Meus alunos me perguntam: “Porque não gosto do PT ou de qualquer partido de Esquerda”? Inclua-se também qualquer pensamento ou doutrina semelhante. Costumo responder de forma simples e objetiva: “o PT é um partido de Esquerda, ponto final”. Todavia, décadas de uma educação, e isso se dá nas mais diferentes classes e instituições educacionais de nosso Brasil, voltada unicamente à dependência das estruturas de poder do estado e suas ideologias, não deixam que essa explicação se faça de modo fácil e contundente como deveria ser, e as explicações estendem-se à medida que as mentes se sujeitam a uma maneira única e rasa de pensar o mundo e a realidade; e quanto mais saliente mostra-se a mente de um indivíduo com relação a essas coisas, compreendemos o quão eficaz é o poder doutrinário de uma educação que transforma indivíduos em lobotomizados.
A
verdade é que a Esquerda traz uma promessa maravilhosa, não se pode negar isso;
daí a eficácia de sua sedução. É quase como a promessa de um Paraíso cristão,
mas aqui mesmo na terra (nada mais herético, diga-se), onde Deus e anjos podem
simplesmente ser substituídos por homens, e a graça pode ser alcançada sem os
sacrifícios necessários para tanto. É uma maravilha, concordem. O Esquerdismo
retira do homem a sua responsabilidade diante da existência, passando-a a um
Estado que o representa ao ponto de pensar por ele mesmo... E aí começa o
problema de um Jó sem Deus que o Marxismo sempre pretendeu implantar em cada
homem existente na terra. O resultado disso não é menos que o caos moral e
existencial, criado por um Estado totalitário que recebeu o “nosso” aval para
agir descontroladamente, e esse é o maior trunfo de Capitão América: Guerra Civil (Marvel Studios, USA, 2016): mostrar
a força destrutiva de um Estado totalitário, principalmente quando esse estado
se mostra benevolentemente dedicado.
Depois de uma ação desastrosa na Nigéria, com dezenas de “efeitos
colaterais”, o Secretário de Defesa americano Thaddeus Ross (William Hurt),
aquele mesmo que morre de amores pelo Hulk – que, aliás, como todos sabem, não
está no filme –, resolve chamar Os Vingadores à razão e mostrar-lhes que, ao
redor de suas ações, há vidas humanas inocentes pagando o pato, e faz isso
mostrando imagens de suas ações em Nova York, Washington, Nigéria e nas
fictícias Sokovia e Wakanda, o que é um belo tapa com luva de pelica tanto para
a plateia quanto aos seus colegas diretores, como bem lembrou Isabela Boscov,
que “não é correto que cenas de mortandade e destruição em massa sejam usadas
para empolgar e fascinar sem que se pese o preço de cada vida tirada ou destruída”,
assim como é feito também em Batman vs.
Superman, de Zack Snyder, só quem com menos impacto e verossimilhança que
os irmãos Anthony e Joe Russo, que dirigem o Guerra Civil. Por isso, a ação d’Os Vingadores, a partir da
assinatura do Tratado de Sokovia, já acordado previamente entre 177 países, passará
a ser monitorada e comandada pela ONU, e os heróis mais poderosos da terra não mais
passarão a agir segundo as suas vontades ou necessidades alheias, ao menos que,
como último recurso, sejam chamados a isso.
A
notícia cai, como uma bomba, para todos os membros da “iniciativa”, mas
principalmente sobre as mentes de seus membros mais antagônicos: Steve Rogers
(Chris Evans), o Capitão América e Tony Stark (Robert Downey Jr.), o Homem de
Ferro. Não pensem os desavisados e cabeças-ocas que os acontecimentos
desencadeados a partir daí é uma mera divergência de opiniões. As questões
abordadas são muito mais profundas e verossímeis do que qualquer fã de filmes
de super-heróis está acostumado, o que dá ao drama um conflito e o porquê que serão muito bem explorados
durantes as quase três horas de filme. Para acrescer, vários embates psicológicos
também são travados no filme: a culpa de Tony Stark por ter criado Ultron, e
consequentemente todo o estrago que veio com ele; a morte da agente Carter,
levando Rogers a um abismo existencial ainda mais fundo; a escolha entre
família e dever, por parte do gavião Arqueiro (Jeremy Renner); o dever moral e
o espírito de vingança, por parte do Pantera Negra (Chadwick Boseman); sem
contar a descobertas e incertezas de Visão (Paul Bettany) e Feiticeira
Escarlate (Elizabeth Olsen), entre outros.
E, por
falar em bomba, é justamente um atentado com explosivos, supostamente perpetrado
por Bucky Barnes (Sebastian Sten), o Soldado Invernal, que conduz o grupo de
heróis a uma divisão que também se faz pelo meramente pessoal. E é aí que Capitão América: Guerra Civil se mostra
superior em seus temas e argumentos ao Batman
vs. Superman, de Zack Snyder. As motivações que conduzem às amizades cada
vez mais fortes, bem como a rupturas desastrosa de outras afeições são muito
mais creditáveis e possíveis, além de condizer em muito com a realidade que
todo o Mundo viveu durante boa parte do Século XX e ainda vive. Os motivos
políticos e as ideologias por detrás de tudo isso não se fazem menos verdadeiros.
Ponto para a habilidade dos irmãos Russo em emendar tantas considerações
políticas e morais sem nenhum tipo de moralismo, o que explica a dor com que
muitos deles se tornam “bandidos”, aos olhos de muitos. E já que a amizade
parece ser um tema central em toda a história de Capitão América: Guerra Civil, algumas delas resistem a tudo, como
a do Homem de Ferro e o Coronel Rhodes, o Máquina de Combate; a de Rogers e Martim,
o Falcão Negro; Visão e Feiticeira Escarlate oscilam em muito; Viúva Negra (Scarllet
Johansson) e Gavião Arqueiro só enquanto suas capacidades de serem cínicos lhes
são necessárias.
Rogers,
imbuído de um forte espírito conservador (não pode esperar algo diferente de um
soldado) não aguarda que a realidade se adeque às tentativas de transformá-la,
nem muito menos que esta se lhe venha de forma débil e furtiva; ele a busca de
forma sagaz e, por isso mesmo, muitas vezes violenta, mas sem perder a razão e
nem fazendo dela seu único trunfo. A dicotomia soldado/político se completa com
a posição favorável de Tony Stark ao Tratado
de Sokóvia, relegando ao estado a tarefa de controle de absolutamente tudo,
inclusive a ação de Os Vingadores; o Homem de Ferro, sem nenhum medo de viver e
fazer o que tem e precisa fazer, pelo que o conhecemos, parece ser a última
pessoa da terra a se iludir com as promessas utópicas de uma política de
controle, todavia, como podemos ver nas cenas em que ele visita seus “companheiros”
na cela de uma prisão de segurança máxima, Stark tenta até mesmo busca inventar
razões para essa crença infundada, num exemplo muito simples, embora bem
construído, de como a sedução dos regimes totalitários tem efeito tanto sobre
céticos quanto crentes. E, acima das amizades, está a verdade, que nada tem de
relativista, pelo contrário, toda vez que ela é aludida as coisas só se
encaminham às mais desastrosas consequências.
A
grande alegoria que Capitão América: Guerra
Civil personifica é a imaginação moral, a única coisa que, de fato, permite-nos
distinguir a respeito da pessoa humana, sua ordem, sua alma, seu papel social e
sua capacidade em diferenciar o que realmente é bom ou mau, belo e feio,
ofertando-nos uma visão geral da natureza humana e das leis que a regem.
Somente essa imaginação moral pode nos dar a real ideia do cruel controle dos Estados
totalitários em nossas vidas; por isso mesmo é tão combatida pela “educação”
que tais Estados totalitários nos “oferecem”. O amor de nossos “educadores” por
Paulo Freire, e sua pedagogia de opressão, é um exemplo irrefutável de tudo
isso. Tudo que Capitão América: Guerra
Civil que nos mostrar é que devemos lutar ao máximo para que nossas
liberdades pessoais, ou seja, nossa inteireza, nossa autonomia e nossa nobreza e
que elas não sejam reduzidas, quando não destruídas. As liberdades pessoais são
a única coisa e meio para fugirmos ao domínio de um Estado totalitário. Steve
Rogers é em tudo imbuído desse espírito, Stark ainda está longe disso, mas se
matem em boa parte de toda essa saga no caminho certo. E porque isso acontece?
Porque inteireza, autonomia e nobreza são conquistas caras, cujo preço é o
sofrimento de uma disciplina interior muito rígida em comum acordo com uma consciência
reta e perspicaz, o que, para um soldado como Capitão América, é uma questão de
fazer o que se tem que fazer pelos motivos certos, e fazê-lo já e em toda a sua
inteireza. Rogers não tem tempo para fazer de conta que a realidade pode ser
controlada, que o mal é uma questão de mero ponto de vista, e não uma coisa
concreta e presente; por isso mesmo, não se dá ao luxo de fazer as coisas
certas pelos motivos errados. Tudo isso ainda falta em Tony Stark e, para piorar,
ao se deixar abater por uma culpa que não lhe é imputada de fato, decide observar
o desalinho mundano como um mero observador, transferindo ao Estado essa
responsabilidade que não é de ninguém senão sua. Para sorte de todos, o Homem
de Ferro não permanece o tempo todo um candidato a eleitor do PT, e quando ele
deixa com que a voz de sua liberdade interior lhe grite aos ouvidos, tudo
parece se resolver como deve ser resolvido, todavia, quando as coisas se
encaminham para uma razão ainda mais profundamente pessoal, aí... aí é outra
história.
Poucos filmes
do gênero deixaram seus fãs e detratores em um estado de paranoia tão grande
quanto Capitão América: Guerra Civil.
As cenas de luta são tão bem coreografadas quanto verossímeis, com exceção do
que diz respeito a certas habilidades especiais de alguns indivíduos; o ritmo
do filme é devidamente acelerado e desacelerado para mesclar momentos de tensão
com outros da mais pura ação; tanto as histórias de cada participante, como o
decorrer de todos os acontecimentos que os envolvem, são muito bem alinhavadas
durante todo o filme. Além disso, os apaixonados pelo universo Marvel podem
conferir em primeira mão o que lhes aguarda com os filmes solos de mais dois de
seus heróis que tiveram participação tão fantástica quanto decisiva em todo o
filme: o Homem Aranha (Tom Holland) e o fantástico Pantera Negra, mas ninguém
rouba mais a cena, em meu humilde ponto de vista, do que o Homem-Formiga (Paul
Rudd) que se mostrará um herói bem maior do que aparenta... e isso não é uma
metáfora.
Para
terminar, uma nota de utilidade pública: filme tem duas cenas pós-créditos, por
isso, se vocês ainda não assistiram ao Capitão
América: Guerra Civil, não saiam do cinema mesmo que o pessoal da limpeza lhes
ameasse com vassouras. Façam valer as suas liberdades pessoais e, assim como
Steve Rogers, tenham coragem para se exprimirem com pessoas que ainda tem seus
pés numa realidade concreta... O resto é conversa mole pra comunista dormir. A
propósito, quando me perguntarem por que eu não gosto do PT e seus semelhantes,
vou mandar-lhes assistir ao Capitão
América, para me poupar de muitas explicações e esperar que eles vejam o
quão frágeis certas ideologias são diante da realidade; tão frágeis que até um “homem
comum” pode colocar heróis um contra o outro... Quem viver verá.
Salvador, Dia das Mães de 2016.
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