Santo trovador de MIGUELEVY (2008), acrílico sobre tela 70x50cm, coleção particular.
Os caminhos estão descansando...
MÁRIO QUINTANA
– As tuas mãos, no adeus
morrem lentamente: dois pássaros
cansados de voar.
Eu, menino à janela
queria sempre as mesmas cenas
os meus heróis já derrotados
esquecidos...
De minha janela
via passar cavalos brancos
sozinhos
destituídos de seus donos
mas inda cheios
de natural nobreza.
Recordaste da velha casa onde nascemos?
E das escadas que desciam lentamente
para a sala de retratos
evanescidos
onde as moças de outros séculos
nos aguardavam
para um impossível reencontro?
Demoliram a nossa velha casa
onde já não havia nada...
só nós dois
talvez.
Pois se a luz não é deste mundo
assusta-nos toda beleza
há um horror em toda verdade
em toda poesia
em todo riso
se nos sorriem
sinceramente.
Quanta vida
quanta inquietude
existe
numa criança
que pergunta.
Talvez por isso
estejamos mortos
por nos fazermos
velhos
e sábios demais. Porque nos perdemos
nesta infinita distância da vida adulta
nesta eterna procura por sermos grandes: eis os nossos
caminhos
tão descansados
nossas estradas envelhecidas
nossos passos
ah, os nossos velhos passos...
Deus
quando éramos meninos
estava logo ali
e não se achava morto
ninguém
estava morto.
As estrelas estavam logo ali
(transfigurações dos que se foram)
e a vida... este estado presente
indicativo“agora e pronto”!
E há mortos que não sabem que estão mortos
ou esqueceram
simplesmente
de que morreram
como as tuas mãos
irmãzinha
que
no adeus
já não revivem.
Alagoinhas, março de 2008/julho de 2011.
2 comentários:
Balada Antiga- Estamos diante de um poeta, sem engôdo, sem a ourivesaria de versos fácil, deslumbrando uma poética madura, rara em sua geração. Silvério Duque é um poeta de primeira plana, não brinca de ser poeta, já é um poeta verdadeiro, pleno.Miguel Carneiro
O blog tá ótimo, poeta!
Cumprimentos cinéfilos!
O Falcão Maltês
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