terça-feira, 5 de outubro de 2010

LANÇAMENTO DE "SILÊNCIOS"... PRIMEIRO LIVRO DO POETA E ENSAÍSTA GUSTAVO FELICÍSSIMO...


O amigo e poeta Gustavo Felicíssimo pela lente do fotógrafo Pedro Augusto


SILÊNCIOS
Editora: Via Litterarum
Formato: 15 x 15 cm
Páginas: 92ISBN: 978-85-98493-56-5
Valor: 20,00

Com uma belíssima capa, que traz os elegantes traços a nanquim de Clóvis Márcio, e projeto gráfico muito feliz, Silêncios, de meu amigo e poeta Gustavo Felicíssimo, será lançado neste sábado, dia 09 de outubro, na Livraria Praia dos Livros, Porto da Barra – ao lado do Instituto Mauá – em Salvador.

Como já tive a oportunidade de dizer aqui, Silêncios, é uma obra imersa em formas oriundas do Japão e gestada durante os últimos dez anos. Essa obra foi organizada, originalmente, para atender a um edital do MEC (portanto, sem distribuição comercial), e traz como posfácio o ensaio Flores de Cerejeira, no qual o poeta, ele mesmo, traça os principais aspectos do haikai no Brasil. Além da maturidade do conteúdo, apontada e elogiada por críticos como Carlos Verçosa, Silêncios traz um fato novo para a poesia baiana: a publicação em livro de diversas formas da poesia japonesa, fato raro também no país.
A tiragem, infelizmente, será de apenas 500 exemplares, o que ajudará a constituí-lo como um livro “raro”. Quem não poder comparecer ao lançamento e tiver interesse, ao custo de 20,00 (incluindo a postagem), pode escrever para: gfpoeta@hotmail.com – email do poeta, ou fazendo contato com a sua editora: vleditora@gmail.com e http://www.quiosquecultural.com.br/.

Não deixem de de ir nem de adquiri-lo...
Aproveitem, também, e confiram a entrevista do poeta para a revista eletrônica de cultura Diversos & Afins:
PEQUENA SABATINA AO ARTISTA
Por Fabrício Brandão
No vasto panorama da literatura brasileira há sempre pessoas impulsionando o motor das criações. Nesse vão, apenas ter vontade soa como algo por demais reducionista, sendo necessário abarcar uma visão capaz de abreviar as distâncias entre as projeções e a realidade que urge cada vez mais complexa. Hoje, não são poucos os que se propõem a capitanear movimentos em prol do fazer literário. Apoiados sobretudo nos recursos trazidos pelas mídias digitais, editores e autores travam verdadeira cruzada por aquilo que consideram um caminho viável a seguir. Na compressão tempo-espaço, nos foi dado conhecer e acompanhar as articulações de pessoas das mais diversas orientações, todas elas elegendo gêneros a percorrer. Gente como o paulista Gustavo Felicíssimo, poeta que hoje se afigura verdadeiro militante em defesa das palavras.Residindo na Bahia desde 1993, Gustavo é exemplo vivo de uma vida dedicada à literatura. Além de poeta, é pesquisador e ensaísta. Em Salvador, juntamente com outros escritores, fundou o tablóide literário SOPA, do qual foi seu editor. Venceu o Prêmio Bahia de Todas as Letras, edição 2009, em duas categorias: Poesia e Literatura de Cordel. Organizou e fez publicar Diálogos – Panorama da Nova Poesia Grapiúna, hoje em sua segunda edição. Tem fomentado diversos eventos literários e conduz com valiosa obstinação um trabalho fundamentado na pesquisa, sobretudo poética. Fruto de seus estudos e de sua investida apaixonada, nasce seu livro de estreia, Silêncios (Editora Via Litterarum), publicação voltada para o haikai e que será lançada no dia 9 de outubro, em Salvador. Nessa entrevista, Gustavo discorre sobre a importância do haikai na cena literária nacional, além de pontuar aspectos sobre sua trajetória enquanto resignado ativista cultural.




DA – Mesmo tendo uma longa trajetória voltada para os versos, digamos assim, mais tradicionais, você está em vias de lançar seu primeiro livro, Silêncios, obra dedicada inteiramente ao haikai. O que determinou essa sua escolha?

GUSTAVO FELICÍSSIMO – Nesse trabalho, publico poemas imersos em formas originárias do Japão. Além do haikai, há capítulos com tankas, haibuns, senryus, haikais encadeados e, como posfácio, um estudo sobre os mais relevantes aspectos do haikai no Brasil. Trata-se da primeira vez que se publica uma obra com essas características na Bahia. A possibilidade do pioneirismo e a qualidade, apontada por especialistas, que a obra traz fizeram-me optar por sua publicação agora.

DA – Há, de fato, um hiato muito grande entre o haikai japonês e o poema ocidental?

GF - Essa resposta pode ser dada de muitas maneiras. Dependendo da visão do poeta, sim e não são justificativas plausíveis. O haikaísta que segue o cânone do tradicional haikai japonês dirá que sim, embora as transformações havidas no Japão e no mundo tenham ampliado o seu horizonte. O haikai foi utilizado à maneira que melhor se adequou à necessidade de cada autor e lugar.

Parece-me coerente e apropriado fazermos uma síntese de como o haikai se desenvolveu em língua portuguesa no Brasil, pois nossas primeiras referências, curiosamente, têm como base autores franceses, não japoneses, como podem pensar.

O baiano Afrânio Peixoto introduziu o haikai no Brasil do mesmo modo como era feito na França: com título, métrica de 5/7/5 e sem rima, como esse que é de sua autoria:

A BELEZA ETERNA
O sabiá canta,
Sempre uma mesma canção:
O belo não cansa.

Após, Guilherme de Almeida trouxe uma proposta que até hoje chamam de parnasiana. Ele introduz rimas no haikai; uma entre o primeiro e o terceiro verso, outra que acontece entre a segunda e a sétima sílaba do segundo verso, veja:

VENTO DE MAIO
Risco branco e teso
que eu traço a giz, quando passo.
Meu cigarro aceso.

Somente após esses momentos, o haikai tradicional, oriundo da lavra de japoneses radicados no Brasil, veio à tona, sem título ou rima, mas mantendo a métrica. Podemos defini-lo como aquele que melhor valoriza os elementos da natureza procurando captar um instante, uma paisagem, referindo-se ao agora, de forma simples e com sentido completo, como esse do mestre Oldegar
Vieira:
Junquilhos envergam.
Flores de neve pousan donas
hastes, de leve.

Mas quando falamos de haikai no Brasil, o nome de Paulo Leminski surge invariavelmente em primeiro plano. Alinhado aos valores contraculturais e libertários dos anos sessenta, Leminski produziu uma obra tensa, densa e provocadora como a sua própria personalidade. Ele produziu um haikai livre de amarras, cheio de sacadas, clicks, como dizia. É de sua lavra o seguinte haikai:
passa e volta
a cada gole
uma revolta

DA - Percebe-se que o haikai ainda não é um gênero tão difundido no Brasil. A que possíveis razões você atribui isso?

GF – Não vejo assim. Hoje há até experiências de haikai na sala de aula em alguns lugares do país e dois grupos de estudo e discussão sobre o tema na internet, ambos capitaneados por grandes mestres, onde aprendi muito. Ademais, o haikai influencia a poesia brasileira desde o modernismo. Em Oku – Viajando com Bashô, obra fundamental de Carlos Verçosa, há uma passagem de uma carta de Drummond para Oldegar Vieira, onde ele afirma que “o gênero sempre me atraiu pela graça, leveza e poder de síntese, alcançando mesmo, às vezes, profundidade conceitual”. Em Alguma Poesia (1930) Drummond publicou um poema que, não raras vezes, é identificado como um haikai:

Stop.
A vida parouou foi um automóvel?

DA – Silêncios possui uma condução que remonta à pesquisa poética, quiçá um verdadeiro estudo sobre as ramificações do haikai. Qual o maior desafio na concepção de uma obra como esta?

GF – Parece-me que talento, conhecimento e prática estão na base de tudo. As paredes de uma casa, por exemplo, não devem ser levantadas sem que haja o alicerce. A mesma coisa se dá na poesia.

DA – Você é um militante literário incansável e, frequentemente, garimpa e descobre poetas e outros tantos autores. O que considera mais árduo nesse tipo de jornada?

GF – Faço o que está ao meu alcance e, às vezes, além dele, participando como membro do Comitê do Proler aqui na região sul da Bahia, promovendo saraus, debates, colóquios, seminários e até organizando a publicação de algumas obras, como é o caso de Diálogos, já em segunda edição. Mais árduo nesse tipo de jornada é se perceber, muitas vezes, gritando para surdos e acenando para cegos.

DA – Em sua opinião, qual é o principal impacto trazido pela literatura digital?

GF – Eu não saberia dizer ao certo. Parece ainda muito cedo para conclusões. Observo o fato de que a mídia impressa está mais voltada para os vestibulares, por isso a considero superficial. Já os cadernos literários dos jornais que ainda sustentam esse tipo de publicação, cada vez mais são lidos apenas por escritores e alguns apaixonados. Por sua vez, a internet está cumprindo importante função ao democratizar o acesso a autores que, não fosse por ela, certamente jamais seriam lidos por nós. Em oposição, a facilidade de se publicar em meio virtual esconde um sem fim de coisas que sequer merecem serem lidas.

DA – Entre seus planos para o futuro, está o desejo de fundar um portal sobre a literatura baiana. Há algum projeto definido para isso?

GF – Certamente. Em pouco tempo colocaremos no ar um site à altura da literatura baiana e também uma editora voltada exclusivamente para o meio virtual.


DA - Muitos são os que escrevem, mas poucos são os afeitos à escuta, ao aprendizado pautado em referências clássicas, formais ou fundamentadas. Acredita que tal conduta seja um sério desvio de nossos tempos de então?

GF – Essa é uma particularidade que faz parte da literatura de todos os lugares em todos os tempos e não nos estranha. Seria bizarro se a mediocridade imperasse sobre o conjunto literário da nação. Os estelionatários intelectuais estão condenados desde sempre, pois sempre haverá um facho de luz brilhando na escuridão.


DA – Afinal, o que buscam os poetas?

GF – Cada poeta busca, ao seu modo, a chave para esse enigma. As descobertas são muitas, por isso o sentido de Ser e Estar no mundo possui significantes que se perdem nas profundezas da palavra. Daí a assertiva de Gullar, para quem o poeta deve buscar o indizível sabendo o que quer dizer.

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