quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

FELIZ NATAL E QUE VENHA 2010... O ANO EM QUE CONTINUAREMOS A FAZER CONTACTO



Eu, Silvério Duque, sou poeta, nasci em Feira de Santana, aos 31 de março 1978. Sou licenciado em Letras Vernáculas, pela Universidade Estadual de Feira de Santana. Além da poesia, assumo as atividades de músico, clarinetista, já coordenei a Escola de Música da Sociedade Filarmônica Euterpe Feirense, aliás, as bases de minha formação musical advém das Filarmônicas; sou professor, crítico literário, escrevi e escrevo para vários jornais e revistas e sou autor de dois livros de poesia O crânio dos Peixes, ( Ed MAC, 2002 ) e Baladas e outros aportes de viagem, ( Edições Pirapuama, 2006 ). Meus próximos livros, Ciranda de Sombras e A pele de Esaú, estão no prelo. Aqui, neste Blogger, publico meus poemas e minhas considerações sobre Arte e, principalmente, Literatura, as quais, obviamente, estão sujeitas às mais diversas críticas que serão devidamente aceitas, desde que feitas com inteligência, elegância e respeito. Como é a Internet, tudo aqui é público, portanto, o que aqui escrevi pode ser utilizado por qualquer um, contanto que se dê o devido uso e crédito, o que é o direito de todas e quaisquer fontes intelectuais. E quero aproveitar a "liberdade poética" que a data natalícia nos oferece para reinterar meu compromisso com todos que acessam este Blogger e aproneitar para desejar-lhes um FELIZ NATAL E UM PRÓSPERO ANO NOVO. Um forte abraço e espero que continuem gostando.


quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

SAI O RESULTADO DA IV EDIÇÃO DO CONCURSO LITERÁRIO "BAHIA DE TODAS AS LETRAS"


Frontispício da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Salvador-BA.


O concurso é realizado pelas editoras Via Litterarum e Editus (Editora da UESC), com patrocínio para os primeiros colocados da Fundação Chaves. Ano após ano, a boa remuneração para os primeiros colocados vem aumentando o interesse por esse concurso.


O meu amigo e poeta Gustavo Felicíssimo, teve a grata felicidade de ser premiado em duas categorias: Poesia e Literatura de Cordel. Esta última em parceria com outro grande poeta amigo Piligra.



RESULTADOS:


POESIA
(Cada autor inscreveu três trabalhos, sendo avaliado o conjunto)


Vencedor: Gustavo Felicíssimo


Obras: Procura, O credo de Don Juan e Monólogo de Don Juan



LITERATURA DE CORDEL


Vencedor: Gustavo Felicíssimo e Lourival P. Piligra Júnior


Obra: A peleja virtual entre dois poetas arretados



ENSAIO LITERÁRIO


Vencedora: Maria José de Oliveira Santos


Obra: Um caso de amor na Cidade de Salvador da Baía de Todos os Santos



CRÔNICA
(Cada autor inscreveu três trabalhos sendo avaliado o conjunto)


Vencedor: Manoel Souza das Neves:


Obras: Mentiropédia, Eu tenho medo de mulher e AuxílioFuneral



CONTO
(Nessa deu empate)


Obra: Amaro, de Tiago Santos Groba


Obra: O mergulho, Denize Ravizzoni



Mais informações no site da universidade:


http://www.uesc.br/editora/index.php?item=conteudo_concurso.php

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O CARROSSEL DE MARK GERTLER


O Carrossel de Mark gertler (1916): Óleo sobre tela; 247 x 487 cm – Tate Gallery, Londres.

 
SONETO*

à Senhora Claudia Cordeiro, un souvenir...

( pr’ uma aquarela à Carlos Pena Filho )

Por que pintei de azul a nossa estrada?
Por não trazer um céu sob os sapatos.
Então, busquei, em gestos insensatos,
despir, do azul, o Azul da madrugada.

Para exigir então o azul ausente,
que se espargiu em tuas alpargatas,
roubei de ti o azul das coisas gratas,
que, em teu olhar, nasceu tão simplesmente.

Mas, vestidos de azul, nem recordamos,
haver tantos azuis que azuis se amassem,
qual o Mar e o Céu, no azul, nos espelhamos...

E, perdidos no azul, nos contemplamos,
porque, do azul, as coisas sempre nascem,
pois, no morrer do azul, nós retornamos.




* Sobre este meu soneto, o poeta Gustavo Felicíssimo, em seu blog, Sopa de Poesia, escreveu e publicou: "Tudo bem, alguém poderá me dizer que o poeta do azul é Carlos Pena Filho. O seu Soneto do desmantelo azul é mesmo uma jóia, mas esse heróico do Silvério Duque, convenhamos, tem seu lugar, um soneto espirálico, marcado por esse último verso: 'pois no morrer do azul, nós retornamos', que deixa o poema em aberto. Muito bom mesmo!"... O pior é que eu estou começando a acreditar (rsrsrs)! Brincadeiras à parte, é sempre muito bom poder me inspirar e homenagear grande nomes de nossa Literatura, além de outros que têm um papel fundamental na divulgação da grande poesia: como é o caso dos nomes acima.

DOIS ESTANDARTES SERTANEJOS... A ARTE DE JUARCI DÓREA E JOÃO MARTINS


Fantasia Sertaneja de Juraci Dórea (em exposição no Museu Regional de Arte CUCA)


Bate papo com o pilão de João Martins (em exposição na Galeria Carlo Barbosa CUCA)


Ontem, tive o prazer de ir uma dupla exposição: de um lado, as imagens delicadas, reminiscentes e sinceras de João Martins, um artista plástico autêntico, como poucos que, ultimamente, temos o prazer de encontrar por aí.

Sua maior inspiração é, sem dúvidas, a natureza: natureza típica de Irará sua terra natal. Pintando quadros com imagens múltiplas de paisagens, frutas, flores, animais, pássaros, gaiolas, casarios, carroças, sertanejos... entre outros elementos. Sua obra traz uma exuberância muito singular de cores que saltam de frutas e aves típicas da região sertaneja e neste colorido emaranhado é impossível, ao espectador, não se envolver, digamos, sinestesicamente, pensando sentir o sabor de mangas, jacas e pinhas, ou ouvir o estribilho agudíssimo de sofres ou cardeais, que ornam com sensibilidade e maestria as suas telas. A quase totalidade deles compõe o cenário do universo infantil vivenciado em Irará. A exuberância de cores dos trabalhos plásticos de João Martins, aliado aos seus versos, lhe valeram a alcunha de poeta da cor, embora seja na pintura que ele consegue a síntese e o lirismo que lhe escapam em muitos de seus versos.

Assumindo, com muito orgulho, a sua condição de iraraense, João Martins busca muitas inspirações em sua cidade natal, remetendo-se às suas raízes de menino sertanejo. Situada entre o Recôncavo e o Sertão da Bahia, Irará possui uma flora e fauna belíssimas e diversas manifestações culturais, onde o artista colherá a maior parte de suas inspirações.

Do outro lado, a experiência e genialidade de Juraci Dórea. Sua obra, inteiramente dedicada ao Sertão e às manifestações sócio-culturais daquela região, mostra-nos um mundo muito próprio e singular envolvido num Sertão de misticismo e realidade, de poesia e trabalho árduo, de alegria e sofrimento constantes...

Todo este antagonismo é visitado e revisitado por Juraci através de um traço inconfundível, onde vaqueiros assemelham-se a cavaleiros errantes, bois e cabras parecem se metamorfosear em pássaros, criaturas místicas pousam ao lado de sertanejos, amor, alegria, violência e perversão compõem a mesma amalgama cultural da qual o artista, como qualquer outro grande em seu ofício, faz uso para mostrar nada mais nada menos que a realidade que o cerca, refletindo o universo sertanejo que Guimarães Rosa encontrou nos descampados mineiros, Graciliano Ramos buscou nas caatingas alagoanas, Vicente do Rego Monteiro arrancou dos confins de Pernambuco e Juraci Dórea reflete de sua Bahia e mais precisamente de Feira de Santana, a qual me parece ser sua saga e, muitas vezes, sua sanha e sua sina. Como bem exemplificou o professor e escritor Rubens Alves Pereira, “a obra de Juraci Dórea abre-se como um estandarte sobre a vida sertaneja. Nela, viceja a o espírito de um povo simples e humilde do Sertão, elevem-se grandes referenciais da cultura popular. Sobre tudo uma arte que se plasma nos largos gestos da arte contemporânea em que o artista se insere, enriquecendo-a com suas peculiaridades”.

Da mesma maneira que o pintor de Irará, João Martins, Juraci Dórea, de Feira de Santana, tem, na poesia, sua rosa dos ventos; no caso do feirense, por se guiar pela poesia popular do cordel, por exemplo, guia-se por rumos mais seguros. Ambos, principalmente, em suas obras, são grandes cronistas de suas memórias, do Sertão e da brasilidade. Ambos, sobre certos aspectos, realizam uma obra erudita, de uma expressividade, de um aprofundamento e, por que não, de um didatismo único e necessário... tudo isso, através de uma releitura do imaginário sertanejo fazendo, tanto do iraraense quanto do feirense, artistas excepcionais que ao lado de Gil Mário, Cleonice Barbosa e, evidentemente, de Gabriel Ferreira, só vêm a nos mostrar o quanto que, atualmente, estamos muito bem servidos de artistas plásticos.

Ambas as exposições podem ser conferidas no CUCA (Centro Universitário de Cultura e Arte) à rua Conselheiro Franco, 66, Centro, Feira de Santana, Bahia, Brasil.




É crer e ver!!!






Feira de Santana, 10 de dezembro de 2009.






terça-feira, 8 de dezembro de 2009

UM SONETO...?


Amantes de Nicoletta Tomas, 2001, acrílico sobre tela - 50x50 -, coleção privada.

Bendito seja todo esquecimento;
bendita, também, seja toda sede
e tudo mais que nos desperte a carne
ou que nos torne estranhos ante o espelho.

Bendito o nosso instante mais impuro;
o que sobrou de nós e o nosso início –
tanto vazio e cor num só começo –,
tantas mortes das quais nos refazemos.

Que Deus nos abençoe por entre as pedras
com o ressoar cruel do vão destino;
e que eu O veja inteiro ( em cada passo )

– e que possas senti-Lo em meio aos braços
com os quais, na dor, abraças teus joelhos...
Bendita seja a paz destes silêncios.






Salvador, 05 de dezembro de 2009.




quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

MEMÓRIAS DOS PINTORES DE FEIRA DE SANTANA... POR JURACI DÓREA


É com imenso prazer que convidamos para a Exposição e lançamento do Álbum Memórias Pintores de Feira de Santana do artista plástico Juraci Dórea, organizada pela Fundação Carlo Barbosa.

Dia 09 de dezembro, às 20 h no CUCA (Centro Universitário de Cultura e Arte) que fica na rua Conselheiro Franco, s/n, Feira de Santana-BA.


Não percam!!!!!

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

UM ENCONTRO INESQUECÍVEL COM A LITERATURA...



Nesta sexta-feira, às 17 horas, na Academia de Letras da Bahia haverá mais um Encontros Literários: ponto de cultura espaço das letras, com Gustavo Felicíssimo e Hevelina Hoisel fazendo comentários sobre a obra de Ildásio Tavares e Myriam Fraga, dois dos maiores expoentes da literatura baiana no século XX.


Trata-se de um programa de pós-graduação em literatura e diversidade cultural da UEFS - Universidade Estadual de Feira de Santana.


A curadoria do encontro está a cargo do poeta Luis Antônio Cajazeira Ramos.



Quem gosta de boa poesia não pode perder!!!!!

LASCIA CH'IO PIANGA MIA CRUDA SORTE... ou UMA TRÍPLA RECOMENDAÇÃO A RESPEITO DOS CASTRATI


Alesssandro Moreschi (1858-1922), último dos castrati...


Imagem do filme Farinelli, Il Castrato...


Capa do CD Sacrificium, de Cecilia Bartoli (Universal, 2009).


Um dos episódios mais fascinantes e cruéis da história da música foi a existência dos castrati. A palavra, literalmente traduzida para “castrado” em português, designava os cantores que, demonstrando algum talento para o canto lírico, tinham seus testículos removidos para, desta forma, impedir as mudanças hormonais que tornam a voz mais grave. Sobre certo ponto de vista a Igreja teve grande culpa por esta prática, pois suas interdições equivocadas impediam as mulheres de cantar nas igrejas e nos coros.

O auge desta “prática artística” deu-se entre os períodos Barroco e Rococó, ou, para ser mais preciso, em fins do século XVII e primeira metade do XVIII. Aliás, foram os compositores do barroco os que mais exploraram a força e o lirismo dos castrati. George Friedrich Händel (1685-1759), por exemplo, tem áreas escritas para os heróis de suas óperas exclusivamente para castrati, e, comumente, tanto personagens masculinos quanto femininos eram interpretados por eles: Cara sposa de Xerxes e Lascia ch’io pianga de Rinaldo são boas ilustrações para o que afirmo.

Supõe-se que mais de 4000 eram castrados por ano durante todo o século XVIII. Na Itália era muito comum existir muitas barbearias, em sua maioria, napolitanas, que possuiam, à entrada, um dístico com a seguinte indicação "Qui si castrano ragazzi". Era de Nápoles, inclusive, de onde vinham a maioria dos castrati. Os meninos proviam das ruas ou de famílias pobres que viam na castração de seus filhos a única perspectiva para uma vida com dignidade. Entretanto, arrancar testículos garatia o talento, muito menos o sucesso, e, muitos, não achando emprego, voltavam à rua, à miséria e, pior ainda, à prostituição.

Para os que prosperavam, e estes eram poucos, os estudos eram sérios e exigiam dos castrati dedicação subre-humana. Há pouquíssimas gravações que mostram como era a voz de um castrati que combinava extenção, potência e versatilidade; um dessses parcos registros estão nas gravações, entre 1902 e 1904, feitas por Alesssandro Moreschi (1858-1922), considerado o último de sua especie, morto em 1922 e que, até 1913, atuou como solista do coro da Capela Cistina. Após muito analisarem a suas gravações vários especialistas chegaream a conclusão de que Moreschi se tratava de uma voz potente, porém medíocre e "destemperada," pelo fato de que ele não recebeu a educação musical que receberam os grandes castrati do século XVIII, época em que estes estavam no auge. Quando Moreschi iniciou sua carreira, o último dos famosos cantores castrados, Juan Bautista Stracciavelutti (1780-1861), mais conhecido como Vellutti, já havia falecido há anos.

O caso mais lendário entre os castrati é o de Carlo Maria Broschi, mais conhecido como Farinelli segundo registro de época sua extensão vocal abrangia do Lá2 até Ré6, como escreveu Johann Joachim Quantz (1697-1763): "Farinelli tem uma voz de soprano ligeiro, completa, rica, luminosa e bem trabalhada, com uma extensão que abrange desde o Lá debaixo do Dó central a Ré três oitavas acima do Dó médio… Sua entonação era pura, seus vibratos maravilhosos, seu controle sobre sua respiração era extraordinário e sua garganta muito ágil, porque cantou os intervalos mais amplos rapidamente e com a maior facilidade e firmeza. As passagens das obras e todo tipo de melismas não representaram dificuldades para ele. Na invenção das ornamentações livres nos adágios foi muito fértil." O poder e a doçura da voz de Farinelli se perpetuariam por várias cortes que iam desde a de Luis XV, da França, a de Felipe V, da Espanha.

Quem quiser conferir um pouco do repertório dos castrati recomendo, primeiramente, algumas gravações de Alesssandro Moreschi, que podem ser conferidas, por exemplo neste link: http://www.youtube.com/watch?v=slhhg8sI6Ds, mas os leitores deverão desculpar a precariedade de uma gravação com mais de 100 anos. Podem assistir ao filme Farinelli, Il Castrato (Bélgica/França/Itália, 1994) de Gèrard Courbiau, com Stefano Dionisi no papel principal: http://www.youtube.com/watch?v=ZNp8hYycx4c ou adquirir o novo disco, Sacrificium, da médio-soprano italiana Cecília Bartoli que, num trabalho estupendo de talento e pesquisa, revisita, em seu novo album, as principais obras escritas para os castrati: http://www.youtube.com/watch?v=WZdcp_FpfqI.

Em 1870, o Papa Leão XIII proibiria a castração para "fins artísticos" e, em 1878, baniria os castrati dos coros das igrejas... um gesto bastante humano (para não dizer o contrário) na tentativa de apagar centenas de anos de dor, frustração e humilhações.










Feira de Santana, 1 de dezembro de 2009.