sexta-feira, 27 de abril de 2012

COMBATE DE CENTAUROS...


Combate de Centauros de Arnold Bocklin (1885), Óleo sobre tela, 80X155, Galeria Nacional de Berlin.




COMBATE DE CENTAUROS:
ou CARTA ABERTA PARA ARNOLD BRÖCKLIN





Vocês já leram o artigo: Flipelô: desocupa, Inácio! que Henrique Wagner publicou no Expoart: http://www.expoart.com.br...? Não!? Então leiam:

Li recentemente uma nota de jornal que falava de uma feira de Literatura no Pelourinho, a Flipelô – Feira Literária Internacional do Pelourinho. O Minc autorizou a Fundação Casa de Jorge Amado a captar 2.636.600 reais para a realização da festa em homenagem ao centenário de nascimento do escritor baiano Jorge Amado (1912-2012). A princípio fiquei contente. O Pelourinho, sofrido e andrajoso, seria resgatado em função da feira, e haveria mais um encontro, além da Bienal, em torno do livro e da Literatura. Entretanto, logo me veio a imagem do feirante José Inácio Vieira de Melo, o alagoano que vem mandando na poesia baiana, participando e “organizando” tudo quanto é feira em que haja poesia e poema no meio, emprestando à Bahia um sotaque que não é nosso, um coronelismo que há algum tempo tentamos deixar para trás, e um mau gosto de província que igualmente nós, baianos, tentamos rechaçar, desde o tempo da corte.

É muito provável que todos que me conheçam e que conheçam meu entrevero com o fogoso poeta alagoano, comecem a pensar em uma questão pessoal. Há muitos argumentos que provam o contrário desse pensamento e que defendem uma preocupação, minha, muito sincera, com os rumos da poesia baiana oficializada pela mídia impressa, pelas tevês e pelos eventos literários.

Inácio organiza, há alguns anos, um espaço de apresentação de poetas na Bienal do Livro. Há alguns anos ele escolhe de modo pessoalíssimo os participantes do evento. Não há critério de outra natureza senão o critério da amizade, da filiação partidária – o partido do Inácio é a poesia que ele faz – e do fisiologismo. Inácio conquistou certo poder em Salvador porque é um homem de muito fôlego e sem a mínima vergonha para fazer amigos e influenciar pessoas. Não por acaso tem uma alentada fortuna crítica mesmo escrevendo as coisas que escreve. E como se trata de um rapaz com uma necessidade patológica de mostrar serviço aos pais, à cidade onde nasceu, a “seu povo” etc, faz e acontece para aparecer. O problema é que seu “método” excludente de trabalho acaba comprometendo uma quantidade significativa de poetas de todo o estado da Bahia. Não há honestidade cultural para separar a pessoa da obra. Ele não consegue convidar pessoas que não gostem do que ele escreve, por exemplo. E menos ainda pessoas que tenham discutido – e vencido a discussão com palavras, apenas – com ele sobre tal ou qual assunto.

Vale agora um parêntese: eu não pretendo participar da Flipelô. Não tenho nada a falar, não gosto de mesa-redonda com escritores jovens, não gosto do formato, milenar, de uma mesa ou cadeira, com um poeta falando de sua “vida e obra” aos 17 anos de idade, e lendo poemas. Estou representando, neste texto, uma turma de poetas que não consegue espaço porque o aboio livre de um alagoano, que se instalou na Bahia com truculência e malícia, vem ocupando todos os cantos da cidade com sua poesia ruim e suas limitações intelectivas, criando um cubismo sobre a realidade da poesia baiana, e um cubismo a la Menelaw Sete, e não a laPicasso.

Pois bem. Além da falta de honestidade cultural do poeta José Inácio Vieira de Melo, há ainda outros graves problemas. Um deles diz respeito ao formato da chamada Praça do Cordel, ou à concepção de seu funcionamento. Poesia é artigo de luxo e deve ser tratada como tal. Estive na Praça do Cordel (reparem no nome da praça onde poetas se apresentam, e não cordelistas, embora alguns lá se apresentem) apenas uma vez, na bienal mais recente, e porque uma pessoa muito querida minha leria poemas para o público. Desse modo é que testemunhei um dos acontecimentos mais vexatórios, mais vergonhosos que jamais eu testemunhara no meio literário. A completa falta de noção do organizador, a deselegância do apresentador ou mestre de cerimônias do evento – Cleberton Santos –, e sobretudo a burrice mesmo do que eu ouvia por parte desse apresentador. O espaço aberto não permitia que o público ouvisse um poema sequer. Esse mesmo espaço aberto possibilitava a constante entrada e saída de pessoas, comprometendo a atenção da plateia e mesmo a dos poetas que estavam se apresentando. E há ainda a escolha dos participantes. Vê-se de tudo: gritadores de poesia que mais parecem pedintes desesperados, sem dinheiro nem para comprar um desodorante, garotos que publicaram dois ou três poemas numa antologia organizada por Inácio, filhas de santo cuja poesia é uma recitação da negritude e do candomblé, sem literatura que a sustente. Essa falta de critério, ou esse critério defeituoso afasta o público neófito. Inácio vem fazendo o mesmo que os poetas que recitavam nas praças públicas faziam: Inácio vem afastando as pessoas da poesia. Vem trabalhando contra a divulgação da poesia feita em nosso estado. Quem não tem intimidade com poesia jamais vai pegar um livro depois de ver as barbaridades romanas no circo de Beto Carrero. E quem já conhece poesia vai chegar em casa e abrir correndo um livro de Cecília Meireles para matar a sede. Mantêm-se no séquito de Inácio os que já fazem parte do séquito de Inácio. O séquito cresce, de fato, mas porque cada garoto que integra uma antologia ou uma grade de apresentação numa feira do livro, traz uma família com pelo menos cinco pessoas que não leem poesia. Leem o parente.

O concorridíssimo Inácio estava ainda no Café Literário na condição de entrevistador dos poetas Antonio Brasileiro e Mariana Ianelli – isso depois de ter trocado de roupa, mais ou menos como a Beyoncé faz em seus mega shows. Lá constatei outro problema. Já não havia mais a deficiência da acústica e tampouco o problema de entrada e saída de pessoas, afinal, havia senha para quem quisesse prestigiar o encontro entre escritores, em um espaço fechado. Dessa vez o problema estava na inteligência do entrevistador, que fazia perguntas do tipo: “Por que você escreve?”. E a entrevista não caminhava. Antes claudicava. A outra pergunta era: “Quais os autores que o influenciaram?”. A essa altura estava claro para mim que se tratava de um quiz show e não de um encontro de escritores. Não houve, em momento algum do Café Literário, uma discussão sobre Literatura, de fato, sobre questões seminais da criação literária. Não houve qualquer profundidade, uma dialética, uma conversa inteligente que pudesse instigar o público. Desse modo a Bienal, no que concerne ao nosso estado, se torna um ponto de encontro entre amigos e parentes dos escritores, interessados pela pessoa no palco, e não pelo que o escritor tem a dizer. Há um desfile de misses de vários municípios da Bahia e uma porção de famílias na torcida. Mas não há uma Marta Rocha sequer no palco. Conclui-se facilmente que o problema, em verdade, é apenas um: José Inácio Viera de Melo.

Se eu organizasse um café literário, sem dúvida alguma convidaria o poeta alagoano José Inácio Vieira de Melo para se apresentar, de um modo ou de outro. Porque, ainda que eu não goste da poesia dele e não tenha uma relação amistosa com o centauro na casa dos quarenta anos, não posso negar que o rapaz vem fazendo poesia com uma paixão primitiva. E trabalha mais que um forçado, por sua poesia. Para cada poema uma arte visual, uma produção incrível. Viaja o nordeste inteiro para ler poemas (!) e publica um livro por ano, no mínimo. Divulga-se de um modo que jamais, agência alguma de publicidade, conseguiria superar. É um trabalhador incansável. Tem diversos poemas em tudo quanto é canto da cidade e não duvido que venha a ser o primeiro poeta a divulgar seu blog em Marte, quando a ciência criar possibilidades para isso. Não sou excludente e desonesto, culturalmente. Não sou exemplo de nada, e todos sabem disso. Mas levo poesia – e arte – muito a sério. E o fato é que é preciso mudar a imagem da poesia baiana de hoje.

É preciso abrir as portas para a qualidade e diversidade, e não para a quantidade. O que estou propondo é uma forma de democracia alicerçada em critérios estabelecidos por um grupo de pessoas mais ou menos ilustradas e cônscias do que seja poesia.

E peço que os poetas, baianos, que concordam com o pensamento manifestado acima, entrem em contato comigo, a fim de criarmos um grupo sólido de artistas da palavra que possam representar melhor a poesia de nosso estado. A poesia baiana, de fato.


Quando li este artigo de Henrique não conseguir pensar em outro nome que não o de Andy Warhol. E por quê?! Para mim, ninguém é mais responsável pela auto-complacência e pela vulgaridade daquilo que se chama Arte Contemporânea ao que Andy Warhol. Sua capacidade de destruir as coisas não se limitou às artes plásticas nem a sua pessoa, basta olhar a fortíssima influência que suas “idéias” em outros campos artísticos. O Concretismo, por exemplo, nada mais é do que a versão Andy Warhol para a poesia... a cagada é a mesma: arrancar da Arte, seja ela plástica ou literária, a sua natureza mais íntima e essencial, substituindo-a por sua forma mais banal e caricata. Mas Warhol está longe de ser superestimado, pelo menos por mim, porque, desde os anos 60, não há exemplo melhor do que ele para mostrar, a quem quiser enxergar, que não se deve subestimar o poder da Idiotice... principalmente quando se dá razão a um idiota. 

Para Andy Warhol, pessoas, eventos e produtos dependiam unicamente da exposição contínua, principalmente nos meios de comunicação de massa, assim, segundo ele, “existiam aos olhos do público”, que não precisava entender de arte ou de estilo ou, muito menos, de gosto, pois se estava o tempo todo na TV, por exemplo, é porque era bom, é porque era artístico e ninguém questionaria tal coisa; desta forma, Warhol formula a seguinte receita de sucesso, dividida em três partes:

Primeiro passo, usar um produto comum, sem truque formal ou técnica apurada a desafiar a menor das inteligências, dando a impressão de que a arte é algo frívolo, fácil e acessível à inteligência mais mínima.

Segundo, depois fazer uso deste produto em todos os meios de comunicação, principalmente quando estes “trabalhos artísticos” já são, de certo modo, partes destes meios, expondo-os e produzindo-os exaustivamente. Na era dos muitos reality shows e do YouTube isso faz mais do que sentido. 

O que não faz nenhum sentido é a arte, cuja função não é menor que tornar as coisas menos maçantes e dolorosas ser reduzida num mero esboço daquilo que ela mesma, em sua essência e função, torna maior e mais bela. Desta forma, incapaz de alcançar a arte pelo talento, Warhol, como todo narcisista tomado de inveja e frustração, desdenha daquilo que sempre desejou e tinha ciência de que jamais o obteria. Discípulo aplicado das monices artísticas de Duchamp, a vida de Andy Warhol não se limitou a retratar o mundo das celebridades, ele próprio foi a sua maior “criação artística”, e nisso se encontrava o seu terceiro e último passo para a sua receita malévola de destruição dos conceitos tradicionais e verdadeiros da Arte, do Gosto e da Estética. Com o ar petulante e ridículo, análogo àqueles coitados que, acabando de sair do Big Brother Brasil, acreditam ter vencido o mais rigoroso dos rituais de transcendência moral, filosófica e espiritual. 

Numa época em que a produção artística torna-se massificante, distribuída por mecanismos de produção em massa, o que Zé Inácio faz, segundo o que nos mostra o autor deste artigo, é copiar uma receita antiga que, há muito tem sido vendida a preço barato, porém com ares de restaurante francês de novela das nove, mostrando o quão somos subservientes a um tipo de vanguardismo sem sentido que há muito inunda nossos meios de comunicação, livros didáticos, escolas e tutti quanti; onde a qualidade do que se apresenta é praticamente nenhuma em relação ao como é apresentado. E o pior que pode acontecer a estes garotos e garotas, que mal deixaram de cagar nas calças e já são apresentados como cânones da Literatura Ocidental é acharem que realmente são o que lhes dizem que são; daí para não quererem mais se aperfeiçoar e não ler nada mais que seus próprios textos e os de seu “mestre de cerimônias” – o que já se constituiria numa absoluta desgraça – é um pulo.

Citando, também, o Ortega y Gasset – ais aí alguém que conhecia muito bem os perigos a valorização das idiotices – pouco se pode esperar de alguém que só se esforça quando tem a certeza de vir a ser recompensado, principalmente quando esta recompensa é uma autopromoção também autoenganosa, que não se mostra com outra função que não seja o da destruição de uma cultura verdadeira em troca de um engodo ao qual, se não tomarmos cuidado, receberá este nome; como já podemos ver neste “samba do crioulo doido” que se chama a política cultural brasileira; a cultura é o sistema de ideias vivas que cada época possui. melhor:  o sistema de ideias das quais o tempo vive; é uma necessidade imprescindível de toda uma vida, é uma dimensão constitutiva da existência humana, como as mãos são um atributo do homem, por isso o que o Henrique faz ao criticar esta sistematização da bajulice é fazer aquilo que nos recomendou o filósofo espanhol: “Em épocas de grande agitação o dever do intelectual é manter-se calado, pois nessas ocasiões é preciso mentir e o intelectual não tem esse direito”.

No final, o fim é sempre o mesmo: “poetas” e “poetisas”, “novos” e “velhos”, “conhecidos” e “re-desconhecidos” se amontoando na praça de Cordel da Bienal, em busca de seus 15 minutos de fama: “”, como In the future, everyone will be famous for fifteen minutes diria o próprio Andy Warhol, numa espécie de “Exercito de Reserva (Flutuante)” em quanto que seu organizador, sem nenhuma gota de escrúpulo ou elegância, faz-se visto e “amostrado” aos quatro cantos de um evento por ele mesmo produzido, pelo que me parece... Saravá!!!






Feira de Santana, 26 de abril de 2012.













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