Femme assise dans un fauteuil de Pablo Picasso (1916), óleo sobre tela, 120cmX85; coleção particular.
Somente aqui eu deixarei meus versos
e os vestígios que o tempo traz à luz
gestos, carnes, desejos, rastros... eis
o meu poema inteiro de memórias
pois é chegado o tempo dos retornos
das coisas que colhi entre os escombros:
a ordem, a mesa posta, o arar do campo
as formas luminosas da existência
o vaso que se esconde em todo barro
este mover de tudo, o musgo, os muros
a terra, a sombra e o sopro em meio às cinzas...
Como quem redescobre antigas chagas
neste poema há todos os meus passos
e entre os teus braços mais que a minha vida.
2 comentários:
Silvério,
Saúdo, saudando-o, esta bela peça de quem opera com as palavras sob
signo escultural (chega mesmo a aludir a tirada de humor de
Michelangelo, quando lhe perguntaram onde achara o seu Davi e respondeu irônico: dentro de uma pedra), de quem sabe expressar-se na forma sublimada do soneto: voz existencial, mas não existencialista;
comunhão profunda do ser com a arte e todas as suas simbologias
maiores, como sejam o amor, a amada, formas femininas quase
renascentistas; tudo que alimenta o espírito, sempre aguardado numa
expressão de beleza.
Florisvaldo Mattos
Que bom encontrar seu blog e sua poesia, caro Silvério Duque. Seu conhecimento crítico é de grande valia além de saber que conheceu (e conviveu) com o Bruno Tolentino, é de fato um privilégio para poucos. Sobre o poema (ótimo soneto)sensibilidade poética da qual substitui-se a alegoria pelo símbolo dando ênfase ao mnemonismo sinestésico além do rigor formal bastante apurado. Um abraço, gostaria de manter contato contigo, Claudio.
Postar um comentário