quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

DOIS ESTANDARTES SERTANEJOS... A ARTE DE JUARCI DÓREA E JOÃO MARTINS


Fantasia Sertaneja de Juraci Dórea (em exposição no Museu Regional de Arte CUCA)


Bate papo com o pilão de João Martins (em exposição na Galeria Carlo Barbosa CUCA)


Ontem, tive o prazer de ir uma dupla exposição: de um lado, as imagens delicadas, reminiscentes e sinceras de João Martins, um artista plástico autêntico, como poucos que, ultimamente, temos o prazer de encontrar por aí.

Sua maior inspiração é, sem dúvidas, a natureza: natureza típica de Irará sua terra natal. Pintando quadros com imagens múltiplas de paisagens, frutas, flores, animais, pássaros, gaiolas, casarios, carroças, sertanejos... entre outros elementos. Sua obra traz uma exuberância muito singular de cores que saltam de frutas e aves típicas da região sertaneja e neste colorido emaranhado é impossível, ao espectador, não se envolver, digamos, sinestesicamente, pensando sentir o sabor de mangas, jacas e pinhas, ou ouvir o estribilho agudíssimo de sofres ou cardeais, que ornam com sensibilidade e maestria as suas telas. A quase totalidade deles compõe o cenário do universo infantil vivenciado em Irará. A exuberância de cores dos trabalhos plásticos de João Martins, aliado aos seus versos, lhe valeram a alcunha de poeta da cor, embora seja na pintura que ele consegue a síntese e o lirismo que lhe escapam em muitos de seus versos.

Assumindo, com muito orgulho, a sua condição de iraraense, João Martins busca muitas inspirações em sua cidade natal, remetendo-se às suas raízes de menino sertanejo. Situada entre o Recôncavo e o Sertão da Bahia, Irará possui uma flora e fauna belíssimas e diversas manifestações culturais, onde o artista colherá a maior parte de suas inspirações.

Do outro lado, a experiência e genialidade de Juraci Dórea. Sua obra, inteiramente dedicada ao Sertão e às manifestações sócio-culturais daquela região, mostra-nos um mundo muito próprio e singular envolvido num Sertão de misticismo e realidade, de poesia e trabalho árduo, de alegria e sofrimento constantes...

Todo este antagonismo é visitado e revisitado por Juraci através de um traço inconfundível, onde vaqueiros assemelham-se a cavaleiros errantes, bois e cabras parecem se metamorfosear em pássaros, criaturas místicas pousam ao lado de sertanejos, amor, alegria, violência e perversão compõem a mesma amalgama cultural da qual o artista, como qualquer outro grande em seu ofício, faz uso para mostrar nada mais nada menos que a realidade que o cerca, refletindo o universo sertanejo que Guimarães Rosa encontrou nos descampados mineiros, Graciliano Ramos buscou nas caatingas alagoanas, Vicente do Rego Monteiro arrancou dos confins de Pernambuco e Juraci Dórea reflete de sua Bahia e mais precisamente de Feira de Santana, a qual me parece ser sua saga e, muitas vezes, sua sanha e sua sina. Como bem exemplificou o professor e escritor Rubens Alves Pereira, “a obra de Juraci Dórea abre-se como um estandarte sobre a vida sertaneja. Nela, viceja a o espírito de um povo simples e humilde do Sertão, elevem-se grandes referenciais da cultura popular. Sobre tudo uma arte que se plasma nos largos gestos da arte contemporânea em que o artista se insere, enriquecendo-a com suas peculiaridades”.

Da mesma maneira que o pintor de Irará, João Martins, Juraci Dórea, de Feira de Santana, tem, na poesia, sua rosa dos ventos; no caso do feirense, por se guiar pela poesia popular do cordel, por exemplo, guia-se por rumos mais seguros. Ambos, principalmente, em suas obras, são grandes cronistas de suas memórias, do Sertão e da brasilidade. Ambos, sobre certos aspectos, realizam uma obra erudita, de uma expressividade, de um aprofundamento e, por que não, de um didatismo único e necessário... tudo isso, através de uma releitura do imaginário sertanejo fazendo, tanto do iraraense quanto do feirense, artistas excepcionais que ao lado de Gil Mário, Cleonice Barbosa e, evidentemente, de Gabriel Ferreira, só vêm a nos mostrar o quanto que, atualmente, estamos muito bem servidos de artistas plásticos.

Ambas as exposições podem ser conferidas no CUCA (Centro Universitário de Cultura e Arte) à rua Conselheiro Franco, 66, Centro, Feira de Santana, Bahia, Brasil.




É crer e ver!!!






Feira de Santana, 10 de dezembro de 2009.






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