sexta-feira, 21 de junho de 2013

SONETO DO CORAÇÃO MALDITO...



 
O monge diante do mar de Gaspar David Friederich (1810), 110 X 172 cm, Museu Nacional de Berlin







– Ao velho pátio do colégio antigo
até a lua regressou mais triste
mas há tanto de mim nestes silêncios
que a própria morte se achará sozinha.

Recordar é adiar outros regressos
sem que me doa a pressa doutros dias
sem que eu invente a infância que não tive
nas voltas em que a vida é reinventada.

Agora o que me cabe é viver
simplesmente e deixar para outros dias
as minhas súplicas e este tempo

qual o velho pátio do colégio antigo
irmão de meu vazio e minha ruína
ou como fazem os cães por entre as noites.



terça-feira, 18 de junho de 2013

EIS AQUI, TAMBÉM, O MEU PROTESTO... E VOCÊS SABEM CONTRA QUEM OU O QUÊ!!!

Lula em reunião com membros de seu partido... Charge de Angeli






A profissão de presidente
não é assim tão opressora;
o que é o peso de uma caneta
pra quem já usou metralhadora?

***



Ó Sócrates, bendito Sócrates,
foi de ti a frase mais querida,
"Filho, eu só sei que nada sei...!"
E resumiste a minha vida.

***



Mais de 1.000.000 de brasileiros
pediram por minha cabeça,
mas sou por Lula apadrinhado:
Oh, gentinha idiota, esqueça...

***



Um dia eu hei de ser PTista,
nem que pra isso eu vire puta,
com o pão, furtar um voto ao pobre,
com muito engano e pouca luta.

terça-feira, 11 de junho de 2013

VINICIUS DE MORAES: POETA DE PAIXÃO E DESESPERO...


Vinicius de Moraes, em Paris, 1976: "Vinícius sempre se encontrou na antinomia entre a paixão e o desespero, entre o sexo e a morte, a culpa e o prazer; e mesmo entre a vida de poeta e compositor".



VINICIUS DE MORAES:
POETA DE PAIXÃO E DESESPERO...


para Marcos Pérsico e Bernardo Linhares, este legado...

 Mon âme éternelle,
Observe ton voeu
Malgré la nuit seule
Et le jour en feu.
ARTHUR RIMBAUD








Gramaticalmente, eu aprendi que diminutivos servem para, basicamente, duas coisas: identificar algo de pequeno porte e demonstrar, por extensão, carinho que temos por certas coisas.  Em ambos os casos, parece-me que o diminutivo acaba em equívoco em se tratando da pessoa e da poesia de Vinícius de Moraes.

A verdade, é que o poeta carioca passou a vida inteira a carregar tal alcunha: “poetinha”... quase como a dizer que é alguém de quem se gosta, mas sem grandes seriedades. Desta maneira, a grande poesia de nosso Modernismo caberia apenas à tríade formada pelo existencialismo prosaico de Carlos Drummond, pelo lirismo neobarroquista de Bandeira e pelos mineralizantes e politizados versos de João Cabral de Melo Neto. Na verdade, acontecera com Vinícius o mesmo que aconteceria com toda uma geração a que hoje chamamos de Pré-modernista que, não tenho como enquadrar Vinícius e seus poemas dentro daquilo que consideravam o verdadeiro modernismo, o cânone acadêmico, praticamente, jogou para segundo plano a sua literatura, construída a partir de uma trajetória singularíssima, que vai do uso das formas e das influências mais tradicionais da poesia à carreira de compositor popular. A isso também se aplique fenômenos como em Cecília Meireles, Jorge de Lima, Mário Quintana e os mais recentes casos: Bruno Tolentino e Alberto da Cunha Melo.    

No entanto, Vinicius de Moraes foi um poeta que sempre mesclou a intensidade das paixões com seus conflitos interiores – e isso serve também para o homem Vinicius de Moraes. Como os antigos românticos que sempre admirou, Vinicius poetizou sua própria vida interior; era o poeta que refletia em seus versos sua vida pessoal atormentada e sujeita a freqüentes períodos de depressão e tristeza. E tem mais: Vinicius de Moraes, à maneira de poetas como Drummond e Cabral se dá ao luxo de possuir muitas fases distintas desde seus primeiro livro O caminho para a distância (1933) aos sonetos que lhe deram fama, prestígio e, contraditoriamente, desrespeito por parte dos mais “vanguardizados”. Essas fases trazem influências igualmente diversas e acentuam traços que vão do catolicismo atormentado à poesia leve e sensual de poemas como A balada das meninas de bicicleta. Podemos ver em Vinícius tanto a influência de Arthur Rimbaud, na primeira fase de extração simbolista, como a de Camões – pasmem – na fase dita “mais leve”, onde, como dirá Ferreira Gullar, Vinícius de Moraes se converte em Vinicius de Moraes.

Uma coisa é facto em todas essas fases: Vinícius sempre se encontrou na antinomia entre a paixão e o desespero, entre o sexo e a morte, a culpa e o prazer; e mesmo entre a vida de poeta e compositor (esta segunda muito confundida com sua obra poética; outro equívoco muito comum e imperdoável com relação à obra de Vinicius de Moraes). Sem tal contradição, torna-se impossível compreender a dimensão que sua obra terá sobre toda a história de nossa literatura, muito menos a profundidade da paixão pela qual o poeta é conhecido e reconhecido até hoje. Um bom exemplo disto está naquele que se tornará seu poema mais célebre, o Soneto de fidelidade, onde a paixão descrita em versos como:

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento...

mescla-se com o desespero apresentado em seu primeiro terceto:
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama...

Vinicius, resumidamente, foi isso: um poeta de paixão e desespero onde a vida é, ao mesmo tempo, apreciação e sucessão de decepções. Para quem escuta os versos e os acordes de uma Garota de Ipanema ou lê e declama um poema como Feijoada à minha moda, não imaginam Vinicius de Moraes como um homem a quem a vida e o mundo incomodavam tanto ao ponto de ambos viverem em completo descompasso. Mas tudo em sua poesia, e para se perceber isso basta-nos um olhar um pouquinho mais atento, encaminhar-se-á e se findará nesta bipolaridade tão barroca quão psicológica. A influência de Arthur Rimbaud em versos como os presentes em Une saison en enfer lhe deram os primeiros empurrões para essa situação e seus primeiros versos só confirmam isso. Daí em diante, a paixão e o desespero, a sensualidade e a tristeza... serão dicotomias que o acompanharão para o resto de sua vida de homem e poeta: ao poeta, tão sozinho/tudo pouco se lhe importa/e por muito delicado/faz um carinho na morte (...)//A morte sorri feliz/como quem canta vitória/ao ver o poeta tão triste/tão fraco tão provisório... escreveria ele em Romance da amada e da morte.
Os nove casamentos aos quais se entregou, é outra prova de que a paixão e o desespero foram além de mera caracterização e estilismo poético: escravo da paixão, Vinicius de Moraes amava a condição de se apaixonar e a poesia ganhou muitíssimo com isso... o mesmo, infelizmente, eu não possa dizer de suas esposas. Mesmo nas relações mais furtivas, como a que viveu com a poetisa Hilda Hilst, a mínima idéia de tristeza era-lhe insuportável, até o amor acabar e a ela o poeta entregar-se profundamente. E assim, o lado obscuro da poesia de Vinicius de Moraes sempre aparecia, seja em circunstâncias desculpáveis, como na morte de seu pai, que lhe rendeu o belíssimo Elegia na morte de Clodoaldo Pereira da Silva Moraes:  

A morte chegou pelo interurbano em longas espirais metálicas.
Era de madrugada. Ouvi a voz de minha mãe, viúva.
De repente não tinha pai.
No escuro de minha casa em Los Angeles procurei recompor tua lembrança
Depois de tanta ausência. Fragmentos da infância
Boiaram do mar de minhas lágrimas. Vi-me eu menino
Correndo ao teu encontro. Na ilha noturna
Tinham-se apenas acendido os lampiões a gás, e a clarineta
De Augusto geralmente procrastinava a tarde.
Era belo esperar-te, cidadão. O bondinho
Rangia nos trilhos a muitas praias de distância
Dizíamos: "E-vem meu pai!" Quando a curva
Se acendia de luzes semoventes, ah, corríamos
Corríamos ao teu encontro. A grande coisa era chegar antes
Mas ser marraio em teus braços, sentir por último
Os doces espinhos da tua barba.
Trazias de então uma expressão indizível de fidelidade e paciência
Teu rosto tinha os sulcos fundamentais da doçura
De quem se deixou ser. Teus ombros possantes
Se curvavam como ao peso da enorme poesia
Que não realizaste. O barbante cortava teus dedos
Pesados de mil embrulhos: carne, pão, utensílios
Para o cotidiano (e freqüentemente o binóculo
Que vivias comprando e com que te deixavas horas inteiras
Mirando o mar). Dize-me, meu pai
Que viste tantos anos através do teu óculo-de-alcance
Que nunca revelaste a ninguém?
Vencias o percurso entre a amendoeira e a casa como o atleta exausto no último lance da maratona.
Te grimpávamos. Eras penca de filho. Jamais
Uma palavra dura, um rosnar paterno. Entravas a casa humilde
A um gesto do mar. A noite se fechava
Sobre o grupo familial como uma grande porta espessa.
(...)

ou no encantador, sensual e triste Soneto de luz e treva, dedicado à baiana Gesse Gessy, sua sétima esposa; um exemplo magnífico de como o côncavo e o convexo de um mesmo poeta pode aparecer grandiosamente em uma único poema:

Ela tem uma graça de pantera
no andar bem comportado de menina
no molejo em que vem sempre se espera
que de repente ela lhe salte em cima

Mas súbito renega a bela e a fera
prende o cabelo, vai para a cozinha
e de um ovo estrelado na panela
ela com clara e gema faz o dia

Ela é de Capricórnio, eu sou de Libra
eu sou o Oxalá velho, ela é Inhansã
a mim me enerva o ardor com que ela vibra

E que a motiva desde de manhã.
-- Como é que pode, digo-me com espanto
a luz e a treva se quererem tanto...



Vinicius de Moraes foi um reabilitador do espírito romântico de entrega total ao sentimento e todo o desespero que isso pode trazer a um homem, seja ele poeta ou não, numa época em que isso consistia em um verdadeiro pecado. E mais, também foi um reabilitador do soneto, uma forma tão desprezada pelos modernistas de 1922 e tão rebuscado e retalhado pelos poetas da geração de 30, mas que ganhou na simplicidade e verdade expostas por Vinicius um lugar ao sol em nossa literatura do qual não lograva desde a Belle Époque e seus parnasianos.

No ano em que nos lembramos do centenário de sua morte, mas que é também ano de Copa das Confederações no Brasil, talvez o próximo dia 9 de julho passe tão despercebido como qualquer coisa de real grandeza pode passar despercebida em um país em que se gastou mais em um estádio de futebol do que em educação em séculos. Porém, àqueles poucos que sabem reconhecer a importância de alguém como Vinicius de Moraes, só resta relembrar os versos de seu enigmático Poema de Natal e dizer: Ave, poeta! Poetinha, camarada... :


Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.









Feira de Santana, 09 de junho de 2013...
     

terça-feira, 4 de junho de 2013

RESPONDENDO AOS MEUS ALUNOS...




Ilustração de W.J. Solha







Meus Alunos do 2º ano, turma B, do Ensino Médio, perguntam-me sobre Karl Marx e sua famosa frase: “A religião... é o ópio do povo” – Die Religion... Sie ist das Opium des Volkes", no original –, mas, antes de quaisquer deliberações (como em qualquer discutição  séria), faz-se necessário entender a pergunta em seu contexto, e não solta, como uma pedra arremessada na lagoa do conhecimento.

A frase está na Crítica da filosofia do direito de Hegel, obra escrita em 1843 e, publicada em 1844, no jornal Deutsch-Französischen Jahrbücher, que Marx editava com Arnold Roge. Em seu contexto imediato lê-se: "É este o fundamento da crítica irreligiosa: o homem faz a religião, a religião não faz o homem. E a religião é de fato a autoconsciência e o sentimento de si do homem, que ou não se encontrou ainda ou voltou a se perder. Mas o Homem não é um ser abstrato, acocorado fora do mundo. O homem é o mundo do homem, o Estado, a sociedade. Este Estado e esta sociedade produzem a religião, uma consciência invertida do mundo, porque eles são um mundo invertido. A religião é a teoria geral deste mundo, o seu resumo enciclopédico, a sua lógica em forma popular, o seu point d'honneur espiritualista, o seu entusiasmo, a sua sanção moral, o seu complemento solene, a sua base geral de consolação e de justificação. É a realização fantástica da essência humana, porque a essência humana não possui verdadeira realidade. Por conseguinte, a luta contra a religião é, indiretamente, a luta contra aquele mundo cujo aroma espiritual é a religião. A miséria religiosa constitui ao mesmo tempo a expressão da miséria real e o protesto contra a miséria real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o ânimo de um mundo sem coração e a alma de situações sem alma. A religião é o ópio do povo [grifo meu]. A abolição da religião enquanto felicidade ilusória dos homens é a exigência da sua felicidade real. O apelo para que abandonem as ilusões a respeito da sua condição é o apelo para abandonarem uma condição que precisa de ilusões. A crítica da religião é, pois, o germe da crítica do vale de lágrimas, do qual a religião é a auréola. A crítica arrancou as flores imaginárias dos grilhões, não para que o homem os suporte sem fantasias ou consolo, mas para que lance fora os grilhões e a flor viva brote. A crítica da religião liberta o homem da ilusão, de modo que pense, atue e configure a sua realidade como homem que perdeu as ilusões e reconquistou a razão, a fim de que ele gire em torno de si mesmo e, assim, em volta do seu verdadeiro sol. A religião é apenas o sol ilusório que gira em volta do homem enquanto ele não circula em tomo de si mesmo. Conseqüentemente, a tarefa da história, depois que o outro mundo da verdade se desvaneceu, é estabelecer a verdade deste mundo. A tarefa imediatada da filosofia, que está a serviço da história, é desmascarar a auto-alienação humana nas suas formas não sagradas, agora que ela foi desmascarada na sua forma sagrada. A crítica do céu transforma-se deste modo em crítica da terra, a crítica da religião em crítica do direito, e a crítica da teologia em crítica da política."


Todavia, os pressupostos de Marx, que não são totalmente dele, mas catados aqui e ali no pensamente de Kant, Hume e Comte, só pode partir do pressuposto de um homem fora de um contexto espiritual e metafísico; em outras palavras, apenas negando que o homem possui uma parte para além do material ou que não necessita de tal caracterização, o pensamento de Marx teria lógica. Mas o homem é grande demais, em sua racionalidade, para não conceber algo mesmo fora dela, ou meramente materialista, como quer Marx, seus mestre diretos como Comte, e seus prosélitos mais hodiernos como Foucault e Derrida.

Neste sentido, não é o pensamento religioso, mas o ateísmo que é, meramente, um “problema de consciência”, muito mais que, necessariamente, uma formulação racional; é um aspecto trágico da essência humana – e, nesse sentido, sua maior tragédia –, fruto colhido diretamente da amargura, da culpa, da impossibilidade de aceitação e do desespero; sintomas muito comuns desta estranha doença do espírito que consiste em negar aquilo que nos completa, que nos livra de todos os abismos, de toda dor e das impossibilidades que nos trazem o vazio. De Robert Burton, passando por Kierkegaard, e, culminando, em Constantin Noica e René Girard, essa enfermidade, e todo desespero por ela causado, é um prenúncio da morte em vida; uma mentira romantizada que faz com que os homens vivam, realmente, do ilusório, ou seja, do desejo por aquilo que deseja seu semelhante; ou pior: de desejar, no impossível, o inalcançável.

Dessa forma, valeram-se, ao longo de séculos, todo tipo de idéia a buscar, como princípio, a negação do fato de que o homem é a mais excelsa das criaturas, o mais nobre de todos os seres. Negação que não me causa nenhum espanto, pois a substituição do Criador por outro deus menor e enganoso (e nisso o pensamento de Marx e sua semente têm se dedicado ao longo de mais de um século), a se valer das graças deste mesmo Criador desprezado, é o ponto de partida de todo paganismo e de toda ideologia ateísta; até porque, a visão grandiosa do homem não é fruto do Humanismo, ou do Iluminismo, muito menos do Comunismo ou de qualquer outra ideologia de nosso mundinho politicamente correto (se, realmente, existe algo de bom no Socialismo, por exemplo, é porque foi furtado do pensamento cristão).

Sobre Marx, por exemplo, e seu legado, Eric Voegelin, em seu História das Idéias Políticas – com a ajuda da tradução de meu amigo Elpídio Fonseca –, avisa-nos sobre este apocalipse humano, ao afirmar que, “na raiz da idéia marxista, encontramos a doença espiritual, a revolta gnóstica”, por mais que não se diga muito a seu respeito; doença que mostra o que já observamos no caso de Comte e suas características, que, a seu turno, pertencem ao padrão mais amplo da “doença cientificista e anti-religiosa”. Para Voegelin, a alma de Marx está demoniacamente fechada à realidade transcendental, não conseguindo se desprender das dificuldades, retornando à liberdade do espírito e o ativismo gnóstico, graças à sua impotência espiritual, é a única saída que lhe resta. Advém daí, como afirmará Voegelin, a combinação característica de “impotência espiritual com  o desejo mundano de poder”, acarretando “in a grandiose mysticism of Paracletic existence”. Eric Voegelin, então, sentencia: “and again we see the conflict with reason, almost literally in the same form as in Comte, in the dictatorial prohibition of metaphysical questions concerning the matrix of the universe, questions that might disturb the magic creation of a new world behind the prison walls of revolt”. Marx, à maneira de Comte, não permite uma discussão racional de seus princípios – ou se é marxista ou se se põe em silêncio.

O que sobra disso tudo é a mera correlação entre impotência espiritual e anti-racionalíssimo, ou, melhor dizendo, não se pode negar Deus e conservar a razão. Ora, se não há uma metafísica como Comte e Marx queriam que pensássemos, então, na há coisa nenhuma, porque tudo que nos rodeia é metafísica antes de ser qualquer coisa. E se há um Socialismo, um Antropocentrismo, ou coisa parecida, em sua verdade e plenitude, estes só podem advir do fato de o homem aceitar-se como uma criação do Divino, a mais poderosa obra de Deus, a maravilha entre as maravilhas da Criação. E mesmo que sejamos pó, resquício de estrelas ou coisa semelhante, como querem alguns, ainda assim somos “pó levantado” (como dissera Pe. Antônio Vieira) da ansiedade de si mesmo e do desejo de retornar ao seu Princípio.

Negar tal coisa é transformar-se num autômato, em uma máquina ou um mero gorila morto no Congo a quem idiotas sem esperança choram como se fossem por seus entes mais queridos; é não dar sentido nenhum a sua vida; negar isso é negar a verdadeira natureza humana, e, pela melancolia e pelo desespero, condenar-se, vivo, a um inferno de incertezas através de um falso humo universalis, que não possui outra função senão destruir o Criador pelo desmantelamento de sua obra maior. Marx fala de um mundo invertido no campo do pensamento religioso e de sua miséria, mas que ele mesmo, na negação de algo que ele não consegue, nem quer, entender, vê-o invertido.

Aliás, não é a primeira vez que isso acontece no pensamento marxista; o próprio conceito de “mais-valia” é errôneo em si mesmo se se partir da idéia de que só o trabalhador produz riqueza, enquanto que o capitalista só o explora. Sem a empresa, não existe riqueza. A dependência só funciona de for mútua. O empresário, como disse Ferreira Gullar, é “um intelectual que, em vez de escrever poesias, monta empresas... É um criador, um indivíduo que faz coisas novas”. A visão de que só um lado produz riqueza e o outro só explora é radical, sectária, primária, assim como a visão de que o homem só precisa do mundo objetivo e material é negar a abrangência da própria natureza humana. A partir dessa miopia, sustenta Ferreira Gullar, tudo o mais deu errado para o campo socialista.


***
Espero que a minha resposta seja satisfatória para os meus alunos do 2º ano, turma B, do Ensino Médio... Ou vou passar, no mínimo, por prolixo (rsrs). Mas, só pra ser sintético – e também provocativo (como cabe a uma boa discussão filosófica), fica a frase do jornalista americano Edmund Wilson: “o Marxismo é o ópio dos intelectuais”.