o mundo ficou desfalcado.



E a Bahia também ficou desfalcada. Ildásio era um intelectual superior, conhecedor íntimo do ofício das letras, de senso crítico aguçado e erudito. Talvez isso não se percebesse com facilidade, por trás de seu comportamento muitas vezes desabusado, sua poesia satírica (de magnífica qualidade e da qual nem amigos como eu escapavam), seus modos informais e irreverentes. Escritor de cultura sólida, ensaísta informado e sensível, poeta laureado, meu compadre Ildásio era, além disso, um homem bom, de belos sentimentos e apego a causas nobres. E, para mim, sobretudo um velho amigo de fé, um grande amigo, insubstituível amigo, querido amigo, saudoso amigo, que Deus o tenha em Sua glória.








RESTOS

por Ildásio Tavares



Há um resto de noite pela rua
Que se dissolve em bruma e madrugada.


Há um resto de tédio inevitável
Que se evola na tênue antemanhã.


Há um resto de sonho em cada passo
Que antes de ser se foi, já não existe.


Há um resto de ontem nas calçadas
Que foi dia de festa e fantasia.


Há um resto de mim em toda a parte
Que nunca pude ser inteiramente.


domingo, 31 de outubro de 2010

MORRE O POETA ILDÁSIO TAVARES, AOS 70 ANOS...



Ildásio Tavares (1940-2010)


Morreu, hoje, às 17h, deste triste 31 de outubro de 2010, aos 70 anos, o poeta, compositor, tradutor, mestre e, acima de tudo, amigo, Ildásio Tavares. Internado no Hospital Jorge Valente, em Salvador, desde o dia 27 deste mês, Ildásio sofreu um Acidente Vascular Cerebral que ceifou a sua vida de poeta.



Segundo nota de Assis Brasil, em A poesia baiana do século XX, pertence à geração Revista da Bahia, juntamente com Cyro de Mattos, Fernando Batinga de Mendonça, Marcos Santarrita, Alberto Silva. Estes, e mais José Carlos Capinam, Ruy Espinheira Filho, Adelmo Oliveira, José de Oliveira Falcón, Carlos Falck, Maria da Conceição Paranhos entre outros "formam um panorama fecundo e variado" a partir da década de 60.



Possui vários livros publicados, como Imago, Ditado, O canto do homem cotidiano, Tapete do tempo, Poemas seletos, Livro de salmos, IX Sonetos da Inconfidência, Lídia de Oxum, O amor é um pássaro selvagem, O domador de mulheres, A arte de traduzir... entre outros. É ganhador, entre tantos prêmios, do Leonard Ross Klein, de tradução; do Afrânio Peixoto, de ensaio; do Fernando Chinaglia, de poesia; e do prêmio nacional do centenário de Jorge de Lima. É bacharel em Direito e licenciado em Letras pela Universidade Federal da Bahia; mestre pela Southem Illinois University; doutor pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; pós-doutor pela Universidade de Lisboa.



Seu trabalho como jornalista compreende participação em vários periódicos, entre os quais, Diário de Notícias, Jornal da Cidade, A Tarde e Tribuna da Bahia. Membro praticante do candomblé, foi consagrado Ogan Omi L’arê, na casa de Oxum, e Obá Arê, na casa de Xangô e no Axé Opô Afonjá. É cidadão da cidade de Salvador desde 1986.



É muito difícil, para mim, falar de tamanha perda; assim como à toda grande Literatura Brasileira. Ildásio Tavares é da mesma linha de um Bruno Tolentino ou um Ferreira Gullar. Sua vida e sua obra se cercaram de uma busca incansável pela qualidade poética e pela defesa da mais pura tradição de nossas Letras. Homem formidável, polêmico, de rara cultura e inegável talento, sempre foi solícito aos novos aspirantes e jamais lhes negou o seu papel de professor, como aconteceu a este humilde poeta, pois foi Ildásio quem prefaciou, com sabedoria e elegância, o meu último livro. Agora, como muitos, este humilde poeta, como muito, chora a sua morte.



Como me faltam as palavras “mais burocráticas” neste momento, talvez a melhor maneira para me despedir de um poeta seja com poesia; por isso, deixo, aqui, um soneto que fiz com base em um de seus poemas e que eu, muito agradecido lhe dediquei, fazendo deste a minha maneira mais sincera e particular de lhe dizer: obrigado, Mestre e até breve, meu Amigo!







[OFÉLIA]





ao mestre, amigo e poeta Ildásio Tavares... este bastardo





Meu coração é um cabedal de sonho

de dores que antecedem cada instante

e a noite há de chegar, assim suponho

como a pisada brusca de um gigante.


De ausência e de desejo, em vão, componho

uma canção cafona e dissonante

e, ao ver tal despautério, então suponho:

sou talentosa como um elefante!


Ah, andai meus pés, andai que o rio espera

nossas cruéis lembranças, nossos corpos...

pois quem jamais amou melhor viveu.



Se eu vejo outro nascer? A Nova Era...?!

Eu vejo o que eu vivi; vejo os meus mortos;

quem dá valor a vida é quem morreu.


sexta-feira, 27 de agosto de 2010

VOCÊ JÁ FOI A CAYMMI...?



No próximo dia 27, às 21hs na Casa da Música, Abaeté o gênio Dorival Caymmi será homenageado com um show intitulado “Você Já Foi A Caymmi?”.Com roteiro e direção de Ildásio Tavares, contando no elenco com a experiente cantora Márcia Short, que acaba de chegar de uma turné na Europa, Edu Nascimento, que responde pela direção musical, arranjos e violão, a percussonista internacional Mônica Millet, e no baixo acústico o talentoso Ângelo Santiago.

Este espetáculo faz uma varredura na obra de Caymmi, mostrando seus vários aspectos, desde as canções praieiras, músicas de base afro e os samba urbanos, revivendo no palco a grandeza deste gênio da música popular.

Projeto antigo do poeta Ildásio Tavares, foi idealizado para homenagear Dorival Caymmi, este que o poeta considera o melhor letrista da Música Popular Brasileira, e com quem mantinha uma relação de afeto e de grande admiração.Espaço da Fundação Cultural do Estado da Bahia, a Casa da Música vem-se notabilizando pela autenticidade de seus espetáculos que têm, inclusive, uma intenção didática, além do entretenimento com alto nível.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

"A PELE DE ESAÚ" DE SILVÉRIO DUQUE... ADQUIRA JÁ O SEU



Editora: Via Litterarum
Autor: Silvério Duque
Apresentação: Ildásio Tavares
Posfácio: Gustavo Felicíssimo
Ilustração: Gabriel Ferreira
Ano: 2010
Páginas: 72 il.
Formato: 15,5x21cm
ISBN: 978-85-98493-66-4
Preço: Apenas R$ 15,00
Como adquirir: através do E-mail: vendas@vleditora.com.br. ou pelo Quiosque Cultural Online cujo endereço é: http://www.quiosquecultural.com.br/.






DUAS PALAVRAS SOBRE A PELE DE ESAÚ
por Gustavo Felicíssimo




Creio na existência de dois tipos de leituras: a erudita, revelada por autores preocupados em dar ao texto um valor de interesse fundamental; e a vacilante, que engloba as leituras que proporcionam intelecção abstrata, não conferindo nenhuma sacralidade à obra lida. Certamente os poemas deste A pele de Esaú, de Silvério Duque, se inserem dentre aquelas do primeiro tipo, pois foram baseados em uma narrativa bíblica antiquíssima (sobre a qual Ildásio Tavares discorre muito bem no prefácio da obra), fonte de enigma e sabedoria.

Vale lembrar que nada na trajetória humana foi capaz de inspirar tantas obras de arte, tantos artistas, nas mais diferentes latitudes e longitudes do mundo ocidental, do que a Bíblia. Levando-se em conta que o livro sagrado do cristianismo está no centro da nossa civilização, estranho seria se não fosse assim. E foram muitos os poetas que nela ou no cristianismo se inspiraram, com interesses e motivos vários, de diversas estirpes e épocas distintas, como Camões ou Bruno Tolentino, de quem se pode ouvir o eco na poesia de Silvério Duque, passando por Antero de Quental e Jorge de Lima, até encontrarmos o frescor de A pele de Esaú, uma obra dada ao leitor contemplativo, pois favorece a um recolhimento que possa proporcionar a reflexão adequada em relação ao universo circundante à obra.

Após ler os primeiros poemas deste livro percebi claramente que não se tratava de um compêndio qualquer de poesia, mas de uma obra refinada, alquímica, tecida com engenho e arte, em que o poeta apresenta-nos uma alternância riquíssima de perspectivas e expressões dramáticas do contrário, bem diversa e não apenas catártica, resultando em um canto verdadeiro, uma unidade e uma realidade concreta, não apenas a história evocada, objeto de meditação, mas os dramas pessoais do autor, suas vicissitudes, sonhos e desilusão. Enfim, uma obra muito superior ao que nos vem sendo apresentado pela maioria dos nossos contemporâneos.

Este livro é a mais nova obra de um dos melhores poetas da minha geração, um autor que faz jus à tradição de grandes poetas que a Bahia legou ao Brasil. Se pudesse resumir A pele de Esaú em uma única palavra, eu diria: inefável!



Sopa de Poesia, 01 de maio de 2010.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

LANÇAMENTO DE "A PELE DE ESAÚ" EM SALVADOR...


O poeta Silvério Duque... numa nova noite de autógrafos


O poeta Silvério Duque e o Sr. Cônsul-Geral de Portugal, Dr. João Paulo Marques Sabido Costa, no lançamento de seu livro A pele de Esaú.


Silvério Duque e o artista plástico Sant Scaldaferri no lançamernto de A pele de Esaú


O público que prestigiou o lançemento de A péle de Esaú


Música entre livros com Paulo Akenaton e Gabriel Ferreira

A eterna parceria: Lucifrance Castro, Silvério Duque, Gabriel Ferreira e Patrice de Moraes


Os poetas Ryzard Dygas, Bernardo Linhares, Lucifranec Castro, Ildásio Tavares e a bailarina Ana carolina Miranda, no lançamento de A pele de Esaú


No último dia 14 de maio, tive o prazer e a honra de lançar o meu mais novo livro, A pele de Esaú, em Salvador, na Livraria Praia dos Livros que fica à Av. Sete de Setembro, nº 3554, loja 2 (sobreloja), largo da Barra (ao lado do Instituto Mauá), às 20h, em Salvador-BA.

O evento contou com as belíssimas declamações de Lucifrance Castro e Patrice de Moraes, com a voz e o violão de Paulo Akenaton e com uma pequena exposição temática do artista plástico Gabriel Ferreira, inspirada nos poemas de meu livro. Além disso, a presença de mestres e amigos proporcionou-me mais entre os melhores e mais emocionantes momentos de minha vida. O amigo, poeta e jornalista, Ildásio Tavares, que prefacia meu livro e uma das presenças marcantes do lançamento, publicou, no último dia 08 de maio, no Jornal Tribuna da Bahia, a seguinte crônica sobre mim e A pele de Esaú:




A ESCRITURA DE SILVÉRIO
por Ildásio Tavares




Um dos momentos cruciais da formação do povo de Israel é quando Jacó assume a pole position, num golpe de mestre que começa com Esaú vendendo-lhe a primogenitura por um prato de lentilhas. Este factóide diz – de pronto – alguma coisa do temperamento e personalidade de ambos. Do imediatismo e gula de Esaú, da sagacidade de Jacó. Mais tarde, esta cessão da primogenitura tem que ser ratificada pelo pai de ambos, Isaac, que teria de dar sua benção. Aí, Jacó se vale de outro estratagema. Como Isaac estivesse meio cego, Jacó seria apalpado. Esaú era muito peludo e então, Jacó se veste com a pele de um animal e assim consegue se fazer passar pelo irmão que lhe tinha concedido seus direitos.

Ao nomear este belo livro de sonetos finamente escandidos de A Pele de Esaú, quero crer que Silvério Duque tivesse se inspirado neste episódio, ainda mais que coloca a epígrafe da passagem em que o Senhor adverte Esaú que começava a querer-se rebelar, mas que finda por se afastar e criar seu próprio povo longe das doze tribos de Jacó que viriam a formar o reino de Israel. Esaú tinha sido tolo, contudo, era forte e também contava com as bênçãos de Deus. Vinha de uma linhagem cuidadosamente selecionada de Abraão e Sara, para Rebeca e Isaac e que desaguaria nos 12 filhos que Jacó teria com Zilpah, Bilhah, Lia e Raquel, formando o povo eleito, o povo de Israel, até hoje vivo.


Neste meridiano da perda e da rejeição, na figura de um Esaú destituído de seu destino, Silvério elabora uma intricada associação de sentimento e pensamento, buscando a verticalidade de personagens que se multiplicam porque se querem fundir em um só. Afinal, o drama de degredo e aparte que sofre Esaú é de todo ser humano, anjo caído, que um dia se apartou da presença de Deus. E toda odisséia que Esaú tem que executar na busca de si mesmo pode-se configurar em seus aspectos trágicos e cada poema deste livro, pois, discorre sobre um jaez da personalidade humana com este suporte analógico, na verdade.

Mais do que o simples discorrer lírico, em que o poeta se exprime de dentro pra fora, este livro encarna um processo dialógico e dialético em que o poeta entra e sai no personagem e extrai daí o seu significado, num trâmite de intersubjetividade. Esta atitude reforça os aspectos dramáticos do poema e, ao dar voz aos personagens, torna o contexto mais efetivo. Destarte se estabelece um fio condutor que vem conferir unidade ao texto. Aliás, o livro todo é muito bem organizado, com um exato rigor de expressão e de ordenação, todo ele muito coeso, em suas partes, em suas divisões, o que consiste, em verdade, uma cortesia para com o leitor.

Do ponto de vista formal, o livro é impecável. Depois dos primeiros originais, eu recebi mais duas emendas do autor, provando que há um critério e disciplina no sentido do apuro textual, algo que considero fundamental.

Tenho visto inúmeros textos de aspirantes a poetas que não se dão conta que a poesia é a mais perfeita das artes. Apresentam-me, na verdade, um rascunho. Mesmo alguns poetas ditos consagrados mostram-me textos sintaticamente imperfeitos e inçados de cacofonias – poesia é a redação mais elevada. Silvério sabe disto e passa a limpo várias vezes seu texto. Respeita e venera a redação de sua poesia. Por isso pode pôr conflitos no papel com efetividade... Por isso é poeta.



Tribuna da Bahia, 08 de maio de 2010.


Àqueles que compareceram a este evento, só posso dizer-lhes, simplesmente, OBRIGADO!!!

sábado, 8 de maio de 2010

LANÇAMENTO DE "A PELE DE ESAÚ", EM FEIRA DE SANTANA...


O poeta Silvério Duque... autografando seu mais novo livro A pele de Esaú


A coordenadora do núcleo de Cultura Popular do CUCA, Suzani Caribé, o poeta Silvério Duque, a poetisa e declamadora Lucifrance Castro, A pele de Esaú e o poeta e professor Raymundo Luis Lopes


Silvério Duque (clarinete), Gabriel Ferreira (percussão) e Paulo Akenaton (voz e violão)... o Grupo Arranjos


O público que, atentamente, prestigiou toda a festa


O público... confraternizando-se


Os poetas patrice de Moraes e Lucifrance Castro... declamando poemas de A pele de Esaú


O poeta e professor emerito da UEFS, José Jerônimo de Moraes, o poeta e jornalista Ildásio Tavares, o poeta Silvério Duque, o professor e poeta Raymundo Luis Lopes


A coordenadora do núcleo de Cultura Popular do CUCA, Suzani Caribé, o poeta Patrice de Moraes, a poetisa e declamadora Lucifrance Castro, Silvério Duque (com o pequeno João Pedro), o artista plástico Gabriel Ferreira, o poeta e jornalista Ildásio Tavares e o professor emerito da UEFS e poeta José Jerônimo de Moraes, responsáveis diretos pelo lançamento de A pele de Esaú.


Núltimo dia 06 de maio, tive o prazer e a honra de lançar o meu mais novo livro, A pele de Esaú, aqui, em minha terra natal, Feira de Santana, com o apoio da Ed. Via Litterarum, da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), a través do Núcleo de Cultura Popular do Centro Universitário de Cultura e Artes (CUCA) e do Colégio Intelecto de Feira de Santana.

A festa, que teve a coordenação de minha grande amiga Suzani Leite Caribe, contou com as belíssimas declamações de Lucifrance Castro e Patrice de Moraes, com a voz e o violão de Paulo Akenaton e com uma pequena exposição temática do artista plástico Gabriel Ferreira, inspirada nos poemas de meu livro. Além disso, a presença de mestres, amigos e alunos terminou por me proporcionar um dos melhores e mais emocionantes momentos de minha vida, que, aliás, foram bem sintetizados pela crônica do amigo e jornalista Emmanoel Freitas, que é também o autor da foto acima, em seu site Viva Feira (http://www.vivafeira.com.br/):


'Como era de se esperar, Silvério Duque, proporcionou aos amigos, colegas e admiradores uma noite extremamente agradável no lançamento do seu mais recente trabalho, o livro A Pele de Esaú, na qual o autor, acompanhado de seus amigos Gabriel Ferreira e Paulo Akenatom, receberam os convidados com música da melhor qualidade. Duque se não se comportou como um anfitrião convencional, sentado a uma mesa conferindo autógrafos, tocou seu clarinete com os seus amigos proporcionando uma recepção muito agradável a todos que compareceram ao evento, fez um agradecimento emocionado àqueles que lhe são caros e próximos, culminando em tomar no colo seu sobrinho recém-nascido e pousar para fotos com ele. O livro, presenteado por Silvério Duque a população amante da boa literatura, na noite do dia 06 de abril, é uma obra inestimável aos amantes da poesia, que deve ser lido e procurado nas livrarias'.

Àqueles que compareceram a este evento, só posso dizer-lhes, simplesmente, OBRIGADO!!!"


segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

ILDÁSIO TAVARES: SETENTA ANOS DE POESIA


O aniversariante Ildásio Tavares

A Biblioteca Betty Coelho e a Fundação Gregório de Mattos promovem dia 27 de janeiro, às 19h30, no Espaço Cultural da Barroquinha (antiga Igreja Nossa Senhora da Barroquinha), na Praça Castro Alves, em Salvador, Bahia, ILDÁSIO TAVARES: SETENTA ANOS COM POESIA, em que homenageiam o poeta, escritor, compositor, professor de literatura, ensaísta e jornalista Ildásio Tavares, que neste mês de janeiro, completa setenta anos de idade.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

A TURMA DE FEIRA... UMA CRÔNICA DE ILDÁSIO TAVARES


O poeta e jornalista Ildásio Tavares

Ildásio Tavares, um dos maiores nomes da poesia brasileira, e – mais do que um orgulho para mim – um grande mestre e amigo, agraciou-me, e, também, à poetisa Nívia Maria Vasconcellos, à declamadora Lucifrance Castro e ao artista plástico Gabriel Ferreira, com uma de suas crônicas semanais nesta última edição do jornal Tribuna da Bahia.

Ildásio, a quem eu devo, entre tantas coisas, um ensaio digno de sua poética neste blog, reconhece o trabalho árduo e a dedicação empreendida para realizarmos os mais diversos eventos, aqui, em Feira de Santana, e exalta, com o racionalismo crítico que lhe é contumaz, e, ao mesmo tempo, com a grande capacidade de admirar, que é a marca de todo grande poeta, os diversos talentos destes artistas feirenses, baianos... brasileiros.

Ao Ildásio Tavares, os meus mais sinceros agradecimentos, que, também, é o agradecimento dos outros artistas por ele citados. É, em nome deles, principalmente, que te agradeço.

Receba o nosso abraço...

Vamos à Crônica:



A TURMA DE FEIRA
por Ildásio Tavares


Venho recebendo regularmente,ora de Nivia Vasconcelos, ora de Silvério Duque notícias de uma movimentação cultural no interior, mais especificamente de Feira de Santana, que ombreia em qualidade com os movimentos que possam ocorrer em Salvador. Estes ainda me dão notícia de Lucifrance, exímia declamadora de versos que me brindou com um cd em que interpreta Navio Negreiro de Castro Alves.


O grupo ainda se completa com espetáculos musicais. Decididamente poeta, e poeta sério, do soneto, do verso medido, Silvério também trauteia a clarineta e participa de espetáculos em homenagem aos grandes vultos da Música Popular Brasileira, já houve Vinicius e agora fazem um show de Noel Rosa que sobre ser um painel da música do grande gênio também exerce uma função didática, aviventando nas mentes dos mais jovens a grandeza do nosso passado.musical, do samba do Estácio.


Vejo, pelas imagens que me chegam pela internet que estes shows merecem uma produção cuidada que há a preocupação com o figurino, com o cenário além do repertório cuidado do autor que imagino receber uma execução à altura. Estes espetáculos não são meramente episódicos. Eles se enfileiram há algum tempo, sempre com a correta escolha de uma figura de relevo de nossa música.


Completa o grupo a admirável pintura de Gabriel Ferreira que não conheço pessoalmente, mas que me atrai por sua arte honesta, sem truques nem conceitos em que as imagens são tratadas com esmero artesanal para um final de perfeita solução plástica expressa por uma mão segura de um hábil colorista. Gabriel não se esconde atrás dos modismos tão encontradiços no momento presente. Parte para uma definida vocação de pintar e realiza seu desiderato plasticamente, através de sua habilidade no manejo de pinceladas às vezes vigorosas, mas nunca frouxas, nunca guiadas pelo acaso.


O grupo mexe com um elenco de músicos e de cantoras que passa para mim a idéia de um trabalho, mesmo sem ter tido a oportunidade de escutar a tudo. Não há uma intenção esporádica de um pulo no escuro. Há um trabalho seqüencial que admira quando se pensa na dificuldade de se fazer arte, mormente no interior. A turma de Feira merece nosso aplauso e nosso incentivo. A poesia de Silvério está sempre em progressão, perfeccionando seu decassílabo, burilando seu soneto, forma a que se dedica com afinco.


Nivia Maria, versátil, vertical, com esta seriedade e dedicação que só mesmo as mulheres tem, moureja no conto e no poema.. Já é mestre em Letras, caminha para o doutoramento. Já tive oportunidade de me pronunciar sobre algo que considero essencial na linguagem literária e que Nivia Maria esgrime com perfeição. Refiro-me ao poder de síntese que, no conto, a faz caracterizar o personagem e por extensão a história com poucas palavras. Na poesia ela nada desperdiça, obedecendo a Ezra Pound que afirmava ser a poesia a arte de dizer muito com poucas palavras... E Nivia não é desse poetas inspirados. Por seu conhecimento da técnica, é uma criadora consciente.



Tribuna da Bahia, 05 de outubro de 2009.