Há uma velha máxima, que aprendi com o grande poeta, mestre e amigo, Ildásio Tavares, a qual deve ser seguida por todo grande poeta e, é claro, por aqueles que se aventuram em sê-lo; é a que devemos dizer o máximo com o mínimo de palavras; enxugar o nosso discurso o quanto for possível para que, nele, só sobressaia aquilo que é realmente essencial - Graciliano Ramos é, em nossa Literatura, o melhor exemplo que conheço -; na poesia, como nas artes em geral, devemos dispensar tudo que é frívolo, repetitivo e comum; em resumo: “quanto menos falamos, mais devemos dizer”... Isso me faz lembrar um outro Mestre, Ortega y Gasset, ao afirmar que, o que distingui o grande poeta é o poder de ele dizer algo novo daquilo que todo mundo já conhece. Em ambos os casos, não conheço ninguém, em sua devida área de atuação, que siga tais "regras" com mais afinco do que Guillermo Mordillo; este sim, um dos pouquíssimos autores que conseguiram construir uma obra extremamente consistente, um universo impressionante e original, a partir de tão poucos (e “repetidos”) elementos. Seus personagens são seres minúsculos, branquelos e, por vezes, rechonchudos, com narizes enormes e esféricos e que nunca pronunciam uma palavra se quer. Nisso, aliás, consiste seu segredo, a maneira como consegue cativar os seus leitores com uma única ilustração e sem nenhum balão de fala. Desde os 5 anos quando, num livro que se quer me lembro o título e a utilidade, deparei-me com um cartoon de Mordillo, jamais nenhum autor do gênero conseguira me cativar e me impressionar como este argentino, hoje com seus 76 anos. O mais interessante nestes desenhos é que eles têm sempre o mesmo tamanho, elementos gráficos e temáticas recorrentes: bonequinhos brancos, girafas, elefantes, bolas de futebol, ilhas, montanhas, prédios. Com uma meia-dúzia de objetos deste gênero, o que não daria nenhum trabalho em organizar o seu trabalho em álbuns temáticos, ele é capaz de produzir um número infinito de situações, umas mais inspiradas do que outras, às vezes ingênuas e românticas, em outros casos, de profunda denuncia social, aliada a uma ironia, muitas vezes, ácida, mantendo, porém, sempre um nível muito alto de humor com os mesmíssimos elementos e, ainda assim, causar-me, e a qualquer um que se depare com estes cartoons, a mesma perplexidade, tão comum, em um menino, no encantamento de seus 5 anos...
Um comentário:
Dá pra relacionar com o som! A arte de ouvir o som não é aumentar o volume, mas sim a equalização. É a arte de diminuir!
Abraço de seu colega de profissão Ademar!!!
Postar um comentário