O poeta Piligra
O QUE IMPORTA
Piligra
(ao Gustavo Felicíssimo)
O que me importa agora senão a liberdade
com toda carga ingrata que ela carrega,
senão uma louca e estúpida necessidade
tomando conta, enfim, do que a vida renega...
O que me resta então? negar quem não me nega
ou suportar do insano o tapa e a falsidade?
Talvez fazer do amor razão, motivo e entrega,
compondo em verso o inverso da infidelidade...
Talvez buscar no olhar singelo de um irmão
aquilo que me assalta sem qualquer pudor:
uma resposta exata e sem contradição
para o mistério eterno que constitui o amor...
- O que me resta agora senão esta ilusão
na forma tosca e inglória de poesia e dor...
***
INDO UM POUCO MAIS ALÉM
Gustavo Felicíssimo
(em resposta a Piligra)
Importa mais fazer da areia piso firme
e ver brilhar no semelhante a poesia,
no seu semblante ver nascer um novo dia
para que a luz, de todo ser, mais se aproxime.
Então me alegro porque o verso é sempiterno
e por saber que a comunhão deve imperar
no coração de quem a busca e faz brotar
em outro irmão, o mesmo olhar, sempre fraterno.
E porque sei que o tempo é mesmo um aliado,
dou tempo ao tempo e de mãos dadas mais encontro
quem ao meu lado faz da vida um reencontro.
Nesse mergulho o mal está sempre adiado
porque no fundo o ser é bom e o Senhor justo:
eu não me esqueço de voar e não me assusto.
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