Título: Poesia seleta de Adelmo Oliveira Autor: Adelmo Oliveira Editora: Mondrongo Livros ISBN: 9788565170161 Valor: R$ 20,00 |
Um capítulo à parte é o soneto adelmiano, inscrito numa
tradição do soneto peninsular e do soneto brasileiro. Lá estão Camões, Gôngora,
Quevedo, Gregório, Bilac, Cruz e Souza, Jorge de Lima Vinícius, sete oitabos da
poesia ibero-brasileira abaixo da superfície, e a ponta deste iceberg é Adelmo
Oliveira, conglomerado intertextual que rachará, sem dúvida, a cabeça titânica
do leitor incauto. Os amantes da poesia agora têm à disposição o sumo, ou
seja, o melhor de um dos melhores poetas brasileiros. Saiu publicado pela
Mondrongo a Poesia Seleta de Adelmo Oliveira, com seleção de Gustavo
Felicíssimo e estudo crítico de Jorge de Souza Araújo. A obra está disponível
para aquisição, bastando CLICAR
AQUI:
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“Humanista em tempo integral, Adelmo Oliveira é o
“andarilho do vento” que paga pesado tributo ao gesto de viver emparelhado com
os 300, 350 da multidão que Mário de Andrade anunciou dispersa e quase nunca
reunida. Permanecendo na saga de um existir peado de circunstâncias de
solidária conformação à dor de muitos, ainda nos sonetos brilha tanto a estrela
maior de Adelmo que só conseguimos ombreá-lo a outros seus comparsas, exímios
sonetistas malungos: o pernambucano Carlos Pena Filho, o maranhense Nauro Machado,
o capixaba Geir Campos, o outro baiano Florisvaldo Mattos, o que se confirma em
exemplaridades como em Morte dos dias. Petrarqueano, no Soneto de um delírio,
Adelmo Oliveira conclui ser impossível poder escapar à vertigem de onipotência
do sentimento amoroso, reconhecendo, logo após abrir sua particular caixa de
pandora das feridas do mundo pelo avesso e erigir um “mar de gesso”, em franca
capitulação: “Tocado de corrente magnética/ Liguei o fio da vida na matéria
(...) Prendi a alma nas cordas da Paixão””.
Jorge de Souza
Araújo
“Adelmo Oliveira, poeta, decididamente poeta, firmemente
plantado em seu passado cultural, passando do bastão que lhe passaram seus
arquétipos, seus ancestrais, seus pais, irmãos e filhos. O caminho para trás é
o mesmo caminho para frente, diria Heráclito se estivesse vivo. E será que ele
não está? Nosso poeta executa com inspiração, transpiração, informação e
maestria a única possibilidade de inovar neste final de século e na década do
terceiro milênio – o passo à frente Calçado pela retaguarda com o olho na
vanguarda, mesmo porque quem não olha para adiante, fica atrás.
Culto, lido, experimentado, calejado, sofrido, maltratado
pela maldade dos homens e pela Moira – esta deusa impiedosa -, sazonado pela
dor física da tortura, pela dor mental infligida pela ignorância, pelos punhais
gelados da suprema dor de ver-se morrer em seu projeto narcísico do futuro,
Adelmo Oliveira não deu a isso tudo o troco turvo da amargura. Deu ao mundo,
como flor, a dor filtrada dos seus versos, e como todo poeta – que só é grande
se sofrer, como disse outro – Adelmo se fez grande pelo sofrimento da vida
vertido no sofrimento da linguagem para atingir o único paraíso palpével – o
Éden da poesia, onde a Queda se resolve em Ritmo, onde o Pecado se resolve em
beleza.
Um capítulo à parte é o soneto adelmiano, inscrito numa
tradição do soneto peninsular e do soneto brasileiro. Lá estão Camões, Gôngora,
Quevedo, Gregório, Bilac, Cruz e Souza, Jorge de Lima Vinícius, sete oitabos da
poesia ibero-brasileira abaixo da superfície, e a ponta deste iceberg é
Adelmo Oliveira, conglomerado intertextual que rachará, sem dúvida, a cabeça
titânica do leitor incauto. Ao soneto, como de resto a toda a sua poesia, o
poeta traz sua erudição, sua sensibilidade enraizada na Tradição, e dela
renovadora, e sua capacidade de transubstanciar a vida em verso e de fazê-lo
com elegância, em momentos nos quais atinge o difícil rincão do inefável”.
Ildásio Tavares
SONETO DA ÚLTIMA ESTAÇÃO
(MITOLOGIA MARINHA)
por Adelmo Oliveira
Esta que vem do mar por entre os ventos,
sacudindo as espumas dos cabelos,
vem molhada de azul nos pensamentos,
seu corpo oculta a ilha dos segredos.
Vem e dança ao andar sobre as areias
úmidas sob os passos e os desejos,
onde as ancas são ondas em cadeias
infinitas de luz contra os espelhos.
Nem precisa de flor nem de perfume,
ela é a própria essência do ciúme,
feita de mito e se fazendo estrela.
Vem – dança – e passa aos fogos do verão
– fantasia da última estação.
explodiu na vertigem da beleza.
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