quarta-feira, 20 de julho de 2011

A BALADA DE INÊS...


Súplica de Inês de Castro de Vieira Portuense. Óleo sobre tela (165X275); Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa.








– Verás, amada minha
tuas mãos terminadas em segredo
sobre um peito de sopros findos
e então sentirás dentro de ti uma completude
como as folhas que mortas deixam nua aquela essência de vida
que as árvores nos trazem sobre os galhos
secos e escuros, como a carne que à terra volta
pois é da terra a carne, como do vento
a nuvem e sua possível imagem.



Também verás
os teus olhos fechados em repouso
e, na noite escura dos desejos sólidos
velar teu sono, com mil olhos claros
o coração que sofre de amor e de saudade e
que um dia, em tarde clara disse-te em segredo
“Amo-te!”, como ama em segredo, ao sentimento, a Sabedoria
pois é do mar o cais e a imensidão
que amedronta e também encanta.

Nesse momento, amada minha
quando fechada sobre um leito de duras sombras
combinadas: a dor, a ausência e a distância
na noite imensa de teu coração tão quieto
verás o meu Amor refeito em sonho leve
e toda a realidade te parecerá vazia,
como um Céu que um dia olhaste sem ternura e sem verdade...







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