quarta-feira, 14 de novembro de 2012

À MANEIRA DE ALBERTO DA CUNHA MELO...


 O "ancião" que ilustra este meu soneto é de um quadro de um francês de Saint-Jean-de-Luz Javier Arizabalo, pintor hiperrealista, demonstra em sua obra um olhar carinhoso para a velhice (veja as reproduções no final do post), mas é para as mulheres que guarda a maior porção de sua delicadeza. Esculpe, com pincéis, corpos – nus – e tudo o que fazem parte de seu universo: sentimentos, esperanças, sonhos e prazeres.Sua obra ostenta dupla entrega: a do próprio pintor, que dá vida a um imaginário latente, vívido, prazeirento e lânguido, e a do modelo, que confia que seu reflexo espelhe o que de melhor tem a oferecer. Nas suas palavras: “A “arte” ou o “fazer” são por e para a vida humana; como tudo o que é real, o são por “razões” (sentido, vontade…). Faz tempo que utilizo a arte para curar-me, alimentar-me; resolvo os desejos a partir das imagens que re-presento, é maravilhoso”. Arizabalo é um daqueles artistas que, por alguma razão, não dá títulos a seus quadros. Isso, naturalmente, não muda a qualidade de seu trabalho.




À MANEIRA DE ALBERTO DA CUNHA MELO

à senhora Cláudia Cordeiro e ao poeta Gustavo Felicíssimo





por Silvério Duque








– Na velha casa de meu pai
até as sombras pereceram
e mesmo a morte está mais triste
por sobre as sobras do que amo.

Ali vivera minha mãe
em seus silêncios mergulhada.
Quando seus olhos se extinguiram
só o meu pavor foi testemunha.

Dali partira minha irmã
para outros rumos do existir
eu tinha oito ou sete anos
quando fitei este milagre.

Dali também se foi meu pai
que me deixou aqui, de resto...
por isso as feras o procuram
e há-de durar mais do que pode.

Mas houve um tempo em que as manhãs
nasciam feitas pros meus olhos...
Ah, se eu pudesse adiar o tempo
que – sem querer – não me extermina.




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