sexta-feira, 31 de agosto de 2012

C’EST LÀ SON CHARME ET SON SECRET...

Os Gatos, sobre um poema de Charles Baudelaire de Gabriel Ferreira, 
acrílico sobre papel Paraná, 21X29,7, 2005. (Coleção particular)





C’EST LÀ SON CHARME ET SON SECRET...*

ao Ferreira Gullar






 Amar um cachorrinho é coisa fácil
girante leve e livre sobre si
a perseguir sem paz o próprio rabo
e esculpindo em seus giros a indiscreta

condição de submisso. E um passarinho?
Ao menos voasse livre nesta azul
gaiola de esplendor e espanto... Não,
há de morrer contrito em meio às grades

sem nenhuma expressão alegre ou forte –
mero flautim de exíguo e falso trilo
 – sem que um taxidermista o eternize.

Amar uma tartaruga? Bem mais fácil...
 – E um coelho...? – Que bobagem!... Quero é ver
quem é que se propõe a amar um gato.





* Este poema foi publicado pela primeira vez na revista Dicta&Contradicta, n. 8, junho de 2012.




quarta-feira, 29 de agosto de 2012

ONTEM, NA ACADEMIA BAIANA DE LETRAS...



Da direita para a esquerda:  Cláudia Cordeiro, Walter Ramos, Gustavo Felicíssimo e Silvério Duque 


ONTEM, NA ACADEMIA BAIANA DE LETRAS, FOI LANÇADO O LIVRO CONTOS DE CONTAR, DO POETA ALBERTO DA CUNHA MELO, EM COMEMORAÇÃO AOS SEUS 70 ANOS. LÁ, TIVE O IMENSO PRAZER DE DIVIDIR A MESA COM A SRA. CLÁUDIA CORDEIRO (ESPOSA E RESPONSÁVEL PELA OBRA DO ALBERTO), O EDITOR WALTER RAMOS E COM O POETA E AMIGO GUSTAVO FELICÍSSIMO, UM CULTUADOR DE SEU TRABALHO, POR ASSIM DIZER. O TEXTO QUE SE SEGUE É A TRANSCRIÇÃO, NA ÍNTEGRA, DE MINHA FALA: 


 ***



ALBERTO DA CUNHA MELO: POETA MAIOR
por Silvério Duque





Que ninguém é profeta em sua terra – vá lá – isso é uma grande verdade, mas nem sempre quer dizer que tudo seja desvantagem; eu, por exemplo, nunca falei na Academia de Letras de Feira de Santana, minha terra tão amada e, às vezes, um pouco ingrata para comigo, e, de repente, vejo-me aqui, na Academia Baiana de Letras, conhecendo uma série de poetas e articuladores que tanto fizeram e fazem pela arte e pela literatura, tanto de nosso Estado quanto a de nosso País, os quais, diga-se, tenho a mais profunda admiração, aquele tipo de sentimento de amizade de que tanto filosofou Aristóteles. E é em meio a este caloroso clima muito mais de fraternidade, do que de gélido espírito academicista, que me proponho a falar da poesia de Alberto da Cunha Melo.

Foi, literalmente, pelas mãos de um amigo querido, o crítico Jessé de Almeida Primo, que os recebera do também Bruno Tolentino, grande amigo e admirador do poeta pernambucano, que li os primeiros esboços de Yacala, um de seus maiores livros e uma das mais bem sucedidas narrativas de nossa literatura, num pequeno códex encadernado e datilografado pelo próprio autor, o que, para mim, já mostrava o cuidado e o capricho que, em tempo, revelar-se-iam em sua poética.

Foi desta forma que conheci os versos de Alberto, sob as circunstâncias as quais todas as grandes poesias se nos chegam: como uma chuva repentina num domingo de pique nique. Foi assim que a minha admiração pela obra de Alberto da Cunha Melo se fez diante de meus olhos: como o grande milagre que toda poesia é, sem nunca mais me libertar daquela emoção que só quem se sabe diante de algo realmente grandioso reconhece.

Os grandes poemas, como os de Alberto da Cunha Melo, têm essa capacidade, ou seja, a de nos arrebatar para outro estado de consciência e de perplexidade.

Com a poesia de Alberto não poderia ser diferente, pois, para mim, sua obra sempre sintetizou a força e a segurança da tradição com a versatilidade e a engenhosidade empolgante das produções mais atuais... e atuantes. Ela tanto se presta à reflexão temática, bem como à multiplicidade técnica, e por isso se faz digna tanto dos grandes e antigos quanto dos novos mestres. Seja orando por seu poema ou a refletir schopenhaureanamente num antigo escritório da Mesbla, foi-me muito fácil reconhecer que um poeta tal qual Alberto da Cunha Melo não buscaria a redenção pelo humor ingênuo, muito menos pela liberdade irresponsável da total falta de regras, como se convencionou entre a maioria de nossos bardos desde 1922, e sua herança maldita. Seus poemas são como uma grande e continua elucubração sobre muitos dos temas mais caros à humanidade, e é sempre com muita humanidade que eles se apresentam ao público leitor. Mesmo salvaguardados por uma espeça camada de erudição, seus versos fluem sobre os diversos conflitos éticos, morais e psicológicos de que costumam falar, sob o escopo de uma linguagem que se dirige a todos.

Daí eu penso que uma poesia assim só pode ser uma poesia conservadora, mas – permitam-me um imediato esclarecimento – não aquele conservadorismo preso à mimese paupérrima ou à total minimização de ideias e temas outrora grandiosamente trabalhados. A poesia de Alberto da Cunha Melo é um dos exemplos mais novos e mais perfeitos de valorização daquela que é a peça mais importante de toda poesia: a Palavra.

E, antes que alguém aqui considere minha declaração uma “pérola” da obviedade, é sempre bom lembrar que, nos últimos quarenta anos da história de nossa poesia, a desvalorização de seu elemento principal foi algo sumariamente propagandeado e seguido com o mais feroz afinco, da mesma maneira que, mesmo criticando os antigos poetas, os quais viam nas artes plásticas um modelo de elaboração a ser seguido pelos donatários da literatura, cobriram-se da mesma desculpa da maioria dos supostos pintores abstratos ao se utilizarem do falacioso argumento da não necessidade da figuração para esconder sua total falta de habilidade tanto de técnica quanto de talento propriamente dito.

A palavra, na poesia de Alberto da Cunha Melo, entretanto, volta a ganhar aquela profundidade de significados que, desde Cabral e Drummond, e com a exceção de Bruno Tolentino, não se ouvia ecoar a algum tempo na maioria de nossos poetas que, com a desculpa de um sintetismo necessário ao mundo veloz e desafiador em que vivemos, precisava falar rapidamente ao tempo que imprimia em seu leitor uma gana de impressões indeléveis em sua mente tão ocupada, todavia, o resultado que se via era um emaranhado de vocábulos dispersos em versos soltos e descompassados que mais confundiam e enojavam que ensinavam ou traziam alguma impressão no mínimo agradável. Mas Alberto da Cunha Melo da vazão a essa ideia e a faz funcionar, não porque é um moderno melhor intencionado e sim porque é um técnico, ao mesmo tempo que se mostra um sensível observador do mundo e das inúmeras oposições as quais esse mundo se presta e, à sua maneira, evidentemente, um conservador. Conservadorismo que amalgama uma série de elementos primordiais que, trazida do passado, tem o papel de alicerçar novas e diversas maneiras de se compreender o mundo a se abrir novíssimo e gigante a cada época, a cada novo dia para qualquer poeta. É aquele conservadorismo que estava tanto em Pessoa quanto em Bandeira, em T.S. Eliot e Carlos Drummond, Auden e João Cabral de Melo Neto... mas jamais se encontrou em Mário ou Oswald de Andrade, muito menos nos irmãos Campos ou naqueles 26 poetas de um hoje que nunca aconteceu, como queria a Heloísa Buarque de Holanda.

E digo mais: Alberto da Cunha Melo é um poeta formal  (e repito isso com o mesmo tom de quem revela uma verdade incontestável, pois foi assim mesmo que me alardeou o Bruno Tolentino, aqui mesmo, em Salvador, entre uma mariscada e uma boa conversa, há alguns anos). Mas como isso se elabora dentro de qualquer poeta é a grande questão... Infelizmente, a grande maioria dos leitores, mesmo os mais preparados, entende forma como uma elaboração simplória de versos, quando, na verdade é o resultado da elaboração interior de cada poema.

Sabendo disso, Alberto da Cunha Melo vai além do mero formalismo; ele é um criador de formas, da Retranca – por pior ou simplesmente “dissonante” que este nome me soe aos ouvidos –, para ser mais exato, e criar uma forma é muito mais que inventar uma medida; é a realização de um conteúdo apropriado ao ritmo, à rima e, sobretudo, à ideia contida nos versos. E isso se dá de uma maneira muito próxima do filosofar, até porque tanto a poesia quanto a filosofia nascem do mesmo principio: o da perplexidade. E se nenhuma filosofia que se preze afirma qualquer coisa sem verificação, confirmação ou agravamento, a poesia não faz diferente, todavia, contrariamente, não tenha um compromisso em dizer ou muito menos provar uma verdade. Embora a poesia apresente um grau de objetividade (sim, objetividade), que pode se dar ao luxo de não apresentar provas ou argumentos, quando muito um exercício de estilo, e a forma em que o poema se apresenta passa a ser o seu próprio argumento, por isso a poesia é o uso demasiado e perfeito da palavra, mas sem se voltar diretamente a um leitor específico, e, dessa maneira, falando a todos ao criar, agora sim, a subjetividade que lhe é essencial e sempre peculiar.

A poesia é elaborada para dizer algo que à própria forma se apresenta, e Alberto da Cunha Melo sabe disso, sabe que a forma é calculada para dizer algo que não se vê à primeira vista no texto, é seu caráter mimético; essa característica é intrínseca a qualquer texto que se diz poético, cada ritmo, rima e distribuição de um poema é a contrafação de algo que nele se encontra e dele se apresenta.  Disso se entende que toda poesia é necessidade de transbordamento e a forma é o meio pelo qual este transbordamento escorrerá. Uma das missões que cabe ao poeta é a de não se conter; dessa maneira, não há dúvida de que o poeta é um possuidor daquela “sã loucura” comum tanto aos santos como aos educadores e que conhecemos pelo singelo nome de vocação: de fazer aquilo que deve ser feito; que se espera que seja feito, mas poucos, verdadeiramente, propõem-se a fazê-lo.

E digo mais: muito embora senhor de seus versos, Alberto nos faz relembrar que há uma lei que antecede o próprio ato de criar um poema e a relação que estes poetas têm com esta lei distingui-os muito intensamente dos meros coladores de verso. E muito me alegrou quando, da primeira leitura da poesia de Alberto, ver que este poeta também sabia a quem, e como falar, ao agradecer por seu notável engenho e sua inigualável arte:


Senhor, nesta manhã de outubro,
ainda com o jeito de quem ia
reiniciar longa viagem,
meu poema chegou ao fim.

Agora todo meu trabalho
é procurar uma palavra
que te agradeça humildemente
todas as outras que me deste.

Entretanto, nem mesmo isso,
posso sozinho conseguir:
Dá-me, Senhor, essa palavra,
antes que chegue o último verso.

Que ela se espalhe como as brisas
dentro das minas, de repente,
e una-se sólida na hora
em que apertar a tua mão.

Quero morrer, quero alcançá-la,
e já começo a persegui-la
como se fosse uma serpente
que fugisse com minha morte.
  

........................................................................................................................


 Sentimental ou racional, erudita ou popular, formal ou aparentemente livre (porque, no fim, não há poema livre para quem se presta a fazer um bom poema) toda poesia é demonstração, mas é também uma síntese de todos os nossos conflitos, principalmente os mais silenciosos... os mais ocultos.

Para a poesia, mostrar é muito mais que argumentar: esta lógica sempre foi mais forte no mundo dos poetas, por isso que, em se tratando de poesia, o apego aos fatos reais importa menos que a qualidade de como são contados, ou melhor, poetizados.

Muito mais que a verdade, para a poesia o que mais importa é aquela subjetividade que existe em tudo que é verdadeiro em um nível mais profundo, seus valores e posições existenciais mais básicas. Não é à toa que a transmissão de um acontecimento, feito por meio de elementos poéticos, é muito mais forte e eficaz; quando não, mais verdadeiro: assim acontece à Grécia pré-socrática, descrita por Homero, ou aquele Inferno de tormentosa beleza, que atravessamos ao lado de Dante e acontecerá, também, àquele Yacala, o antológico personagem da narrativa de Alberto da Cunha Melo, a buscar, no firmamento, aquilo que não lhe é possível enxergar a um passo de seus olhos:

Levamos fogo, não esponjas
ao trono sujo de excremento
disputando o mesmo vazio
de um estrela no firmamento;

jarros negros e estrelas, tudo
é busca de conteúdo;

ou somos renúncia ou cobiça,
atravessando esses planaltos
feitos de cinza movediça;

mas todos estamos em casa
como os voos dentro das asas.


E se mostrar é mais importante que argumentar, não me estranha que um leitor, por menos conhecedor que seja da história da literatura ou dos mecanismos mais essenciais da crítica estético-literária, passe mais tempo se deslumbrando sobre os versos de um soneto de Camões do que se convencendo de que há algum conteúdo ou valor estético nos herdeiros do Concretismo, por mais que mil livros ou sabichões de cátedra digam o contrário.

Todavia, não é de se condenar o modo como o público, por mais bem intencionado que seja e tente se debruçar nos malabarismos linguísticos de muitos de nossos poetas contemporâneos, relaciona-se com as obras publicadas. Se o leitor, bem o mal intencionado, estiver a ler os versos de nosso O Boca do Inferno, por exemplo, essa relação seria bem menos problemática, pois a fruição de seu entendimento dar-se-ia, naturalmente, melhor do que diante daquelas coisas “escritas”, ou melhor, “desenhadas” por um Décio Pignatari; neste caso, o conhecimento ou uma suposta admiração profunda acerca da estética da época de nosso maior sátiro não é condição de possibilidade para a apreciação das obras, mas a fruição decorrente de uma experiência estética que envolve pura contemplação... essa, sim, é importante. Isso porque os códigos que envolvem, tanto a sua produção quanto sua avaliação, são partilhados por todos os membros de uma determinada cultura, por envolverem, advertidamente ou não, um decoro ou cânones estéticos consagrados por uma tradição e, nesse sentido, entre os nossos poetas contemporâneos Alberto da Cunha Melo é um dos que acumula a maior quantidade de pontos.

Pensando assim, poucos poetas de nossa época mereceriam ser chamados de poetas, e me parece que um número bem menor de poetas poderia se dar ao luxo de se achar, em meio a tantos engodos que a contemporaneidade nos submete, entre os poetas maiores de nossa atualidade, como Alberto da Cunha Melo. Porém, se há aqui quem discorde, pois não é de achismos que uma crítica verdadeiramente honesta e eficaz se fará, como não é julgando um poema ou seu autor pelo que estes tocam às ofensas feitas à moral, às leis ou às religiões, como, certa vez, admoestou-nos o Bruxo do Cosme Velho, esteja este sempre disposto a discutir-lhe o mérito puramente literário, o pensamento criador, a construção cénica, o desenho dos caracteres, a disposição das imagens, os jogos linguísticos e a elaboração das formas, mas, claro, em outro momento, porque este momento aqui é um momento de festa, é o momento do poeta que é, tanto a mim quanto a muitos de vocês aqui, ainda tão presente, porque são os seus setenta anos, principalmente, de poesia, e, porque, pelo menos em minhas considerações, é um “Poeta Maior”, sim, Alberto da Cunha Melo o é... com certeza.

















Candeias/Salvador, 27-28 de agosto de 2012.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

HOJE, NA ACADEMIA BAIANA DE LETRAS...




Hoje, terça-feira, dia 28, Gustavo Felicíssimo lançará em Salvador, na Academia de Letras da Bahia, a partir das 19 horas, o livro "Procura e Outros Poemas" (Mondrongo Livros, 88p. R$ 20,00). 

Na oportunidade também será apresentada ao público a obra "Cantos de Contar" (Editora Paés, RS 50,00), obra inédita (com capa dura e numerada) de Alberto da Cunha Melo. Haverá a participação de Cláudia Cordeiro (viúva e musa do poeta), Silvério Duque, sob mediação de Walter Ramos, em que será debatida a obra de Alberto. O evento ainda contará com a participação de Marcela Martinez em um recital poético.



Como se pode ver, a noite promete ser muito agradável e todos estão convidados.

EXPOSIÇÃO ITINERANTE MUSEUS DA BAHIA...






Feira de Santana recebe exposição 
sobre os museus da Bahia



A partir do dia 03 de setembro, o Centro de Cultura Amélio Amorim, localizado em Feira de Santana, abriga a exposição itinerante Museus da Bahia: Identidade e Territórios. A mostra é uma realização da Diretoria de Museus do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (DIMUS/IPAC), autarquia da Secretaria de Cultura do Estado, em parceria com o Centro de Cultura e fica em cartaz até 28 de setembro, das 8h às 21h. A entrada é gratuita.
Idealizada pelos museólogos Guilherme Figueiredo e Ana Cristina Coelho, a exposição apresenta o perfil dos museus vinculados à estrutura da DIMUS e das 217 instituições museais mapeadas no estado. São 23 painéis que, através de mapas, fotografias e dados estatísticos, evocam o patrimônio integral de 25 territórios de identidade baianos. O total de municípios com espaços museais, situação quanto ao funcionamento e a distribuição dos museus no estado são algumas das informações apresentadas. No território Portal do Sertão, que inclui Feira de Santana e mais 16 municípios, foram mapeados sete espaços museais. 
Em Salvador, a exposição Museus da Bahia: Identidade e Territórios já foi apresentada no Centro de Convenções, durante a 10ª Bienal do Livro da Bahia, na Praça Municipal, por ocasião da 10ª Semana de Museus, e em escolas dos bairros de Cajazeiras e Itapuã. A mostra também já circulou por Ilhéus e Vitória da Conquista e nos meses de novembro e dezembro será montada em Jequié e Porto Seguro.
O Centro de Cultura Amélio Amorim fica situado na Av. Presidente Dutra, 2222, Capuchinhos, Feira de Santana. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (75) 3625-0572.
Serviço:

O que:
 Exposição itinerante Museus da Bahia: Identidade e Territórios

Onde:
 Centro de Cultura Amélio Amorim – Av. Presidente Dutra, 2222, Capuchinhos, Feira de Santana.

Quando:
 Abertura dia 03 de setembro. Visitação até 28 de setembro, das 8h às 21h. Tel: (71) 3117-6381 (DIMUS). (75) 3625-0572 (Centro de Cultura Amélio Amorim).

Gratuito

ASSESSORA DE COMUNICAÇÃO DIMUS
TESS CHAMUSCA
(71) 8801-6162

NÚCLEO DE COMUNICAÇÃO
JORNALISTA: CARINA GAZAR (71 -8855.8619)
Gabriel Ferreira
Artista Plástico/Músico Percussionista
Coordenador do Centro de Cultura Amélio Amorim/SUDECULT/SECULT
Feira de Santana-Bahia-Brasil
(75) 9191-9772

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

BATMAN E O ANTI-GUEVARISMO...

Bane, à maneira de um Robespierre bombado, ou um Che Guevara tarado por anabolizantes, promete devolver – “ao povo” – o poder que lhe é de direito das mãos dos ditos usurpadores das minorias, dos quais Wayne é o principal emblema, e, como no Reino de Terror instituído pelas Revoluções Francesa e Russa, passa a usar de um totalitarismo sem igual, desculpado pelas suas supostas boas intenções, entre as quais a redistribuição rentaria que Lenin tanto queria... e à sua maneira.









ao amigo
Dilmo Costa, fã inexorabilíssimo...

Ninguém é obrigado a inventar a pólvora ou descobrir a teoria dos quanta. De outro lado, porém, é obrigatório ter uma inteligência elementar. Mais ainda para um cristão, que deve estar sempre atento às tentações. E a tolice é uma tentação. Mas não apenas para o Cristão – também isso é por causa de uma verificação experimental objetiva: ninguém sabe nada, mas todo mundo sabe tudo.

N. STEINHARDT








Três semanas se passaram desde a estreia de BatmanO Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises, EUA, 2012), filme que traz uma síntese perfeita entre um cinema de entretenimento, arte e de foro de discussão, quebrando uma lógica muito utilizada, nos últimos tempos, pelo cinema de espetáculo americano: a da grandeza de recursos inversamente proporcional à pequenez de inteligência; por isso mesmo, já se passou tempo mais do que suficiente para falar dele; e digo mais: faz-se muitíssimo necessário falar sobre ele.

Neste último filme da trilogia do Homem Morcego, Bruce Wayne, novamente vivido (e muito bem vivido) por Christian Bale, está acabado, vive recluso e cheio de amarguras em sua mansão, que faz a caverna de São Paulo, o eremita, parecer um hotel de luxo. O Batman também não é mais necessário, as ruas de Gotham City estão limpas, graças a uma lei de exceção que permite que as autoridades coloquem bandidos no xadrez sem fiança ou julgamento; além do mais, seu álter ego, é tido como um justiceiro vil, um assassino cruel e covarde. Mas toda essa paz ilude e a tensão e o medo de que todo aquele terror um dia volte ou que toda aquela violência estoure novamente de uma forma caótica e grandiosa é facilmente visível no rosto de cada cidadão, de cada personagem. E é neste clima de Guerra Fria que Wayne, em seu estado quase vegetativo, representa – como é papel de todo herói – seu povo e seu lar: ele é um símbolo de poder e conquista, principalmente aos mais distantes da realidade e da verdade, ao mesmo tempo que, para ele, personifica o medo e a angústia, àqueles que realmente sabem como as coisas se dão e se apresentam. Para piorar, Batman é bode expiatório de uma mentira que sustenta toda aquela paz de conto-de-fadas, verdadeiro símbolo de um mimetismo que faria o grande filósofo René Girard gritar: Eureca!

E quem se aproveitará desta ausência e desta falsa sensação de segurança? Justamente aquele que, se não se tonará o mais cruel e emblemático antagonista do Homem Morcego, porque este papel já cabe ao Coringa e, por meritocracia, a Heath Ledger, apresentar-se-á como a síntese perfeita entre a força bruta e a inteligência a serviço de um mal que, acima de tudo, procura profundas razões para sê-lo: Bane.

Interpretado pelo ator Tom Hardy, Bane é uma das figuras mais perturbadoras que já preencheram as telas de toda a história do cinema. Isso se dá não só pelo seu tamanho descomunal e aspecto monstruoso, graças à máscara, que, com a função de liberar um gás anestésico, sem o qual não suportaria as dores provocadas por terríveis ferimentos de que foi vítima no passado, cobre-lhe quase inteiro o rosto, mas do facto de ele ser um homem cruel e um líder messiânico carismático, capaz de inspirar vocação e assassínio com a mesma medida e converter tudo isso em uma lógica sem igual com o único intuito de dar razão aos seus planos de domínio. A sequência de ação que abre o filme é um bom exemplo disso: Bane embarca em um avião, disfarçado de prisioneiro comum, com o intuito de sequestrar um físico nuclear, ao mesmo tempo, membros de sua gangue de terroristas saltam de um C-130 Hercules num mirabolante salto de rapel (cena totalmente rodada com dublês e sem efeitos digitais), e, ao necessitar de que alguém deste grupo seja encontrado nos destroços, Bane passa a missão de se sacrificar a um de seus prosélitos que, ao invés de se negar, ou pelo menos se dar à compreensível atitude de praguejar, aceita-a com o orgulho e a devoção semelhante a dos cristãos dos tempos de Nero, que se resignavam com amor e coragem à bocarra dos leões a que eram “presenteados”. Bane, assim, alude ao mundo insano e sem propósito criado após 11 de Setembro, ao qual a lei de exceção de Gotham, e sua caça ao terror, também personifica.

Uma das maiores sacadas que Christopher Nolan conseguiu com sua trilogia foi o aspecto de maturidade que seu protagonista vai ganhando com o tempo. Se, no primeiro filme, Batman, ou melhor, Bruce Wayne, colecionara inúmeras broncas e conselhos de quase todos que estão ao seu redor, no segundo filme ele já está grandinho o suficiente para saber o quanto necessita aperfeiçoar técnicas e equipamentos, bem como reconhecer o quanto que um grande poder traz responsabilidades maiores ainda (Opa! Filme errado), para, finalmente, neste terceiro, reconhecer o valor do sacrifício em nome da paz e do bem comum. Nolan resgata este aspecto dos antigos heróis das tragédias gregas, que, para cada perigo que enfrentam, aprendem e crescem com eles e, desta maneira, poder cuspir na cara do Destino ao qual são submetidos. Do outro lado, seus inimigos também parecem se adequar a esta maturação: seu mentor Ra’s AL Ghul, não pode ser considerado necessariamente um vilão, pois não há como não concordar com muitos de seus preceitos, dentre os quais o de que bandido bom é bandido mortinho. Já o Coringa, não; nele, e em sua anarquia sem razões ou propósitos, encontra-se uma verdadeira prosopopeia niilista sem precedentes, onde um mal tão grande quanto visceral encontra sua face mais encantadora, bem como mil e uma razões para dissipar tamanha maldade. Todavia, é com Bane que o mal se apresenta em seu aspecto mais bruto e devastador, principalmente por todo o engano que consegue causar. Mesmo quando descobrimos, um pouco mais tarde, que o terrorista mascarado não passa de um capacho de um mal ainda maior – mal que ele mesmo representa e adora das mais diferentes e profundas formas –, Bane não se torna menor nem menos assustador, mesmo quando, com um closer e una furtiva lagrima, faça cair todo esse monstro, ele ainda é um cão, mas não aquele cão louco correndo atrás de uma roda sem ao menos saber o que fazer com ela caso a conseguisse, como metaforizou, a si mesmo, o Coringa, mas um cão raivoso e treinado que, mesmo sob o domínio de uma coleira, estará sempre pronto a atacar quem se lhe atrever cruzar caminho.

Isso nos remete a outro aspecto brilhante do roteiro e da direção de Nolan, em toda a sua trilogia: abordar sempre, e de forma contundente, o estado ético e moral de nosso mundo; e é em O Cavaleiro das Trevas Ressurge que este escopo é ampliado ao máximo. Em BatmanO Cavaleiro das Trevas Ressurge, Gotham não vive só a mentira de uma ordem alicerçada sobre falsos e frágeis pretexto, Gotham City também se vê no meio de um caos econômico e de uma mau e injusta distribuição de renda, onde mais de 90% da população vive na pobreza, enquanto os outros menos de 10% gozam da mais absoluta riqueza, e é justamente aí que impera o sólido instinto moral de Nolan e a ácida ironia que ele cria a partir deste fato tão bem recolhido da atual realidade americana e europeia: apresentando-se como um líder, e um libertador do povo, Bane, à maneira de um Robespierre bombado, ou um Che Guevara tarado por anabolizantes, promete devolver – “ao povo” – o poder que lhe é de direito das mãos dos ditos usurpadores das minorias, dos quais Wayne é o principal emblema, e, como no Reino de Terror instituído pelas Revoluções Francesa e Russa, passa a usar de um totalitarismo sem igual, desculpado pelas suas supostas boas intenções, entre as quais a redistribuição rentaria que Lenin tanto queria... e à sua maneira.

Entretanto, tudo não passa de uma apropriação sem a menor legitimidade, e, assim como na China de Mao ou na ilha da fantasia dos Castro, Bane se aproveita das aflições genuínas do povo para usá-las ao seu favor, a partir da promessa de expurgação destas mesmas aflições, acabando por manobrar toda a massa com a falsa promessa de libertação. Qual acontece a todos esses casos, Bane começa por abolir todos os tipos de liberdades individuais até o extremo da lobotomia ideológica, instalando, assim, uma política de lunáticos e ressentidos a culparem os mais aptos, e os bem sucedidos, pelos seus fracassos.

Cenas assim, certamente, mexerão com os brios dos mais diferentes membros das mais diversas camadas ideológicas que a esquerda socialista costuma produzir, desde os políticos do mais alto escalão de seus partidos, até os neófitos do esquerdismo radical e bestializado que, a exemplo do que acontece pelos cantos mais obscuros de nossas universidades, proliferam-se nas incubadoras politico-ideológicas dos DCAs e DCEs espalhadas por aquelas que deveriam ser as nossas instituições mais idôneas a salvaguardar o livre pensamento de nossa Nação. E essa sensação de ofensa terá uma boa razão de existir, porque o filme de Nolan retrata, com profundo sarcasmo e realismo, os verdadeiros planos e vontades que se escondem por baixo de toda máscara de bom moço que os ideais revolucionários e socialistas gostam de exibir. E é bom – sempre bom – que, através da história, grandes e inteligentes artistas façam vir à tona toda a verdade por trás do espírito revolucionário, para que, depois, ninguém venha a ouvir frases do tipo: “Eu não sei de nada”! Mas como não saber...? Eis o princípio do dilema: como não saber...?! Como não ter consciência daquilo que eles mesmos provocaram ao longo da história pra que seus ideais absurdos se cumprissem? Não saber de nada é a resposta mais comum daqueles que um dia torturaram e jogaram outros em prisões e acusaram aos seus sem que nenhuma verdade fosse comprovada. Mas se ninguém é obrigado a saber, todos nos obrigamos a uma inteligência mínima, e, como conhecedor dos princípios cristãos mais elementares e das mais sólidas bases morais que sustentam nossa sociedade, Christopher Nolan sabe que é preciso atentar-se para as tentações ou porque, como dissera Nicolae Steinhardt, a tolice é uma tentação e tanto.

Mas, voltemos ao Batman: para Bane, não obstante, tal estado de coisas, ao contrário do que acontece até hoje em Cuba, não deve durar para sempre – porque o passo seguinte é a mais pura aniquilação da cidade e de seu povo. Neste caso em particular, Bane assume uma postura demoníaca, no sentido mais literal da palavra, pois leva tanto as pessoas comuns quanto os seus adoradores a um fim sem esperança ou recomeço, mostrando um desprezo total por tudo e por todos, onde a única coisa certa e verdadeira que se pode e deve existir é a força de seus falsos ideias e crenças pessoais, ao ponto de se permitir o assassinato em massa para que tais princípios se cumpram, como fizeram os nazistas, os fascistas e, até hoje, o querem os propagadores das ideias comunistas.

É contra esse cheguevarismo sem máscaras que, ironicamente, um mascarado tenta implantar, que Bruce Wayne precisa sair de sua letargia e vestir, novamente, mesmo que contra tudo e contra todos – a começar por ele mesmo, diga-se –, as roupas e os símbolos que Batman representa. Mas este Batman, necessariamente, é um Batman diferente, ele é um herói no auge e, ao mesmo tempo, no fim de suas forças e propósitos, um herói que se cansou de lutar, que precisa fazer seu último sacrifício para finalmente se reinventar, literalmente ressurgir para uma nova vida e realidade, e Nolan, como um bom inglês americanizado que é, não sustenta seu herói na leitura d’O Capital ou dos livros do Frei Betto, como faria a maioria de nossos cineastas, por exemplo, mas sim na Bíblia e na mitologia clássica greco-romana, verdadeiros mitos fundadores de toda cultura ocidental, ressuscitando um tipo de heroísmo há muito esquecido ou mal interpretado, onde o bem, mesmo que triunfante, vê-se sempre em dualidade, em profunda hesitação e conflito diante de um mal cada vez mais focado e racional, dotado de tantos rostos e mazelas que nos parece quase impossível identificá-lo. O que se vê, ao longo das quase três horas de filme, tanto do lado dos mocinhos quanto dos bandidos, é um festival de tragédias íntimas, onde cada um, pela necessidade humana de uma escolha, exorciza (cada um à sua maneira) seus mais diversos e profundos demônios.

Se o primeiro Batman nos vêm quase que como um apólogo moral e o segundo como uma profunda e inesperada tragédia, BatmanO Cavaleiro das Trevas Ressurge, apresenta-se-nos como um épico de grandeza estonteante, não só pela qualidade técnica do filme – um verdadeiro non plus ultra do gênero –, mas pelas muitas discussões que suscita a partir de um aprofundamento que poucos filmes, independentemente do tipo, conseguiram, nos últimos tempos, dar às angústias de uma coletividade, como a do pós-11 de Setembro, seus homens-bombas, seu terrorismo desenfreado, ou da crise econômica de 2008, bem como os conflitos mais particulares de seus protagonistas, como se vê na oposição dicotômica de Bruce Wayne/Batman a expurgar-se na também dicotômica figura de uma Selina/Mulher Gato. Daí, também é importante dizer: que Mulher Gato é Anne Hathaway..!

Neste exato momento, em meio a todos esses conflitos internos e externos, recordamo-nos, lá, na Ilíada, do Escudo de Aquiles; daí, perguntamo-nos: por que um herói, acostumado à dor e à abnegação carregaria tantos símbolos cotidianos, tantas cenas que nos remetem ao lar, à família e à felicidade particular? Porque, bem lá no fundo, tudo que queremos (heróis ou não), é a nossa humanidade em seu sentido mais pleno, é a busca incessante da felicidade, e, mais do que isso, é alcançarmos esta felicidade. Por fim, é dessa forma, talvez, que devamos encarar todas as tragédias, reais ou imaginárias, todos os heróis ou os mais simples mortais: como condenados à liberdade e à felicidade, por que é isso que todos os heróis gregos queriam e é para isso que o Cristianismo nos impele, e Christopher Nolan, que não fez escola, aqui, com os cineastas esquerdistas do Brasil, utiliza-se tanto da tragédia grega quanto do Cristianismo, para nos arrebatar em seu BatmanO Cavaleiro das Trevas Ressurge, em uma celebração à liberdade, à felicidade e ao renascimento que, no fim, trar-nos-á tudo isso.










Candeias, 20 de agosto de 2012. 

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

LANÇAMENTO DE "SONETOS ELEMENTAIS", NOVO LIVRO DO POETA FLORISVALDO MATTOS...


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Um ano após Poesia Reunida e Inéditos (São Paulo: Escrituras Editora), Florisvaldo Mattos volta à cena editorial, agora com, Sonetos elementaisUma antologia, com apresentação da poeta Myriam Fraga e prólogo do autor, a obra sai pelo selo Caramurê Publicações, do artista plástico Fernando Oberlaender, responsável pela sua editoração, ilustração e programação visual, dentro do Projeto de Arte e Cultura, do Banco Capital, coordenado por seu diretor Ubirajara Chamusca. Na ocasião, sob o mesmo patrocínio, também lançam livros mais dois autores, Neide Cortizo, com Domingo na Praça, e Itamar Vieira Junior, com Dias, vencedor do concurso 2012. 
A opção por uma antologia de sonetos, no meu caso, atende também ao próprio escopo do projeto, que se junta a esforços em favor do incentivo à leitura, ampliando o raio de alcance do livro. E nenhuma outra forma poética se ajustaria mais a esse propósito do que o soneto, cuja magia verbal tornou-o num caso único de sobrevivência, pois, desde que foi inventado na Itália, atravessou dezessete séculos absolutamente imune a todas as marés do gosto, em matéria de poesia, magnetizando criadores e leitores em centenas de idiomas. Nos modelos consagrados, como forma poética que obriga a ser lida de uma vez, sem interrupção, o soneto tem a ver mais com a intensidade que com a extensão, imerso na densidade da emoção que transmitem seus versos, do início ao fim. Atendendo ao convite e à preferência por uma antologia de sonetos, ante o específico da edição, e para fugir ao insosso que rege esse tipo de coletânea, agrupei-a de forma arbitrária, inspirado na construção mítica dos quatro elementos da natureza, que por séculos dominou a mente dos antigos – o ar, o fogo, a água, a terra, nesta ordem -, cada um deles guiando a série, por seção, entre publicados e inéditos; por isso, o título de Sonetos elementais dado ao livro.  

O lançamento ocorrerá no próximo dia 21, terça-feira, às 19 horas, na Livraria Cultura, 3º piso do Salvador Shopping.

Não percam!!!

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

ALBERTO DA CUNHA MELO: "CANTOS DE CONTAR"...





LANÇAMENTO: SALVADOR


Academia de Letras da Bahia (Avenida Joana Angélica, 198 – Nazaré. Salvador – BA), dia 28 de agosto, às 19h.

Com a participação especial de Marcela Martinez e Gustavo Felicíssimo...

IMPERDÍVEL!!!


sábado, 11 de agosto de 2012

SONETO PARA ANA LUÍZA...

Este anjinho aí, acima, é minha pequena Ana Luíza, propósito de toda a minha vida. Fiz-lhe este singelo soneto quando ela se encontrava no ventre de sua mamãe, mais precisamente aos 6 meses de gestação. Naquela época, toda ela era esperançar e eu, como acontece à grande maioria dos pais de primeira viagem, cheio de angústias e conjecturas. Compartilho com todos estes versos, para mim, tão proféticos e tão derramados, em meu primeiro e felicíssimo dia dos pais. Abraço a todos.






Como um pintor que se perdeu na própria tela
ante os cenários desse sono em que me iludo
eu dei agora de sonhar com os olhos dela
minha pequena Ana Luísa – Mas, que absurdo!

Toda visão se funde ao fogo que a revela
e sob um só clarão tudo estremece, tudo
que aos poucos se consome: o choro de uma vela
essas breves frações que fazem o instante, o mudo

espaço entre a razão e seus inversos, nossos
temores, nossos planos, nossas ilusões
e as falsas expressões que um dia serão ossos.

Ah, mas quem sabe aqueles olhos com que sonho
verão no abrir de uma janela, as remissões
de um pai e os mal traçados versos que componho...


sexta-feira, 3 de agosto de 2012

DOIS CAMINHOS E UM REENCONTRO: A "POESIE PURE" DE GUSTAVO FELICÍSSIMO...




O livro traz a fotografia é de Jamison Pedra. Sobre Procura e Outros Poemas o poeta Ângelo Monteiro, de Pernambuco, disse o seguinte: "Gustavo Felicíssimo se tornou um verdadeiro continuador da Retranca, esta forma estrófica que, inventada por Alberto da Cunha Melo, constituiu a matéria prima de, pelo menos, duas de suas obras fundamentais — Meditação sob os lajedos e Yacala — e que ganhou no autor de Procura e Outros Poemas um componente lúdico e graciosamente aleatório que veio dar ao seu livro uma nota pessoal à fórmula albertiana". Procura e outros poemas também traz textos de Claudia Cordeiro e Silvério Duque...








Sin lástima y sin ira el tiempo mella 
las heroicas espadas. Pobre y triste 
a tu patria nostálgica volviste, 
oh capitán, para morir en ella 
y con ella...
JORGE LUÍS BORGES





Gustavo Felicíssimo é um articulador. E possui um trabalho de divulgação das novas gerações da poesia baiana e brasileira de altíssima qualidade; reiterando estes ofícios ao publicar textos de vários poetas que nos aparecem tão grandes e reveladores quanto nos dá o seu olhar de quem admira a poesia pelo que ela pode nos oferecer de melhor e mais elementar. Não obstante, é do poeta que quero falar. E, mais especificamente, dos versos que compõem seu mais novo livro: Procura e outros poemas.

Estes textos agregam – como haveria de ser num trabalho como este – uma grande diversidade temática e rigor formal, todavia, destacam-se, principalmente, pela seriedade dos temas, pela busca de uma poesia pura e por estabelecer um diálogo com quase todas as tendências poéticas, sem se perder, evidentemente, dos alicerces mais fundamentais de nossa literatura.

Se todo livro é fruto de dois caminhos, a saber: o da coragem e o da vaidade excessiva de seu autor, em tudo este livro de Gustavo Felicíssimo é desafiador; um livro de quem não teme desfraldar suas influências (como se vê na primeira parte deste livro, na Elegia para Alberto da Cunha Melo e em todos os versos de Sereníssimo, principalmente), de mergulhar no lirismo responsável, (o que se evidencia na segunda parte, mais necessariamente no poema que intitula este livro), ou no autobiografismo consciente (presente nos poemas dedicados à Flora).

Todavia, este livro chama a atenção, conseqüentemente, pela propriedade com que seu autor se utiliza da forma, e, nisso, acaba por resumir e reencontrar todos os outros atos de coragem em que este livro empreende.

Primeiro porque a forma sempre pareceu, aos olhos ineptos, como um grande problema para quem nutria alguma pretensão poética, por mais que o uso da forma dia menos dia tornar-se-á condição natural do fazer poético e fruto direto do amadurecimento de qualquer autor – se isso não acontece, é porque, como a qualquer fruto que se nos mostra cheio de promessas, pode, de repente, “pecar”... E alguns poemas pecam bastante.

Segundo, porque Gustavo não se contenta com as formas fixas mais típicas, como a do Soneto, por exemplo – o que já seria desafio por demais; arvora-se, entretanto, no cultivo de uma forma fixa mais nova, a Retranca, encontrando soluções bem inventivas para algo não menos inventiva como é a forma fixa criada por Alberto da Cunha Melo,  e é aí que o poeta tanto homenageia como nos mostra suas influências mais diretas, e é a do poeta pernambucano, obviamente, que pode ser mais percebida, desde a epígrafe deste livro, passando por temas de semelhante envergadura, e desaguando na escolha da forma a que tudo isso parece se amalgamar, e, por mais que muitos vejam tal atitude como um problema, Gustavo Felicíssimo faz de tal gesto uma incrível personificação dos processos mais comuns existentes do fazer poético, pois não é de teorias ou críticas que se influenciarão, verdadeiramente, um futuro poeta: é outro poeta que o faz; e a receptividade da influência de Alberto da Cunha Melo na obra de Gustavo Felicíssimo revela-se bastante sincera, direta, e, valendo-se da voz do poeta pernambucano, Felicíssimo acaba por encontrar a sua própria voz, como podemos ver em Elegia para Alberto da Cunha Melo:

...sentimos sede porque a realidade é crua
e terríveis os seus desdobramentos,
tão terríveis quanto a razão que contraria a fé,
a vida envolvida em mistérios
e essa vertigem que me oferece este poema.
Ah, como é triste a condição humana!
Como é triste o horizonte que nos margeia.
Contudo, não será capaz o crepúsculo de evitar o gênio,
por isso essa Elegia no ventre da noite,
esse copo de chope, o linguajar vulgar.
Por isso, Alberto, os seus poemas insistem.
Neles me reconheço e me edifico,
uma vez que o tempo gasto
com inúteis procelas não nos alimenta,
pois em essência somos feitos de suavidade e compaixão...


         Ao optar por uma poesia formal, Gustavo Felicíssimo não busca nada além da elaboração interior do poema composta pelas idéias nela contidas, coisa a que estão destinados todos os poemas, ou, pelo menos, os bons poemas. Gustavo sabe que forma é assimilação de idéia; compor diretamente nela é o melhor exemplo que alguém possa ter da incorporação desta idéia ao seu resultado final, enquanto arte. Gustavo Felicíssimo nos deixa bem claro que a sua pretensão poética não almeja menos que as grandes composições, as quais só os poetas afeitos tanto à composição quanto à depuração podem realizar. Mas a forma, por sua vez, não trabalha em causa própria, ela, por sua vez, realiza a idéia presente no poema, apropriando-a à rima, à métrica e ao ritmo, como afirmara, certa vez, T.S. Eliot. Pensar que um soneto, por exemplo, são simplórios catorze versos, distribuídos entre estrofes, em um sistema de ritmos e rimas, é puro e irresponsável desmerecimento. Antes, devemos olhar para um soneto muito mais por seu caráter dissertativo, racional e objetivo; caráter, aliás, presente em todas as artes, ao menos, é claro, que alguém acredite que a arte não é uma concepção exclusiva da humanidade.

Desta maneira, fica fácil perceber o quanto que a forma é muito mais a realização de um conteúdo apropriado à rima ou ao ritmo do que o contrário; percebe-se, assim, que, para um Camões, a forma, mais do que uma imposição estilística de sua época, é a única maneira pela qual sua poesia poderia se realizar, ao contrário da dos Românticos que, tomados de um sentimentalismo desenfreado e, muitas vezes, urgente pouco utilizam do soneto, porque seus emotivos frenéticos e alucinados não poderiam resultar em algo que advém, justamente, do racional e do amadurecimento paciente. Isso, porém, não impede que ninguém faça um soneto; já a qualidade deste soneto... Gustavo não escolhe o soneto, contudo, ao optar pela formalização de seu trabalho (seja ela qual for) todas estas elucidações lhe fazem justiça.

É bom lembrar, também, que a forma não estabelece o conteúdo de um poema, muito pelo contrário; a forma é o resultado mais imediato deste conteúdo e nada denuncia mais o vazio, ou a hipocrisia, de um poeta – intelectualmente falando – do que seu metro, do que sua forma. A sinceridade do teor de um poema mede-se, muito mais, pela sua disposição formal do que pela análise crítica de qualquer um que seja.  É pensando desta maneira que Jessé de Almeida Primo, em seu livro A natureza da Poesia, afirma que um soneto será sempre um soneto ainda que os versos estejam distribuídos na forma prosaica ou dispostos numa forma fixa completamente alheia, uma vez haver tratamento específico da métrica além de uma distribuição de rimas as quais determinam o modo como os versos devem se agrupar, não sendo à toa, segundo o próprio Jessé, que “ouvidos treinados” identificam a forma fixa pela própria elocução. Mesmos os versos ditos “livres” compensam sua falta de regularidade métrica e estrófica por meio de uma progressiva simetria rítmica, pois nenhum verso é livre para quem realiza um bom trabalho, segundo, novamente, o velho T.S. Eliot.

Em suma, verso livre, ou metrificado são – em natureza e maneira de composição – a mesmíssima coisa. Não é à toa que este livro de Retrancas se inicia com uma Elegia..., em versos aparentemente livres... Só aparentemente, pois, quando condensados numa única leitura, percebe-se logo, mesmo para o ouvido “menos treinado”, que o ritmo e a melodia dos versos se condensam em uma só harmonia.

No final das contas, todo poema deve estar pleno de sentido, de significados, e não ser um mero jogo de idéias sobrepostas ao acaso; deve aparecer e soar ao seu leitor dentro de uma imaginação auditiva, tão comum em um Milton como em Eliot; mas também em Castro Alves e até mesmo em Ascenso Ferreira, e, por recortar uma realidade instigante, por ter uma penetração psicológica muito intensa, por proporcionar uma fácil compreensão de tudo e de si mesmo, Gustavo Felicíssimo faz de seu novo livro uma obra de razão; mas de uma razão recortada pelos malabarismos lingüísticos e dos signos comuns, o que garante a total qualidade de tudo que é dito neste livro, que não se preocupa em transformar em conceitos suas mais diversas percepções, como fariam nove entre dez homens de nosso tempo tão conturbado, porém, ao contrário, na busca de sua própria poesie pure, Gustavo procura transformar em impressões a maioria de seus conceitos, oriundos do mundo que ele percebe.

Assim sendo, tudo isso garante a este livro seu mais profundo propósito e sua mais autêntica beleza: um homem criador de seu próprio universo poético a reescrever a si mesmo pela influência que este mesmo universo lhe circunscreve... é o eterno reencontro de tudo e de si mesmo que o poeta propicia a ele mesmo e ao mundo através de todo seu trabalho, ou como o próprio Felicíssimo procura traduzir:

O meu retrato em preto e branco
deixei grafado nessas páginas,
deixei toda a minha loucura,
deixei também algumas lágrimas;

          deixei o chapéu companheiro,
          deixei meu mundo por inteiro;

deixei aqui tudo o que sou,
deixei um resto de alegria,
deixei o que de mim sobrou:

deixei as pedras nessa estrada,
          deixei minha vida e mais nada.






Alagoinhas/Feira de Santana, inverno de 2012.


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O livro será lançado oficialmente na programação do Terreiro da Poesia, na Feira do Livro de Ilhéus, Centro de Convenções de Ilhéus, no dia 10 de agosto, às 18h00.

Também pode ser adquirido, ao valor de 25,00, já inclusa despesa de remessa, enviando-se e-mail para a Mondrongo Livros: contato@mondrongo.com.br


quinta-feira, 2 de agosto de 2012

FEIRA DO LIVRO DE ILHÉUS: PROGRAMAÇÃO TERREIRO DE POESIA...

Uma vasta programação vai marcar o centenário de Jorge Amado neste ano de 2012. O ápice será o Festival Amar Amado, que acontece em Ilhéus, de 04 a 12 de agosto, e conta com atividades nas áreas do teatro, música, dança, literatura, cinema, gastronomia, artes plásticas e visuais. Entre as principais atrações estão a Feira Literária de Ilhéus e os shows de Caetano Veloso, Moraes Moreira, Família Caymmi e Margareth Menezes. Confira em:  http://festivalamaramado.com.br