quarta-feira, 14 de setembro de 2011

IMPERDÍVEL: MEU LIVRO "A PELE DE ESAÚ" POR APENAS R$ 15,00... VEJA COMO ADQUIRIR...


Editora: Via Litterarum
Autor: Silvério Duque
Apresentação: Ildásio Tavares
Posfácio: Gustavo Felicíssimo
Ilustração: Gabriel Ferreira
Ano: 2010
Páginas: 72 il.
Formato: 15,5x21cm
ISBN: 978-85-98493-66-4

Preço: Apenas R$ 15,00
Como adquirir: http://www.quiosquecultural.com.br.

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A ESCRITURA DE SILVÉRIO DUQUE



por Ildásio Tavares






Um dos momentos cruciais da formação do povo de Israel é quando Jacó assume a pole position, num golpe de mestre que começa com Esaú ven­dendo-lhe a primogenitura por um prato de lenti­lhas. Este factóide diz – de pronto – alguma coisa do temperamento e personalidade de ambos. Do ime­diatismo e gula de Esaú, da sagacidade de Jacó. Mais tarde, esta cessão da primogenitura tem que ser rati­ficada pelo pai de ambos, Isaac, que teria de dar sua benção. Aí, Jacó se vale de outro estratagema. Como Isaac estivesse meio cego, Jacó seria apalpado. Esaú era muito peludo e então, Jacó se veste com a pele de um animal e assim consegue se fazer passar pelo irmão que lhe tinha concedido seus direitos.

Ao nomear este belo livro de sonetos finamente escandidos de A Pele de Esaú, quero crer que Silvério Duque tivesse se inspirado neste episódio, ainda mais que coloca a epígrafe da passagem em que o Senhor adverte Esaú, que começava a querer-se rebelar, mas que finda por se afastar e criar seu próprio povo longe das doze tribos de Jacó que viriam a formar o rei­no de Israel. Esaú tinha sido tolo, contudo, era forte e também contava com as bênçãos de Deus. Vinha de uma linhagem cuidadosamente selecionada de Abraão e Sara, para Rebeca e Isaac e que desaguaria nos 12 filhos que Jacó teria com Zilpah, Bilhah, Lia e Raquel, formando o povo eleito, o povo de Israel, até hoje vivo.

Neste meridiano da perda e da rejeição, na figura de um Esaú destituído de seu destino, Silvério elabo­ra uma intricada associação de sentimento e pensa­mento, buscando a verticalidade de personagens que se multiplicam porque se querem fundir em um só. Afinal, o drama de degredo e aparte que sofre Esaú é de todo ser humano, anjo caído, que, um dia, se afas­tou da presença de Deus. E toda odisseia que Esaú tem que executar na busca de si mesmo pode-se con­figurar em seus aspectos trágicos e cada poema deste livro, pois, discorre sobre um jaez da personalidade humana com este suporte analógico, na verdade.

Mais do que o simples discorrer lírico, em que o poeta se exprime de dentro pra fora, este livro encar­na um processo dialógico e dialético em que o poeta entra e sai no personagem e extrai daí o seu signifi­cado, num trâmite de intersubjetividade. Esta atitude reforça os aspectos dramáticos do poema e, ao dar voz aos personagens, torna o contexto mais efetivo. Destarte se estabelece um fio condutor que vem con­ferir unidade ao texto. Aliás, o livro todo é muito bem organizado, com um exato rigor de expressão e de ordenação, todo ele muito coeso, em suas partes, em suas divisões, o que consiste, em verdade, uma corte­sia para com o leitor.

Do ponto de vista formal, o livro é impecável. Depois dos primeiros originais, eu recebi mais duas emendas do autor, provando que há um critério e dis­ciplina no sentido do apuro textual, algo que conside­ro fundamental.

Tenho visto inúmeros textos de aspirantes a poe­tas que não se dão conta que a poesia é a mais perfeita das artes. Apresentam-me, na verdade, um rascunho. Mesmo alguns poetas ditos consagrados mostram--me textos sintaticamente imperfeitos e inçados de cacofonias – poesia é a redação mais elevada. Silvério sabe disto e passa a limpo várias vezes seu texto. Res­peita e venera a redação de sua poesia. Por isso pode pôr conflitos no papel com efetividade...

Por isso é poeta.

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Que sabes tu dos frutos, das sementes,
da dureza das flores contra o vento?
A aurora vem tragar a noite espessa
de onde brotou, sem dores, o teu grito.

Se a afirmação do amor nos aborrece,
morrer é mera vocação dos vivos,
pois, no morrer de tudo, há um recomeço.
Não queiras mal ao tempo ou ao espanto;

não queiras mal ao grão, à terra escura...
Que sabes tu das trevas ou da carne?
Que sabes tu das noites, dos princípios?

Hoje, é chegado o tempo dos retornos,
e toda forma espera o seu ofício
como o vaso existente em todo barro.



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