domingo, 31 de outubro de 2010

MORRE O POETA ILDÁSIO TAVARES, AOS 70 ANOS...



Ildásio Tavares (1940-2010)


Morreu, hoje, às 17h, deste triste 31 de outubro de 2010, aos 70 anos, o poeta, compositor, tradutor, mestre e, acima de tudo, amigo, Ildásio Tavares. Internado no Hospital Jorge Valente, em Salvador, desde o dia 27 deste mês, Ildásio sofreu um Acidente Vascular Cerebral que ceifou a sua vida de poeta.



Segundo nota de Assis Brasil, em A poesia baiana do século XX, pertence à geração Revista da Bahia, juntamente com Cyro de Mattos, Fernando Batinga de Mendonça, Marcos Santarrita, Alberto Silva. Estes, e mais José Carlos Capinam, Ruy Espinheira Filho, Adelmo Oliveira, José de Oliveira Falcón, Carlos Falck, Maria da Conceição Paranhos entre outros "formam um panorama fecundo e variado" a partir da década de 60.



Possui vários livros publicados, como Imago, Ditado, O canto do homem cotidiano, Tapete do tempo, Poemas seletos, Livro de salmos, IX Sonetos da Inconfidência, Lídia de Oxum, O amor é um pássaro selvagem, O domador de mulheres, A arte de traduzir... entre outros. É ganhador, entre tantos prêmios, do Leonard Ross Klein, de tradução; do Afrânio Peixoto, de ensaio; do Fernando Chinaglia, de poesia; e do prêmio nacional do centenário de Jorge de Lima. É bacharel em Direito e licenciado em Letras pela Universidade Federal da Bahia; mestre pela Southem Illinois University; doutor pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; pós-doutor pela Universidade de Lisboa.



Seu trabalho como jornalista compreende participação em vários periódicos, entre os quais, Diário de Notícias, Jornal da Cidade, A Tarde e Tribuna da Bahia. Membro praticante do candomblé, foi consagrado Ogan Omi L’arê, na casa de Oxum, e Obá Arê, na casa de Xangô e no Axé Opô Afonjá. É cidadão da cidade de Salvador desde 1986.



É muito difícil, para mim, falar de tamanha perda; assim como à toda grande Literatura Brasileira. Ildásio Tavares é da mesma linha de um Bruno Tolentino ou um Ferreira Gullar. Sua vida e sua obra se cercaram de uma busca incansável pela qualidade poética e pela defesa da mais pura tradição de nossas Letras. Homem formidável, polêmico, de rara cultura e inegável talento, sempre foi solícito aos novos aspirantes e jamais lhes negou o seu papel de professor, como aconteceu a este humilde poeta, pois foi Ildásio quem prefaciou, com sabedoria e elegância, o meu último livro. Agora, como muitos, este humilde poeta, como muito, chora a sua morte.



Como me faltam as palavras “mais burocráticas” neste momento, talvez a melhor maneira para me despedir de um poeta seja com poesia; por isso, deixo, aqui, um soneto que fiz com base em um de seus poemas e que eu, muito agradecido lhe dediquei, fazendo deste a minha maneira mais sincera e particular de lhe dizer: obrigado, Mestre e até breve, meu Amigo!







[OFÉLIA]





ao mestre, amigo e poeta Ildásio Tavares... este bastardo





Meu coração é um cabedal de sonho

de dores que antecedem cada instante

e a noite há de chegar, assim suponho

como a pisada brusca de um gigante.


De ausência e de desejo, em vão, componho

uma canção cafona e dissonante

e, ao ver tal despautério, então suponho:

sou talentosa como um elefante!


Ah, andai meus pés, andai que o rio espera

nossas cruéis lembranças, nossos corpos...

pois quem jamais amou melhor viveu.



Se eu vejo outro nascer? A Nova Era...?!

Eu vejo o que eu vivi; vejo os meus mortos;

quem dá valor a vida é quem morreu.


quinta-feira, 28 de outubro de 2010

MANUŞI ROSŞII ("LUVAS VERMELHAS"): O COMUNISMO COMO ELE É, MAS COMO POUCOS, AQUI, CONHECEM...


Cartaz de Manuşi Roşii (“Luvas Vermelhas”) do cineasta romeno, Vitoria Cociaş.



Um grande amigo meu, Elpídio Fonseca, me recomendou este filme: Manuşi Roşii (“Luvas Vermelhas”) do cineasta romeno, Radu Gabrea.




Segundo ele, este filme mostra de perto a desumanização, através da tortura física e moral, a que o Comunismo submeteu suas vítimas, e as conseqüências nefastas desse regime. É, sem dúvidas, uma oportunidade única. Em um país como o nosso, louco por ditadores, miséria e Comunismo, como qualquer “República de Bananas”, que fecha os olhos para tantas desumanidades, em nome das ideologias mais tolas, e que há anos tenta controlar as coisas que vemos e que assistimos, até mesmo o nosso gosto, parece-me que os organizadores se confundiram e deixaram passar tamanha jóia.



A ação ocorre em 1956/ 1957; é o primeiro filme romeno a mostrar as condições inumanas a que os comunistas submetiam as pessoas, muito mais interessados em desinvidualizá-las do que a provar qualquer crime. Felix, o protagonista, no princípio resiste bem a todas as privaões e torturas, mas é levado a um ponto tal de desespero, que chega a, sem querer, inculpar o próprio irmão de um “crime” que não ocorreu.





Neta época, em que vivemos à sombra de idéias terríveis e que sutilmente vêem minando a nossa democracia e anossa moral, assistir a Manuşi Roşii (“Luvas Vermelhas”) é algo indispensável.



terça-feira, 19 de outubro de 2010

UM SONETO PARA IVAN AIVAZOVSKY


A tempestade de Ivan Aivazovsky, óleo sobre tela, 221x332, Museu de são P


Navegas meus temores como um barco,
sem adeuses, silêncios, nem presságios

que esperarão por nós em cada porto...

Vestido com a dor de antigas feras

eu vejo, em cada cais, os mesmos arcos

redesenhando o fim de iguais jornadas,

refeitas tantas vezes entre os loucos

que avistam, entre sonhos, outros mares.

Para imitar, do mar, seu renascer

eterno – seu começo tantas vezes

já desfeito –, navegas meus temores

neste barco sem velas e sem leme,

mas com as formas e a cor do teu intento,

neste vagar sem fim entre as procelas.





DE PROFUNDIS CLAMABO AD TE, DOMINE...


Algumas ossadas das milhões de vítimas do Khmer Vermelho, nome nome dado aos seguidores do Partido Comunista da Kampuchea, que foi o partido governante no Camboja de 1975 a 1979, liderado por Pol Pot, Nuon Chea, Ieng Sary, Son Sen e Khieu Samphan. O regime liderado pelo Khmer Vermelho de 1975 a 1979 foi conhecido como Kampuchea Democrática. Suas políticas de “engenharia social” resultaram em um genocídio sem precedentes. Suas tentativas de reforma agrária levaram à fome generalizada, enquanto sua insistência na autossuficiência, até mesmo nos serviços médicos, levou à morte de milhares de pessoas em conseqüência de doenças tratáveis (tais como malária). Execuções brutais e arbitrárias e tortura praticadas por seus oficiais contra elementos considerados subversivos, ou durante expurgos em suas próprias fileiras entre 1976 e 1978 são consideradas como tendo constituído um genocídio... O Khmer Vermelho é só mais um exemplo de uma bem sucedida República da Bruzundanga Vermelha e de suas políticas sociais – Será que Deus aprova isso?






Nestas últimas semanas, minha caixa de E-mail tem se enchido de mensagens, oriundas de um país não muito distante, a República da Bruzundanga Vermelha. Não aquela nação tropical, descrita pelo velho Lima Barreto, mas sua versão paradisíaca, à semelhança de uma ilha muito admirada pelos líderes da Bruzundanga Vermelha. A Bruzundanga Vermelha é como qualquer país da América latina, onde ela fica, é louca por ditadores, miséria e Comunismo... não necessariamente nesta ordem.

Tudo começou após o início do não esperado (e menos ainda desejado) segundo turno para as Eleições Presidenciais na República da Bruzundanga Vermelha, porque a Bruzundanga Vermelha é uma república, mas bem que poderia ser um reino, ou melhor, um feudo – quase uma capitania hereditária. São mensagens repletas de defesas exasperadas a favor de seu atual governo, de sua candidata, pois na Bruzundanga Vermelha o sistema de cotas se faz valer, e daquele dalai-lama nascido na região nordeste da Bruzundanga Vermelha, mas que chegou ao seu bodhissttva Avalokittessvar liderando metalúrgicos no ABC bruzungandense. Mas que ninguém se engane, na Bruzundanga Vermelha, que é muito religiosa, impera o Catolicismo Vermelho; e tem até padroeiro: Sto. Antônio Gramsci, protetor dos cínicos, dos revoltosos e dos que têm sede de poder. É uma plêiade infindável de cálculos, gráficos comparativos, números duvidosos, além de elogios adulatórios, gritinhos de guerra, manifestos e um famigerado ufanismo quase a berrar: AME-O OU DEIXE-O!!!

A quantidade de apelos é tão grande que não me sobrou nenhuma alternativa que não fosse o bom uso da tecla – e do termo – delete, e duas singelas perguntas: este aperreio todo... é medo? ou nada mais que “um grande mestre espiritual que, ao recusar os círculos de reencarnação, procura permanecer, por amor e piedade aos homens e às criaturas divinas, neste mundo sobre a feminina forma de avatar...?!

Seguindo uma lógica básica, algo que deveria ser tão bom não pode – jamais – ter tantas defesas; o facto deve falar por si mesmo a quem ele se destina e favorece... Sigamos um exemplo do grande Buda da República da Bruzundanga Vermelha e metaforizemos: se um cliente de um restaurante reclama da comida pouco salgada, ela deve ser salgada ao gosto do cliente e ponto final, porque é ele quem julga, pois é ele quem está a ser servido. Se, do contrário, o cozinheiro se põe, indignado, a defender suas habilidades culinárias e a sua “boa intenção em fazer” – certamente retirada do Inferno mais próximo, pois há muitos Infernos na República da Bruzundanga Vermelha –, não seria de se estranhar que alguns famintos, porém, exigentes clientes, procurem outro e mais agradável serviço... é uma metáfora idiota, não acham, mas na República da Bruzundanga Vermelha, toda metáfora, por mais idiota que seja, é dita com a polidez racional de um Confúcio, contanto que seja dita pelo Gyawa Rinpoche bruzungandense-vermelho, o seu Yeshe Norbbu... mesmo assim: viva ao Capitalismo!

Todavia, é um grande engano pensar que este simplório poeta perderia seu tempo, ao contrário daqueles pobres pseudoorfãos da Bruzundanga Vermelha que me enviam, constante e desesperadamente, tais indefensáveis defesas, falando de uma politicagem tão minguada e abjeta – mas não na República da Bruzundanga Vermelha – sem um motivo maior... Esse motivo, evidentemente, será sempre a Literatura. A Arte, como imitadora, ou melhor dizendo, recriadora da vida, vale-se de uma série de exemplos que bem caracterizam este como outros momentos que nós, e os moradores da República da Bruzundanga Vermelha, temos vivido. Se estes exemplos fossem assimilados e, conseqüentemente, seguidos, muita inutilidade seria evitada... a começar pelo assunto que gerou esta conversa.

De todas as tentações que a Esquerda política possui... ah, esqueci de dizer: a República da Bruzundanga Vermelha é comunista, adepta da Esquerda política e do Materialismo Histórico, principalmente porque a maioria de seus habitantes não têm idéia do que seja isso...

De todas as tentações que a Esquerda política possui e impõe, covardemente, aos seus – e a República da Bruzundanga Vermelha não está isenta desta prática –, a vontade de fazer o bem é a pior delas. E que bem é este: é o bem imposto à força, na marra, na “mão grande”; é a proteção que não pedimos, mas nos é imposta assim mesmo para nos proteger de tudo... inclusive de nós mesmos. Na República da Bruzundanga Vermelha é assim: as pessoas se sentem bem e, por causa desta sensação de bem-estar, aceitam uma corrente invisível que é muito mais forte que a mais curta e mais dura corrente do mais puro aço. Este bem imposto, diz: Não fume! E os bruzungandenses, por exemplo, não fumam; não porque não querem fumar, mas porque, em nome de uma visão moral que os descriminam e faz com que eles também se sintam descriminados pelos outro e por si mesmos, por mais que esta visão moral os ame e eles também se ames, aceitas esta inquietação espiritual que salvará os seus pulmões, mesmo que isto signifique destruir a suas individualidades. Mas, à exceção de um dinamarquês lunático nascido em Copenhague em meados do século retrasado, quem é que se importará com isso...!?

Mas onde é que a literatura entra nessa história toda?! Ora, pra que coisa mais literária do que a República da Bruzundanga Vermelha? A República da Bruzundanga Vermelha é poética. A República da Bruzundanga Vermelha é semelhante a Fernando Pessoa; é heteronímica. Saramago queria fazer de Portugal uma República da Bruzundanga Vermelha. A velha República da Bruzundanga Vermelha é uma fingidora; chega a fingir que não-é dor a dor que deveras sente. A República da Bruzundanga Vermelha é tão parecida com aquela outra Bruzundanga do Lima Barreto que tem uma lei que diz que se a lei não for conveniente à situação esta lei não é válida.

Além do mais, quem mais conhece este tipo de situação, caro leitor, onde o bem é imposto a todo custo do que aquele ardiloso e bravo Odisseu, do poema de Homero? Ciente de que, por detrás do mel, do leite e do vinho de Polifemo, nada mais existe do que a morte inevitável ou que, ao lado da beleza irreal de Circe – ...tyrannique aux dangereux... –, nada lhe sobre além de viver um tempo imerecido e um prazer que não pediu, ou se transformar (literalmente) num porco, o rei de Ítaca mostra como fugir a tudo isso: com inteligência. Não aquela inteligência estóica, ao mesmo tempo nobre e ressentida, mas uma inteligência sem amarguras, à maneira dos grandes mestres gregos ou mártires do Cristianismo, a propor algo bem mais eficiente e difícil: a transfiguração, como muito bem alertou Nicolae Steinhardt. Se assim não for, se assim não se agir, todos viverão como os habitantes da República da Bruzundanga Vermelha, com aquela eterna e tola impressão de que a verdade é irrevelável, que a verdade jaz aprisionada em um futuro de sonhos, ou pior, no próprio sonho de futuro a prometer um ontem, pelo menos, aceitável.

Aproveitando-me da literatura de Steinhardt e da Bíblia – sim, a Bíblia é também Literatura... e das boas – é impossível não falar da salada religiosa que se propagou durante a campanha para presidente na República da Bruzundanga Vermelha e de como o nome de Deus é usado como manobra de covardes. Imagine só, a república da Bruzundanga Vermelha é comunista, logo, Deus deveria ser o LSD do povo da Bruzundanga Vermelha, mas que ninguém se engane, na República da Bruzundanga Vermelha, que é muito religiosa, impera o Catolicismo Vermelho; e tem até padroeiro: Sto. Antônio Gramsci, protetor dos cínicos, dos revoltosos e dos que têm sede de poder... Logo Deus, logo o Cristianismo, que é matéria dos corajosos, basta a consulta de passagens bíblicas como: Mateus 9, 2; 9, 22; Marcos 10,49; Lucas 8, 48; “Tende confiança, filho, tende confiança...” –, típica exortação de Cristo. Marcos 5, 36; Lucas 1, 13; 1, 30; 5, 10; 8, 50... “Não temais, jamais tenhais pavor...!” – Típico encorajamento de Cristo. Além de II Timot. 1,7; Filip. 1, 28-30 e Hebr. 13, 6. Todas citadas por Steinhardt, em seu O diário da felicidade...

Quando é sabido, mesmo pelo mais ingênuo dos ignorantes, que toda ideologia de Esquerda, inclusive a que impera na república da Bruzundanga Vermelha, é uma ideologia de morte, de negação da vida e de Deus e, mesmo assim, na república da Bruzundanga Vermelha, os possíveis continuadores de seu governo (porque a Bruzundanga Vermelha é uma república, mas bem que poderia ser um reino ou feudo ou quase uma capitania hereditária) valem-se do nome de Deus para conseguir se impor e se perpetuarem no poder, duas coisas são evidentes: a primeira é que, seja na República da Bruzundanga Vermelha, como em qualquer outra Bruzundanga, não existem limites para a hipocrisia nem para a estupidez dos homens e o político de esquerda, seja na Bruzundanga Vermelha ou em qualquer outra, é alguém que sempre se valerá do mais baixo grau de vileza para conseguir seus objetivos, superado apenas por aqueles que, tendo feito uma escolha pelo caminho contrário, aliam-se a tais estúpidos na tola crença de estarem a serviço do bem; estes padres, pastores ou quaisquer “sacerdotes vermelhos”, seja aqui, na República da Bruzundanga Vermelha, como em qualquer outra nação, se fazem culpados daquele pecado, como bem acentuou o monge de Rohia, que acerca da existência estou perfeitamente convencido: o pecado da burrice. A segunda coisa é que, por mais que a Esquerda, seja na república da Bruzundanga Vermelha ou em qualquer outro lugar, queira minar os princípios morais e religiosos de nossa cultura, estes princípios sempre se mostram, para desgraça da Esquerda, mais fortes e a afirmação da vida, da ética e dos valores humanos sempre superou, sempre transcendeu os estragos físicos, morais e espirituais que loucos e degenerados sempre quiseram, e ainda querem cometer, seja na República da Bruzundanga Vermelha ou em todo lugar. Isso ainda me faz lembrar da Literatura; faz-me lembrar de um livro de Antoine de Saint-Exupéry, onde este afirma: “o essencial de uma vela não é a cera que deixa rastros, mas a luz”.

Engana-se o imbecil que pensa que a liberdade é um direito... Como afirma Rougemont: “a liberdade é a assunção de um risco”. Se Michel Foucault tivesse entendido as palavras de seu conterraneo, não teria escrito tanta besteira. A liberdade é um risco, principalmente na República da Bruzundanga Vermelha, na Bruzundanga Vermelha a liberdade ofende, impõe medo, pois a liberdade é uma aposta, é um ímpeto do espírito e é sabendo disso que os governantes da República da Bruzundanga Vermelha investem em concluir seu maior propósito cultural, educacional e literário: que todos sejam como um Hamlet, vivendo a devanear ao invés de agir, que percam mais tempo filosofando no escuro do que construindo uma atitude que transforme suas vidas, que se tenha medo ao invés de apostar, porque, no final, todo que sobra é seguir fantasmas.

Mas o Príncipe da Dinamarca, no fundo, é guiado por um senso de justiça enorme e por um gigantesco dever moral que todos os governates da República da Bruzundanga Vermelha desconhecem, ou são incapazes de conhecer, e, por mais que piore as coisas que já são péssimas, a justiça se faz e o princípio da transfiguração se cumpre. Infelizmente, a Esquerda, aqui ou na República da Bruzundanga Vermelha, ou em qualquer outro país onde impera a Esquerda, atira no que vê e mata o que não vê, aliás, mata muito... milhões... Nestes oito anos de assistencialismo porco e de sucessivas tentativas de domínio da Imprensa, por parte dos governantes da República da Bruzundanga Vermelha, criou-se um curral eleitoral de exatos 8 514 876, 599 quilômetros quadrados – ah, também esqueci de dizer: a República da Bruzundanga Vermelha é imensa. A Bruzundanga Vermelha tornou-se um país de Ofélias, rumando leves e loucas para um rio de absurdos e vazios.

Nestes inúmeros E-mails que me chegam, há um brado orgulhoso pelas quase duas dezenas de universidades erguidas pelo atual governo da república da Bruzundanga Vermelha. Eu, pobre poeta, só tenho a lamentar, porque não são universidades, a República da Bruzundanga Vermelha e seus governantes sequer sabem o que significa universidade. Na república da Bruzundanga Vermelha não existem universidades. Na República da Bruzundanga Vermelha existem criadouros, chocadouros, viveiros para marxistas, leninistas e leões-de-chácara de partidos maoistas. Ninguém na República da Bruzundanga Vermelha aprenderá, um dia, qualquer coisa sobre Platão, Aristóteles, Sto. Agostinho, Tomás de Aquino, Leibnitz, José Bonifácio de Andrade e Silva, Kierkegaard, Rui Barbosa, Husserl, Miguel de Unamuno, Ortega y Gasset, Eric Voegelin, Mário Ferreira dos Santos, Costantin Noica, Olavo de Carvalho, Northrop Frye... A República da Bruzundanga Vermelha é um país de Ofélias.

Para terminar, vou falar do Diabo; é preciso falar do Diabo. O que não falta é Diabo na República da Bruzundanga Vermelha. Dos três grandes demônios ideológicos que, na trilha de todo cientificismo racial desenvolvido na Era Vitoriana, mancharam de sangue e de indiferença todo o século XX – o Nazismo, o Fascismo e o Comunismo – apenas o Comunismo não foi exorcisado, pousando, até hoje, de bom moço... Logo o mais assassínio, o mais alienador, o mais parasital, o que se vale do bem para fazer o mal, o que faz uso da verdade para transmitir mentiras, que traz a idéia de liberdade para aprisionar, punir e matar gerações inteiras a um ponto que, mesmo com a descoberta de suas maldades, mesmo com a comprobação de seus crimes, para seus mentores e prosélitos, tudo isso nunca vai passar de uma mera intriga da oposição, tudo nada mais é do que a maquinação dos inimigos do Ideal e do Sonho... Eis, aí, caro litor, o pior dos Diabos, o Inimigo, o Mefistófeles descrito por Goethe, em seu Fausto, para quem o sonho é maior do que a realidade e deve ser mantido a qualquer custo, mesmo com a substituição do real pela idéia do real. Na República da Bruzundanga Vermelha é assim.

Oh, Senhor, porque não damos ouvidos a poetas e a profetas...!?

Apesar de tudo, os E-mails continuam chegando, proliferando como baratas de um boeiro, ou, ao melhor estilo de Aluísio Azevedo, como larvas no esterco, indicando que, na República da Bruzundanga Vermelha, como aqui, na nossa Bruzundanga Aureverde, esta substituição do real pela idéia do real não tem deixado muita gente satisfeita, como se quiria. O que fazer? Continuar apagando-os? Vestir uma camisa do Che Guevara? Mandar todos para a..., fazer um pneumotorax? Ou, simplesmente, como o Manuel Bandeira, dançar um tango argentino? Mas, com tantas defesas, afirmações, reafirmações, clamores e manifestos dos sectários do nacionalismo canhoto, o Diabo não tem sido muito sedutor... E se não consegue ser sedutor, talvez não sirva nem como Diabo.

Feira de Santana, 15 de outubro de 2010.

sábado, 16 de outubro de 2010

CAYMMI... TRÊS VESES CAYMMI...






Com um histórico de grandes apresentações e show marcantes, onde a qualidade de tudo que é mostrado é incontestável e se apresenta como a principal meta de sua direção, o Núcleo de Cultura Popular, do Centro Universitário de Cultura e Artes (CUCA), nesta próxima quinta-feira, homenageará ninguém menos que Dorival Caymmi. Para isso, contará com o trabalho poético musical da cantora baiana, Marilda Santana.

A cantora, que é também atriz e professora de canto, traz o sabor do mar e calor baiano em músicas como Dora de Dorival Caymimi e Não tem Solução (Dorival Caymimi/Carlos Guinle). O melhor da música brasileira está representado, também, pela releitura de Dindi (Tom Jobim/Aloísio de Oliveira), porém a suavidade e leveza do trabalho estão concentradas nas músicas inéditas. Comemorando vinte anos de carreira, Marilda Santana lança seu primeiro disco de canções inéditas como Ouvindo e Entendendo Estrelas (Carlinhos Marques/Lapa), Curta (Tito Bahiense) e releituras.

Marilda é uma voz nova para os ouvintes da música brasileira. É a certeza de um espetáculo de muita qualidade para o público de Feira de Santana e região que poderá conferi-la dia 22 de outubro, próxima sexta-feira, às 20h, no teatroo de Arena do CUCA, que fica à rua Conselhiro Franco, 66, Centro, Feira de Santana-BA.
A ENTRADA É FRANCA!!!

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

UM MOSAICO DE SIGNOS: "AS FLORES DO OCASO" NOVO LIVRO DO POETA BERNARDO LINHARES


O poeta e amigo Bernardo Linhares, autor de As flores do ocaso...



As flores do ocaso, Via Litterarum, 2010... Apenas R$ 20,00.




Em seus 50 anos de vida, Bernardo Linhares lançou um livro, e daí? Daí que meu amigo não lançou um mero livro, porque também não é um mero poeta. Em seu livro, As flores do ocaso, Bernardo nos apresenta uma poesia madura e admirável, onde forma fixa, aliada à livre cadência de ritmos, compõe uma das obras mais singulares de nossos últimos tempos por se tratar, principalmente, de um livro contemplativo, que nos apresenta uma postura positiva da vida e de toda a beleza que ela nos oferta dia após dia. Certamente, este é um livro que afirma a vida em seu melhor sentido e em sua melhor forma, porque é, acima de tudo, um livro de poemas e de grandes poemas, através de um incrível mosaico de signos, cores e versos que nada mais são que a tradução de uma das melhores virtudes que alguém, poeta ou não, pode ter: a Admiração.




Adquira-o através do site: vendas@vleditora.com.br


Eu recomendo...






RAPINA


a Zeca de Magalhães




Leque ríspido, incoercível pássaro,
asas abertas, navegando cactos,
seguindo a seca que fulmina os círios,
a rapina aterrissa em crucifixo.

Meia noite, pau d’arco, corre a lágrima
da carneira tábida, a nave mármore
com ossos no ninho, coroa e espinhos,
insere duas cruzes no epitáfio,

depois aponta o bico para o céu.
Mal aventurada, cruel, rapina,
fera faminta, infeliz e funérea.

Sua fúria desafia e fascina,
ela, que vigia no mundo a miséria,
a morte, amigo,é que ilumina a Terra
.



terça-feira, 5 de outubro de 2010

LANÇAMENTO DE "SILÊNCIOS"... PRIMEIRO LIVRO DO POETA E ENSAÍSTA GUSTAVO FELICÍSSIMO...


O amigo e poeta Gustavo Felicíssimo pela lente do fotógrafo Pedro Augusto


SILÊNCIOS
Editora: Via Litterarum
Formato: 15 x 15 cm
Páginas: 92ISBN: 978-85-98493-56-5
Valor: 20,00

Com uma belíssima capa, que traz os elegantes traços a nanquim de Clóvis Márcio, e projeto gráfico muito feliz, Silêncios, de meu amigo e poeta Gustavo Felicíssimo, será lançado neste sábado, dia 09 de outubro, na Livraria Praia dos Livros, Porto da Barra – ao lado do Instituto Mauá – em Salvador.

Como já tive a oportunidade de dizer aqui, Silêncios, é uma obra imersa em formas oriundas do Japão e gestada durante os últimos dez anos. Essa obra foi organizada, originalmente, para atender a um edital do MEC (portanto, sem distribuição comercial), e traz como posfácio o ensaio Flores de Cerejeira, no qual o poeta, ele mesmo, traça os principais aspectos do haikai no Brasil. Além da maturidade do conteúdo, apontada e elogiada por críticos como Carlos Verçosa, Silêncios traz um fato novo para a poesia baiana: a publicação em livro de diversas formas da poesia japonesa, fato raro também no país.
A tiragem, infelizmente, será de apenas 500 exemplares, o que ajudará a constituí-lo como um livro “raro”. Quem não poder comparecer ao lançamento e tiver interesse, ao custo de 20,00 (incluindo a postagem), pode escrever para: gfpoeta@hotmail.com – email do poeta, ou fazendo contato com a sua editora: vleditora@gmail.com e http://www.quiosquecultural.com.br/.

Não deixem de de ir nem de adquiri-lo...
Aproveitem, também, e confiram a entrevista do poeta para a revista eletrônica de cultura Diversos & Afins:
PEQUENA SABATINA AO ARTISTA
Por Fabrício Brandão
No vasto panorama da literatura brasileira há sempre pessoas impulsionando o motor das criações. Nesse vão, apenas ter vontade soa como algo por demais reducionista, sendo necessário abarcar uma visão capaz de abreviar as distâncias entre as projeções e a realidade que urge cada vez mais complexa. Hoje, não são poucos os que se propõem a capitanear movimentos em prol do fazer literário. Apoiados sobretudo nos recursos trazidos pelas mídias digitais, editores e autores travam verdadeira cruzada por aquilo que consideram um caminho viável a seguir. Na compressão tempo-espaço, nos foi dado conhecer e acompanhar as articulações de pessoas das mais diversas orientações, todas elas elegendo gêneros a percorrer. Gente como o paulista Gustavo Felicíssimo, poeta que hoje se afigura verdadeiro militante em defesa das palavras.Residindo na Bahia desde 1993, Gustavo é exemplo vivo de uma vida dedicada à literatura. Além de poeta, é pesquisador e ensaísta. Em Salvador, juntamente com outros escritores, fundou o tablóide literário SOPA, do qual foi seu editor. Venceu o Prêmio Bahia de Todas as Letras, edição 2009, em duas categorias: Poesia e Literatura de Cordel. Organizou e fez publicar Diálogos – Panorama da Nova Poesia Grapiúna, hoje em sua segunda edição. Tem fomentado diversos eventos literários e conduz com valiosa obstinação um trabalho fundamentado na pesquisa, sobretudo poética. Fruto de seus estudos e de sua investida apaixonada, nasce seu livro de estreia, Silêncios (Editora Via Litterarum), publicação voltada para o haikai e que será lançada no dia 9 de outubro, em Salvador. Nessa entrevista, Gustavo discorre sobre a importância do haikai na cena literária nacional, além de pontuar aspectos sobre sua trajetória enquanto resignado ativista cultural.




DA – Mesmo tendo uma longa trajetória voltada para os versos, digamos assim, mais tradicionais, você está em vias de lançar seu primeiro livro, Silêncios, obra dedicada inteiramente ao haikai. O que determinou essa sua escolha?

GUSTAVO FELICÍSSIMO – Nesse trabalho, publico poemas imersos em formas originárias do Japão. Além do haikai, há capítulos com tankas, haibuns, senryus, haikais encadeados e, como posfácio, um estudo sobre os mais relevantes aspectos do haikai no Brasil. Trata-se da primeira vez que se publica uma obra com essas características na Bahia. A possibilidade do pioneirismo e a qualidade, apontada por especialistas, que a obra traz fizeram-me optar por sua publicação agora.

DA – Há, de fato, um hiato muito grande entre o haikai japonês e o poema ocidental?

GF - Essa resposta pode ser dada de muitas maneiras. Dependendo da visão do poeta, sim e não são justificativas plausíveis. O haikaísta que segue o cânone do tradicional haikai japonês dirá que sim, embora as transformações havidas no Japão e no mundo tenham ampliado o seu horizonte. O haikai foi utilizado à maneira que melhor se adequou à necessidade de cada autor e lugar.

Parece-me coerente e apropriado fazermos uma síntese de como o haikai se desenvolveu em língua portuguesa no Brasil, pois nossas primeiras referências, curiosamente, têm como base autores franceses, não japoneses, como podem pensar.

O baiano Afrânio Peixoto introduziu o haikai no Brasil do mesmo modo como era feito na França: com título, métrica de 5/7/5 e sem rima, como esse que é de sua autoria:

A BELEZA ETERNA
O sabiá canta,
Sempre uma mesma canção:
O belo não cansa.

Após, Guilherme de Almeida trouxe uma proposta que até hoje chamam de parnasiana. Ele introduz rimas no haikai; uma entre o primeiro e o terceiro verso, outra que acontece entre a segunda e a sétima sílaba do segundo verso, veja:

VENTO DE MAIO
Risco branco e teso
que eu traço a giz, quando passo.
Meu cigarro aceso.

Somente após esses momentos, o haikai tradicional, oriundo da lavra de japoneses radicados no Brasil, veio à tona, sem título ou rima, mas mantendo a métrica. Podemos defini-lo como aquele que melhor valoriza os elementos da natureza procurando captar um instante, uma paisagem, referindo-se ao agora, de forma simples e com sentido completo, como esse do mestre Oldegar
Vieira:
Junquilhos envergam.
Flores de neve pousan donas
hastes, de leve.

Mas quando falamos de haikai no Brasil, o nome de Paulo Leminski surge invariavelmente em primeiro plano. Alinhado aos valores contraculturais e libertários dos anos sessenta, Leminski produziu uma obra tensa, densa e provocadora como a sua própria personalidade. Ele produziu um haikai livre de amarras, cheio de sacadas, clicks, como dizia. É de sua lavra o seguinte haikai:
passa e volta
a cada gole
uma revolta

DA - Percebe-se que o haikai ainda não é um gênero tão difundido no Brasil. A que possíveis razões você atribui isso?

GF – Não vejo assim. Hoje há até experiências de haikai na sala de aula em alguns lugares do país e dois grupos de estudo e discussão sobre o tema na internet, ambos capitaneados por grandes mestres, onde aprendi muito. Ademais, o haikai influencia a poesia brasileira desde o modernismo. Em Oku – Viajando com Bashô, obra fundamental de Carlos Verçosa, há uma passagem de uma carta de Drummond para Oldegar Vieira, onde ele afirma que “o gênero sempre me atraiu pela graça, leveza e poder de síntese, alcançando mesmo, às vezes, profundidade conceitual”. Em Alguma Poesia (1930) Drummond publicou um poema que, não raras vezes, é identificado como um haikai:

Stop.
A vida parouou foi um automóvel?

DA – Silêncios possui uma condução que remonta à pesquisa poética, quiçá um verdadeiro estudo sobre as ramificações do haikai. Qual o maior desafio na concepção de uma obra como esta?

GF – Parece-me que talento, conhecimento e prática estão na base de tudo. As paredes de uma casa, por exemplo, não devem ser levantadas sem que haja o alicerce. A mesma coisa se dá na poesia.

DA – Você é um militante literário incansável e, frequentemente, garimpa e descobre poetas e outros tantos autores. O que considera mais árduo nesse tipo de jornada?

GF – Faço o que está ao meu alcance e, às vezes, além dele, participando como membro do Comitê do Proler aqui na região sul da Bahia, promovendo saraus, debates, colóquios, seminários e até organizando a publicação de algumas obras, como é o caso de Diálogos, já em segunda edição. Mais árduo nesse tipo de jornada é se perceber, muitas vezes, gritando para surdos e acenando para cegos.

DA – Em sua opinião, qual é o principal impacto trazido pela literatura digital?

GF – Eu não saberia dizer ao certo. Parece ainda muito cedo para conclusões. Observo o fato de que a mídia impressa está mais voltada para os vestibulares, por isso a considero superficial. Já os cadernos literários dos jornais que ainda sustentam esse tipo de publicação, cada vez mais são lidos apenas por escritores e alguns apaixonados. Por sua vez, a internet está cumprindo importante função ao democratizar o acesso a autores que, não fosse por ela, certamente jamais seriam lidos por nós. Em oposição, a facilidade de se publicar em meio virtual esconde um sem fim de coisas que sequer merecem serem lidas.

DA – Entre seus planos para o futuro, está o desejo de fundar um portal sobre a literatura baiana. Há algum projeto definido para isso?

GF – Certamente. Em pouco tempo colocaremos no ar um site à altura da literatura baiana e também uma editora voltada exclusivamente para o meio virtual.


DA - Muitos são os que escrevem, mas poucos são os afeitos à escuta, ao aprendizado pautado em referências clássicas, formais ou fundamentadas. Acredita que tal conduta seja um sério desvio de nossos tempos de então?

GF – Essa é uma particularidade que faz parte da literatura de todos os lugares em todos os tempos e não nos estranha. Seria bizarro se a mediocridade imperasse sobre o conjunto literário da nação. Os estelionatários intelectuais estão condenados desde sempre, pois sempre haverá um facho de luz brilhando na escuridão.


DA – Afinal, o que buscam os poetas?

GF – Cada poeta busca, ao seu modo, a chave para esse enigma. As descobertas são muitas, por isso o sentido de Ser e Estar no mundo possui significantes que se perdem nas profundezas da palavra. Daí a assertiva de Gullar, para quem o poeta deve buscar o indizível sabendo o que quer dizer.