quarta-feira, 31 de março de 2010

A CARNE DE MEUS VERSOS ou PATRICE DE MORAES - POETA


O poeta Patrice de Moraes




From Wrong to Wrong the exasperated spint
proceeds unless restored by that refining fire...
T.S. Eliot



Não há maior perigo para um pregador do que se ver traído em sua própria pudicícia. Em outras palavras, submeter-se àquela tentação que tanto abomina e, contra ela, tantas palavras de ordem vocifera. São Silvério, meu chará, entre o Cruel Belzário e o não menos ardiloso Vigílio, escolheu o martírio pela fome a aceitar a tentação. Longe de mim menosprezar o sacrifício do padroeiro de Ponza, mas hoje, é de tentação que pareço querer me alimentar.

Por que digo isso?

Por obrigar-me, mesmo que tardio e brevemente, a falar de um amigo e de seu trabalho. Obrigação que me é grata, prazerosa e segura; e que não me traz a desagradabilíssima sensação de estar prestando um favor, sem levar em conta as devidas qualidades do amigo. Foram as qualidades deste amigo – entre tantas, a literária – que, pelo contrário, o tornaram como tal.

E qual o problema?

Ser acusado de cair na mesma banalidade, autopiedade e bajulação em que se diluem a quase totalidade de nossa atual produção literária, principalmente por aqueles que, vendo-me falar das virtudes literárias de alguém que me é de um ciclo pessoal de amizades, fechem os olhos para as qualidades deste, como fecham para a inexistência de qualidades neles, e alardeiem por aí que o inquisidor se deixou cair em tentação e agora se apossa daquilo que melhor os identifica: seus pecados.

Como quem enxerga um ácaro sobre o cisco nos olhos do irmão, mas não enxergam, nem ouvem, um asno a rinchar frente as suas faces, baterão nos peitos impregnados de arrogância burra, e dirão: crucifica-o! Eu, no entanto, lhes direi: se disse algo de mal, dêem testemunho do mal, mas se lhes disse bem, porque me batem? Vão, e clamam cada um por seu Barrabás.

***


Falar de Patrice de Moraes é falar de um homem de extraordinário talento, cuja produção poética, segundo o dizer de Jessé de Almeida Primo, tranqüiliza a toda crítica “por não deixa-la em dúvida quanto à sua qualidade [Sic]”, não restando objeções ao seu domínio de um ofício de eleitos: a poesia.

Poesia sem medos: sem medo de mostrar suas influências, de apontar para as fontes de onde se embebera, seja uma poetisa grega, morta a mais de vinte e seis séculos ou um mineiro introspectivo, cuja derradeira herança foi um livro de versos eróticos; seja um poeta português que foi tantos ou um paraibano que não foi menos que único. Poesia sem medo de mostrar sem disfarces e subterfúgios ou de encontrar aquela liberdade presente nas formas fixas que só um grande poeta sabe dar e reconhecer. Sem medo de não se mostrar pessoal e sincera, sem perder a boa e velha veia fingidora. Sem medo de ser poesia pura e depurada. Poesia como poesia deve ser. E para ser possível obter algo assim faz-se necessário munir-se de três grandes e indispensáveis requisitos: o talento a disciplina e o amor ao que faz que a tudo obriga.

Quando me refiro a poesia de Patrice de Moraes, refiro-me a uma poesia que sempre se quer cinética, que pretende romper os limites da impressão simplória e alçar à consubstanciação da mais pura e didática alegoria, ou seja, uma poesia que substitui o abstrato pelo aparentemente concreto, ou, como melhor definiu Coleridge, citado por César Leal em seu Os cavaleiros de Júpiter, uma “transposição de noções abstratas para uma linguagem de cores”. Assim, cada poema de Patrice faz-se de imagens intencificadoras, dentro de um sistema que permite muito bem a isso; uma imagem representando um conceito ao qual se pretende, ou, simplesmente, comunicar, por meio de imagens puras e gradativas, o despertar dos sentidos, onde certas questões, como a do erotismo, são bem menos um assunto do que uma maneira de metaforizar, como nos dirá Jessé de Almeida Primo: “nesse sentido, sua poesia é tão erótica quanto toda poesia de qualidade deve ser, pouco importando seu assunto”. Mas é, evidentemente, o próprio poeta quem nos dá o melhor exemplo:

...Sentindo o mastro lhe beijar a vinha
e vagarosamente introduzir-se,
regia com a batuta da espinha

– num compasso de ardor a reproduzir-se –
os flexos movimentos circulares
da anca, finalmente a inserir-se

na orquestração direta desses ares
venosos, ambiciosos, compulsivos...,
que com os seus audazes serpentares

deliberadamente progressivos
alimentava a fome de ida e vinda
do amante – cada vez mais em agressivos

e impiedosos penetrares... Ainda
que um deles ameaçasse desistência,
a carne lhe diria: “Isso só finda

quando eu sentir a glória, a quintessência
do gozo pretendido desde o início!”(...)

(Patrice de Moraes, Predileção in Eurótico, Ed. Eros, 2005, p. 56-57)


Sem se importar em florear de prosaísmo a sua poesia no mesmo tempo que se mostra profundamente preocupado com o apuro formal e a cadência rítmica de seu poema, Patrice de Moraes não almeja a nada mais o que ser poeta, não representando nada mais do que uma etapa superior da poesia de um homem que domina inteiramente os mecanismos de expressão. Não restam dúvidas de que Patrice de Moraes pode planejar o poema e fazê-lo da maneira que ele bem entenda, mas sempre como um artista, como um criador, nunca como um artífice, um mero construtor, um simples “imendador” de artifícios. O mundo refletido em sua poesia é sempre um mundo real, um mundo que parece “saltar para a vida” ao invés de se afogar em ideais vazios, de uma simbologia que parece querer mais fugir as coisas do que a elas servir.

Esta penetração (palavra complicada para quem se arrisca a analisar um poeta do erotismo) que Patrice faz na realidade, é algo que é feito por todo grande escritor e o bardo conjacuipense não me parece uma exceção a isto; porém, é preciso lembrar que a grande obra poética é resultado das somas entre as generalidades abstratas do pensamento e a realidade concreta do mundo; se Patrice ficasse apenas numa destas coisas, sua obra estaria longe de ser considerada uma forma de arte; como consegue unir estas duas variantes em um mesmo processo e num resultado consistente, é poeta. Toda arte possui um mundo seu que não vem nem do mero mergulho na realidade circundante, nem se fazendo caricatura desta mesma realidade, mas de um mundo onde estas coisas se fundem e se anulam, à criação de algo com unidade entre o absoluto e o relativo. Estas coisa são tão óbvias, e tão fáceis de ver, que me angustia saber que muitos de nosso “poetas” contemporâneos passem, em sua teoria e prática, ao largo destes preceitos e que, para piorar, ainda encontrem bons poetas que atestem estas coisas tão inexistente neles, validando algo que, se muito for alguma coisa, é pura grosseria versada; e mal versada. Fico a me perguntar se, quando um bom poeta faz algo assim, se ele o faz por ultrapiedade ou por automasoquismo? Mas como nem tudo são flores, muito menos um roseiral, vamos em frente.

Jessé de Almeida Primo, na apresentação do livro Eurótico, de Patrice de Moraes, objetiva-se em dizer que os poemas de Patrice não são simples veículos de expressão sentimental ou de devaneios, cuja beleza é muito mais um acidente do que o resultado de uma elaboração, sendo esse um dos motivos pelos quais a maioria dos líricos têm vida curta, muito pelo contrário, são veículos de pensamento e meios pelos quais muitas coisas são ditas. Certamente, Patrice de Moraes não busca uma “palavra poética” vã, meramente ornamental, pois não há beleza que perdure no vazio, mas mostra-se determinado a alcançar aqueles que servem a um propósito, o mesmo que ficará depois de lido o poema, fechado o livro, recostada a cabeça. Por isso mesmo Patrice não parece temer o discurso, porque não pode cair num reino de abstrações puras, por isso sua poesia trás, mesmo carregada de lirismo, a força de um pensamento concreto e, assim, sua poesia se enche de um profundo “tom professoral” que, ainda segundo o Jessé Primo, traz, a obra de Patrice, uma idéia de “corporalidade”, como se verá no uso que o poeta de Conceição do Jacuípe faz da forma.

A forma nada mais é do que a elaboração interior de uma poesia, ela é o resultado final da idéia que um poema carrega, por isso, do contrário ao que muitos pensam, a forma não trabalha em causa próprio, mas é a idéia contida no poema que se adequará à rima, a métrica e ao ritmo. A freqüência com que a forma fixa, principalmente o soneto, a parece na obra de Patrice de Moraes, só vem a mostrar o quanto que o poeta procura seu entendimento e depuração, porque nenhuma espécie de poema em que se dividem os gêneros líricos exigem um auto nível de concretude e de pensamento reflexivo como exige o soneto, porque não há maior propriedade em um soneto que teor reflexivo, por maior que seja o lirismo que e ele carregue. Escrever um bom soneto não é fácil. Especialmente um soneto que se queira moderno, pois nenhum movimento, por incrível que possa parecer, habilitou e reabilitou o soneto como o Modernismo e, de lá, por diante. A natureza “moderna”, e, acima de tudo, a natureza poética, dos sonetos, como dos demais poemas de Patrice de Moraes, encontram-se implícitas nas questões existências que ele suscita, metaforizadas, na grande maioria das vezes, em seu erotismo:

Apresento-me para esta mulher
com meu e minha alma desnudados
para mostra-lhes os famélicos pecados
que esta carne insaciável tanto quer

Revelo minhas tendências animais
de lamber, de cheirar, de introduzir
os recursos que podem permitir
chover na zonas equatoriais

Convicta do que eu quero e do que eu faço,
convida-me a traçarmos um compasso
nas linhas da maior libertinagem...

Apaga do papel toda razão
fazendo-me chegar a conclusão
de usamos idêntica linguagem.

(Op. Cit. p. 19)


Como qualquer um perceberá, pelo menos os dotados da mais básica inteligência, que a obra de Patrice é dotada de uma grande qualidade, que vai da escolha dos temas a intimidade com a “mecânica dos versos”. A impressão que se tem ao ler seus poemas e de se está diante de uma tela repleta de cores e formas que vai ganhando movimento à proporção que se é olhada, ou melhor, lida. Sua poesia tem domínio lingüístico, onde conceitos se perdem e se acham, influências se revelam ou se disfarçam, formas podem ser usadas ou reinventadas, mas nunca se afasta daquilo que a torna verdadeiramente poesia. Sem dúvida, a sua lógica poética, como a lógica poética tout court é reinventar a realidade de onde tudo se origina, porque a vida é pouca; por isso precisamos de poetas, e de bons poetas, como Patrice de Moraes.

***

Quanto aos “escribas e fariseus, hipócritas!”, nada melhor para eles do que aproveitarem a apropriada ocasião da Semana Santa e ler o que a Bíblia diz, no versículo 14, do 23º capítulo do Evangelho segundo S. Matheus, a respeito deles.








Candeias/Feira de Santana, 28/31 de março de 2010.

segunda-feira, 29 de março de 2010

SARAU, BATE-PAPO LITERÁRIO, LANÇAMENTOS DE LIVROS E MUITO MAIS NO "VIVA A POESIA VIVA"...


O poeta Thiago de Melo, um dos homenageados no VIVA A POESIA VIVA desta próxima quarta-feira.

A Biblioteca Betty Coelho convida os amantes da poesia, para no dia 31 de março às 19 horas, no Espaço Cultural da Barroquinha, na Praça Castro Alves, a deleitaram-se com o evento VIVA A POESIA VIVA, em homenagem à poeta baiana Ametista Nunes, uma das criadoras do movimento Poetas na Praça.



Serão homenageados, também, o poeta amazonense Thiago de Mello e o poeta Manuel del Cabral, da República Dominicana.



O evento constará de uma exposição de livros, fotografias e e um recital com poemas dos homenageados, recitados pelos poetas Douglas de Almeida, Gilberto Teixeira, o cineasta Carlos Pronzato, o cordelista Alberto Oliveira, a diretora teatral Alda Valéria, o ator Franclin Rocha e a atriz Jeane Sánchez.



Esta edição do VIVA A POESIA VIVA será permeada por um bate papo com a poeta Ametista Nunes e alguns dos seus amigos e parceiros. Viva a Poesia Viva - Poetas de MarçoExposição de livros, fotografias, poemasRecital e leitura de poemas



Dia 31 de março, quarta-feira, às 19 horas, no Teatro Dias Gomes (Sind Comerciários)



Rua Francisco Ferraro nº 53, Nazaré- ao lado do Colégio Central



A entrada é franca.

sexta-feira, 26 de março de 2010

SARAU DE POESIA NESTE FIM DE SEMANA, EM SALVADOR... IMPERDÍVEL!



Sebo Praia dos Livros apresenta um grande Sarau Músico-Poético, neste sábado, dia 27 de março, às 20h. com André Sauaia (lançando seu novo disco: Violando Caminhos), com as participações dos músicos Otto Bruno e Arthur Gustavo e as intervenções poéticas de Ivan Maia e Bernardo Linhares.

Sebo Praia dos Livros fica Largo do Porto da Barra (ao lado do instituto Mauá),
Facílimo de encontrar... vá e divirta-se.
Eu vou!!!

quinta-feira, 18 de março de 2010

I ALSO THROW IN ANDY WARHOL... OU A NEFASTA ONIPRESENÇA


Andy Warhol (1928-1987)... Sua maior "obra de arte" foi ele mesmo.


A famosa lata de sopa Campbell’s... por que não uma de Quik?

Mao Tse-tung por Andy Warhol... baton e olhos pintados como uma "tia" louca: representação com conhecimento de causa.


Qual o artista mais representativo do século XX, caro leitor? Por mais complexa, e capciosa, que possa parecer, não seria algo difícil de responder se isso fosse perguntado à ávida turbamulta louca por uma câmera de TV, 15 segundos de fama e a chance irremediável de exercitar o seu achologismo.

Pablo Picasso, diriam alguns; Salvador Dali, afirmariam outros; Cândido Portinari, berrariam os mais nacionalistas... Todos os três geniais; os dois primeiros, além de grandes artistas, souberam fazer da auto-imagem um instrumento a mais de celebração e excentricidade; o segundo mais do que ninguém, foi símbolo de extravagância e talento. Porém, com a celebração do octogésimo aniversário, em 2008, que só agora me dou conta, e com a abertura a amostra Andy Warhol, Mr. América, com 170 obras de sua autoria, neste próximo dia 20 de janeiro, na Pinacoteca de São Paulo, não posso me esquecer de Andrew Warholam mundialmente conhecido pelo nome de Andy Warhol. Não pela sua genialidade ou por talento, coisas que, verdadeiramente, nunca teve, mas pelo fato de ter sido, entre os artistas do século XX, o que melhor entendeu que nada é mais importante no mundo do que a imagem, principalmente no mundo moderno, e a auto-imagem, mais do que qualquer outra, é o mais poderoso mecanismo de manipulação, tanto para a sua arte quanto para a sua autopromoção e, por isso, mesmo, tornou-se impossível olhar para a arte do século XX e não enxergar suas obras, por mais pífia que elas podem ser.

Andy Warhol, como o caríssimo leitor pode ver, não é o meu artista preferido – e não o seria nem se, infelizmente, ele fosse o último pintor na face da Terra, se vivo ainda estivesse –, e está a séculos-luz de ser o mais genial entre os mestres do século anterior, vivos ou mortos, verdadeiros ou falsos; aliás, concordo veementemente com o crítico da Times, Robert Hughes, que, em entrevista à revista Veja, afirmou que Warhol era do tipo que não tinha nada a dizer e não tinha dúvidas de que a sua reputação é a mais ridiculamente superestimada de todo o século passado.

Olhar para um quadro de Warhol é uma forma fácil para qualquer imbecil se sentir o mais superior dos homens; estar diante de suas obras é um convite a frases do tipo: “meu sobrinho, na quarta série, faria melhor” ou vou colar uma embalagem de Maizena numa tela, pô-la num museu e ficar famoso”. Então, por que me concentrar e escrever, mesmo que meras duas linhas, sobre ele e seu trabalho. A questão não é o que Warhol contribuiu de benéfico para a arte – que equivale a porra nenhuma –, e, sim, a contribuição malévola de seus trabalhos para com algo que ele nunca conseguiu compreender nos seus 58 anos de vida, embora estivesse sempre muito crente do contrário.


Nos anos de 1960, Andy Warhol daria a guinada fundamental em sua carreira de “artista plástico”, utilizando-se de motivos e conceitos da publicidade em suas obras, com o uso de cores fortes e brilhantes, reinventando a Pop Art com a reprodução mecânica de seus serigráficos, tematizando o cotidiano, edulcorados por artigos de consumo que, não raras vezes, são a única essência de todo o seu trabalho, como as reproduções de latas de sopa Campbell’s e das garrafas de Coca-cola. Numa época em que a produção artística torna-se, quase que totalmente, massificante, distribuída por mecanismos de produção em massa, seus quadros, representando figuras icônicas da Arte Clássica ao lado dos da Cultura Pop, como a Monalisa e os múltiplos rostos da Marilyn Monroe, e sua famosa e repetida frase – lema de todo reality show: “In the future, everyone will be famous for fifteen minutes”, podem parecer profecias, mas, na verdade, são prenúncios de um minuncioso trabalho, em grandecíssima escala, que visa não menos que a destruição dos conceitos e das categorias tradicionais do gosto, cujo resultado pode ser visto, nos dias de hoje, em qualquer campo artístico: quando qualquer toque de atabaques vale o mesmo ou mais do que um concerto de Chopin, ou uma macaca de chocolate é muito mais artístico, e menos pernóstico, do que um quadro de Ticiano.

Se o leitor acha que exagero, convido a ele, e a qualquer um, a fazer uma minuciosa pesquisa sobre as principais tendências que sobrelevavam nos Estados Unidos, no século XX, entre os anos 50 e 60. São duas: o Expressionismo Abstrato que, também não era lá grandes coisas, tendo Jackson Pollock como seu principal representante e a Pop Art, com Andy Warhol como seu ícone maior. O primeiro buscando, através de um traço sincero, a mais pura manifestação da subjetividade. O segundo, pela transformação “em arte” de objetos comuns do cotidiano, buscou nada mais do que a valorização dos aspectos superficiais do mundo. Siente destas coisas, quem se debruçou em fazer tal pesquisa – estando esse imbuído de sérias finalidades – só chegará a uma conclusão: a de que a única autenticidade de Andy Warhol foi ser um artista para os ineptos em matéria de arte, vendendo para estes mesmos ineptos, uma falsa ilusão de inteligência, elegância e realidade. E se ainda pareço exagerado, o livro Andy Warhol (Icons of América), do professor Arthur C. Danto para dizer a mesma coisa que digo... sem o apoio do Ph. D, no meu caso.

Para Andy Warhol, pessoas, eventos e produtos dependiam unicamente da exposição contínua, principalmente nos meios de comunicação de massa, assim, segundo ele, “existiam aos olhos do público”, que não precisava entender de arte ou de estilo ou, muito menos, de gosto, pois se estava o tempo todo na TV, por exemplo, é porque era bom, é porque era artístico e ninguém questionaria tal coisa; desta forma, Warhol formula a seguinte receita de sucesso, dividida em três partes.

Primeiro passo, usar um produto comum, sem quase nenhum, ou mesmo nenhum, truque formal ou técnica apurada a desafiar a menor das inteligências, dando a impressão de que a arte é algo frívolo, fácil e acessível à inteligência mais mínima, à prática, e, pelo menos em sua, digamos, “matéria-prima”, ao bolso, pois quem não pode comprar uma lata de feijoada enlatada? Uma garrafa de refrigerante? Uma foto de um símbolo sexual, facilmente encontrada em qualquer oficina mecânica?

Segundo passo, depois fazer uso deste produto em todos os meios de comunicação, principalmente quando estes “trabalhos artísticos” já são, de certo modo, partes destes meios, expondo-os e produzindo-os exaustivamente. Na era dos muitos reality shows e do YouTube isso faz mais do que sentido. O que não faz nenhum sentido é a arte, cuja função não é menor que tornar as coisas menos maçantes e dolorosas por serem o mundo e a vida pequenos demais para a enorme angústia que é fazer parte da Realidade, ser reduzida a um mero esboço daquilo que ela mesma, em sua essência e função, torna maior e mais bela. Desta forma, incapaz de alcançar a arte pelo talento, Warhol, como todo narcisista tomado de inveja e frustração, desdenha daquilo que sempre desejou e tinha ciência de que jamais o obteria.

Discípulo aplicado das monices artísticas de Duchamp, a vida de Andy Warhol não se limitou a retratar o mundo das celebridades, ele próprio foi a sua maior “criação artística”, e nisso se encontrava o seu terceiro e último passo para a sua receita malévola de destruição dos conceitos tradicionais e verdadeiros da Arte, do Gosto e da Estética. Com o ar petulante e ridículo, análogo àqueles coitados que, acabando de sair do Big Brother Brasil, acreditam ter vencido o mais rigoroso dos rituais de transcendência moral, filosófica e espiritual, Warhol sempre achou possuir o mundo aos seus pés. Gay assumidíssimo, narcisista compulsivo, adorava passear ao lado de celebridades, freqüentar festas e lugares badalados, com as mais extravagantes roupas e as mais despudoradas perucas – Lady Gaga, eis, aí, a tua Mãe! –, sem contar o fato de transformar a Factory, seu ateliê, em Nova York, na mais disputada boate da cidade e, depois de tudo, fazer deste carnaval a única e verdadeira forma de arte possível. Sua vaidade não diminuiu nem depois dos tiros que levou de uma feminista maluca – perdoem-me pelo pleonasmo –, chamada Valerie Solanas, fundadora, e única membro, da SCUM ( Society for Culting Up Men), literalmente: Sociedade para a castração de homens – mesmos os homens como Andy Warhol.

Ninguém é mais responsável pela auto-complacência e pela vulgaridade daquilo que se chama Arte Contemporânea ao que Warhol. Sua capacidade de destruir as coisas não se limitou às artes plásticas nem a sua pessoa, basta olhar, caro leitor, a fortíssima influência que suas “idéias” em outros campos artísticos. O Concretismo, por exemplo, nada mais é do que a versão Andy Warhol para a poesia... a cagada é a mesma: arrancar da Arte, seja ela plástica ou literária, a sua natureza mais íntima e essencial, substituindo-a por sua forma mais banal e caricata. Mas, de maneira geral, as palavras de Robert Hughes podem ser contestadas, pois Warhol está longe de ser superestimado, pelo menos por mim, porque, desde os anos 60, não há exemplo melhor do que ele para mostrar a quem quiser enxergar que não se deve subestimar o poder da Idiotice... principalmente quando se dá razão a um idiota.





Candeias, 18 de março de 2010.




ESTÃO DE VOLTA OS "ENCONTROS LITERÁRIOS DA ABL"




O mais interessante neste projeto é ver os próprios escritores falando de criação, da paixão pela poesia e entoando os seus proprios poemas... É imperdível!!!

quinta-feira, 11 de março de 2010

NÍVIA MARIA VASCONCELLOS "IN CONCERT"...


Grande recital de poemas com Nívia Maria Vasconcellos
No Cidade da Cultura: Rua H, n. 170, Conjunto João Paulo II, Feira de Santana-BA.
Dia 13 de março, sábado, às 20h.
Dizer mais o quê...?!

quinta-feira, 4 de março de 2010

ABERTAS AS ESCRIÇÕES PARA III OFICINA DE CIVILIZAÇÃO FRANCESA NO CUCA







Estão abertas as inscrições para a III Oficina de Civilização Francesa.

Inscrições até 12 de março.

Local: CUCA (Centro Universitário de Cultura e Arte)

Início: 15 de março às 19 h.

CONVITE: REABERTURA DAS TRABALHOS DA ACADEMIA FEIRENSE DE LETRAS COM SARAU E LANÇAMENTO DE LIVROS E CDS DE POESIA



Um grande Sarau marcará, dia 18 de março de 2010, próxima quinta-feira, no Centro de Cultura Amélio Amorim, a reabertura dos trabalhos da Academia Feirense de Letras, que será marcada pelo lançamento da Revista Acadêmica n. 4, lançamento dno novo CD de poetas feirenses, III; CD Poesia enquanto é tempo e declamação de poemas e cantorias. O anfitrião será o presidente Eduardo Kruschewsky, poeta e amigo.


Não deixem de ir!!!




segunda-feira, 1 de março de 2010

O HOMEM E SUA SÍNTESE: OU FELIZ ANIVERSÁRIO, FRÉDÉRIC CHOPIN ( 1º DE MARÇO DE 1810 – 17 DE OUTUBRO DE 1849)


Frédéric Chopin na visão de Ary Scheffer


A única fotografia conhecida de Chopin, feita por Louis-Auguste Bisson em 1849.


Uma vez ouvi de um estudante, aqui, do Curso de Letras Vernáculas da Universidade Estadual de Feira de Santana, a seguinte afirmação: “Não gosto de Chopin”. Até aí tudo bem, gosto não se discute – se aprimora –, mas não pude conter a curiosidade e lhe perguntei: “Por quê?”. Antes não o tivesse feito, pois a resposta do infeliz só me fez ver, mais uma vez, o quanto de idiotice se pode facilmente encontrar e, pior ainda, produzir nas nossas Universidades: “Não gosto de Chopin porque ele é muito melancólico”. Após ouvir tão articulado rincho, tomei a atitude que melhor cabia a alguém com o mínimo de bom-senso, ou seja, repugnei-o, afastei-me, e, miudamente me recompondo, avaliando o que não perdera, segui vagaroso e de mãos pensas.

No que eu não podia acreditar era que a frase párvoa de um dos futuros professores de seus filhos, caro leitor, despertara-me algumas reflexões com respeito ao Gênio de Zelazowa Wola. Não que eu estivesse a filosofar sobre a chocolaridade do chocolate, como queria a despropositada afirmação de nosso futuro educador, mas não pude deixar de pensar que se há alguém capaz de sintetizar todas as qualidades do Romantismo e, ao mesmo tempo, seus piores defeitos este é Frédéric Chopin. Como as figuras mais tarimbadas que, comumente, conhecemos em nosso romantismo literário, tais como Castro Alves e Junqueira Freire, sua vida foi curta, ainda que tenha vivido um pouco mais do que os bardos baianos, mas intensa; triunfal, mas cheia de péssimos momentos; de sonhos não realizados, mas cheia de glória e reconhecimento.

Sem dúvidas, a figura de Chopin foi, ao longo de quase dois séculos, carregada de um sentimentalismo que lhe infundiu uma falsa fraqueza física facilmente desmontada se tomamos conhecimento de seu incansável trabalho como concertista e lhe consagrou como homem de profunda força moral e inigualável talento – no que se refere a este último, e à sua precocidade, somente Mozart lhe é análogo e, assim como Mozart, soube tirar grande proveito desta precocidade, como soube muito bem tirar proveito da imagem heróica com a qual chegou a Paris, em 1831, e como se aproveitou até mesmo da imagem de moribundo recluso quando a tuberculose atingiu a sua fase mais cruel, pois nunca se editou e vendeu tantas músicas, àquela época, como aconteceu às obras que Chopin produzia em seu exílio em Majorca.


Frédéric Chopin nasceu perto de Varsóvia, capital da Polônia, em 1º de março de 1810, filho de um francês imigrante com uma jovem pianista de tradicional família polonesa, não é à toa que Chopin se ligará à música desde muito menino. Foi com a mãe que, com apenas seis anos, teve as suas primeiras aulas de piano, que, logo, seriam assumidas pela batuta de Adalberg Zwyny, que lhe infundiria, o quanto antes, a música de Bach e de Mozart. Aos sete anos, viria sua primeira composição, uma polonaise. Aos oito, o primeiro concerto. Com dose anos, após tocar na Rússia dos Czares e para o grão-duque Constantino, Zwyny nada mais tem a lhe ensinar. O jovem Frédéric agora estuda num conservatório local com o maestro Josef Elsner que influenciaria tanto a sua visão de música quanto de mundo. Não demorou que o gênio precoce chegasse à Paris, centro artístico e intelectual do mundo àquela época, causando grande fervor e deslumbramento que muito pouco afetará a sua personalidade.



Chopin era conservador e ordenado e, à menor falta de elegância, incomodava-se verdadeiramente. Como em todo personagem romântico, as ideologias e os estilos mais antagônicos conviviam de igual para igual e, embora o Romantismo fosse um movimento de protesto apaixonado e burguês (em sua origem), Chopin sempre se viu como um aristocrata; era um burguês pobre, mas educado nos costumes aristocráticos; de alma aristocrática. Vivendo entre o sonho morto da Revolução Francesa e da próxima, que entusiasmaria outros românticos como Richard Wagner, a única revolução da qual Chopin se associaria foi àquela que ele fez ao piano. Nunca ninguém compôs tanto, e com tamanho afinco, para um instrumento em particular como o fez Chopin e, depois dele, só Rachmaninoff lhe é, de longe, comparável.



Um amigo violinista, certa feita, lamentava-se ao ouvir um noturno de Chopin, de não haver alguém que compusesse assim para o violino; ao que lhe retruquei: e Paganini? Ele me respondeu: “Paganini compunha para ele e não para o violino...” Confesso que não concordei, totalmente, com a afirmativa, mas o que ele me disse, graças a Deus, não era uma asneira...)



Se Chopin não se associa ao espírito revolucionário que é um dos pilares fundamentais do movimento romântico, abraça, como nenhum outro, os excessos sentimentais, o nacionalismo e o gosto pelo folclore, até então, de uma forma jamais vista. Com um senso de humor cáustico, extremamente orgulhoso, socialmente disciplinado, tuberculoso e de vida amorosa, digamos, exígua, Chopin é, bem à maneira dos românticos, alguém que precisa viver com intensidade para tudo que lhe seja crível, porém, pouco lhe oferece quando lhe é pedido e menos ainda recebe quando vê que nada é o bastante. Esse jogo antitético é tão presente em sua música que ora passeamos por uma doce e coerente melodia e, de repente, nos encontramos no meio de escalas e acordes que explodem sucessivamente ascendendo e descendendo numa fúria inexplicável e sincera, movendo-se apenas pela proliferação de diferentes sentimentos que cada nota expressa e desperta, como se pode notar na grande Polonaise brilhante, precedée d’un Andante Spianatto, em mi bemol maior, op. 22, e, seguidamente, na Balada nº1, em sol menor, op. 23... aliás, caro leitor, já assististe ao O Pianista de Ronan Polanski?

De fato, a vida amorosa de Chopin concentra-se e se resume a três mulheres, Costância Gladkowska, a quem ele dedicara a Romanza do Concerto para piano e orquestra em mi menor, op. 11; Maria Wodzinska, a quem oferece a famosa Valsa do adeus; George Sand (Aurora Dupin) a quem Chopin, à primeira vista, considera-a antipática, além de duvidar de quaisquer sinais de sua feminilidade. George Sand será seu grande amor e sua mais amarga sina; ela terá, em Chopin, uma forma de nutrir a sua “solicitude maternal”, segundo ela própria; ele terá, em George Sand, o mais próximo do que recorda ser uma família – coisa que não experimenta desde a sua partida da Polônia. A verdade é que esta relação fez bem a Chopin, e os nove anos que passam juntos são os mais felizes para o homem e os mais férteis para o compositor... Todavia, como nem tudo são flores, o período em Majorca são os mais propensos às suas hemoptises.



Se outro amor existiu na vida de Frédéric Chopin, este foi o mais duradouro; um casamento que o acompanhou até mesmo após a sua morte: o amor à Pátria. Clássico e romântico é o fato de Chopin ter carregado, por toda a sua estada em Paris uma caixinha com terra de sua amada Polônia; mesma terra que seria jogada em seu corpo durante suas exéquias, antes de ter coração arrancado e, segundo sua vontade, enterrado na Igreja da Santa Cruz, em Varsóvia. Em termos práticos, este amor a sua terra-natal produz uma música de devoção e saudade. Chopin, na infância, vivia perto do campo e, nesta atmosfera bucólica, manteve grande contato com o folclore polonês e com a música de cunho popular como as mazurkas, os obereks, os kajaviaks, as polonaises... Guardadas na memória, estas músicas lhe serão de inspiração para o resto de sua vida; só de polonaises escreverá dose ao longo de sua vida; elas estarão presentes, por exemplo, em sua primeira composição, uma Polonaise, em sol sustenido menor, e nas últimas, uma Polonaise fantasia, em dó menor, op. 61.

Não pensemos que Chopin fez com as polonaises uma mera transição destas manifestações populares, elas são criações de seu autor que, embora conserve e se apodere, até certo ponto, do caráter rítmico da dança popular, é na linguagem da música erudita que ele as molda. Sendo mais claro: não há dúvidas de que as lembranças de sua infância campestre e as canções e danças populares que a embalavam foram uma valiosa fonte de inspiração para toda a sua obra e talvez isso contribua consideravelmente para a famigerada “popularidade” de Frédéric Chopin entre tantos compositores clássicos, que se aliam, evidentemente, às belas e perfeitas melodias por ele criadas. Todavia, caro leitor, não é bom confundir as coisas, pois Chopin utiliza um folclore, em especial as polonaises, à sua maneira e dentro de uma linguagem típica da música erudita, com uma inspiração nascida de suas lembranças, criando, assim, um folclore pessoal e autêntico, de uma nova espécie, não uma imitação ou mera transcrição.



Desta forma, Chopin foi o pioneiro de uma forma de recriação, mais tarde, utilizada por mestres como Bartók, Kodaly, Smetana, Albeniz, Falla, Granados, Prokofiev, e, claro, Stravinsky, Villa-Lobos e Edino Krieg. Ora, vivemos numa época deformada pelo “politicamente correto” e, por isso mesmo, por uma moral e uma democracia deturpadas e estúpidas, com respeito a muitas coisas, inclusive à estética, que dilui as categorias tradicionais do gosto ao ponto de a dignidade alheia ser ofendida. Desta maneira, se é possível ouvir por aí que não existe diferença entre um samba-de-roda do Recôncavo baiano e uma Bachiana de Villa-Lobos e que, muito provavelmente, o primeiro contribua muito mais para a cultura e para a formação educacional de nosso país do que o segundo – não é à toa que, nas avaliações do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), estejamos sempre disputando o último lugar. Para piorar, toda uma linha de pensamento crítico-relativista, ligada aos movimentos sociais de esquerda (sempre os mesmos canalhas) tendem a interpretar o gosto estético refinado como um mecanismo de denominação ou como uma visão falsa e irracional sem sistemas ou provas, como teorizaram Pierre Bourdieu e Susan Sotang. Mas, a obra e o espírito aristocrático de Chopin são um dos muitos exemplos de que esta baboseira esquerdo-idealiasta não terá vida longa e nada significa ou significará diante dos já duzentos anos de grandeza que é a sua música.



Frédéric Chopin foi um inventor de gêneros – o primeiro de uma leva que atravessará todo o século XX – que, em vida, jamais se descobriu como tal e, talvez, nunca o quisesse, entretanto, soube se elevar a esta categoria como provam os seus muitos nuturnos, imprumptus, valsas e baladas. Quando ouvimos estas peças percebemos o quão era correta a frase de seu amigo Liszt, ao referir-se aos seus prelúndios: “a estrutura desta obra assemelha-se a de figuras geométricas perfeitamente desenhadas, nas quais todos os elementos estão em seu lugar exato e não há uma linha a mais se quer”.

Em verdade, toda a obra de Chopin é carregada de uma dramaticidade perfeitamente calculada, ora prezando por lugares comuns, intocáveis, como é o caso dos malabarismos rítmicos das polonaises, ora inovando em estilos há muito consagrados, como é o caso de suas valsas; Chopin, e, junto com ele, Schubert, elevará este gênero musical à categoria de obra de arte maior, transformando-a de uma música frívola e melancólica, até então, numa dança onde o virtuosismo se une ao ritmo alegre e cadenciado. Isso sem falar em seus noturnos... De toda a sua obra, são os noturnos as composições que melhor expressam a profusão de sentimentos existente em seu compositor. Segundo o crítico musical, Eduardo Ricón: “os noturnos são uma parte do sonho e refletem tudo o que existe de mais belo e inexplicável na arte e os que melhor traduzem os sentimentos do homem que foi Chopin, os que melhor descrevem os pensamentos que chegam com a obscuridade e se misturam com o medo: da morte, da doença, da miséria própria ou alheia, a piedade, o amor...”



Frédéric Chopin foi uma força única no meio artístico romântico, uma artista de uma personalidade tão singular que até o mais inapto ouvinte – mesmo aquele imbuído das tolices relativistas – é capaz de reconhecer, com total facilidade, as suas melodias. Por causa desta personalidade, seria impossível não existiram imitadores, e, menos ainda, uma influência que se fará sentir por toda a Europa na segunda metade do século XIX. Só para termos uma idéia, caríssimo leitor, de seu imenso prestígio e preponderância, podemos reconhecer traços de sua personalidade musical em nomes como Liszt, Scriabin, Tchaikovsky, Fauré, Debussy e, pela imensa dedicação que, também, deu ao piano, Rachmaninoff.

Uma personalidade tão imensa não poderia passar incólume diante de tantos detratores que, entre tantos despautérios, o acusariam, de excessivo, em seu romantismo, como se o próprio Romantismo não pedisse isso, e de elitista, como se houvesse algum problema em pertencer a uma elite, por causa de sua carreira e sua música se restringirem aos salões e aos bailes. Incapazes de perceberem o óbvio, graças as suas ideologias de ninharia, estes detratores não percebem que, assim como toda a sua obra, tal atitude por parte de Chopin é fruto de sua personalidade aristocrática, de sua elegância espiritual que o fazia desprezar toda frivolidade, grosseria e estupidez muito comuns numa Paris que tanto poderia ser o berço do bom-gosto como o de futilidades. Mas como fazer com que imbecis como Bourdieu e Sontag, e outros tantos que concordam com seus relativismos, entendam o que significa elegância de espírito se um dos melhores sinais desta elegância é refrear seus impulsos exibicionistas, típico de todo idiota narcisista, ao emitirem opiniões sobre assuntos que estão acima de sua competência e compreensão?

Alguém, aí, ainda acha Chopin melancólico...?!







Candeias, 1 de março de 2010