sexta-feira, 3 de junho de 2011

ENTRE GÊNIOS E RATOS...




Entre Gênios, como Lobato, e ratos, defensores do laissez-faire gramatical que infestam este grande laboratório chamado mundo, precisamos tomar consciência de que precisamos, por meio nossa própria iniciativa, educarmo-nos e nos prepararmos, tanto para encarar os desafios que o mundo nos prepara, quanto para perceber a imensa rede de preceitos e de ações dominadoras que se estende por cima de nossas cabeças...






ou O PRECONCEITO CONTRA A EDUCAÇÃO


E OS VELHOS CAMINHOS PARA A DOUTRINAÇAO EM NOSSAS ESCOLAS





ao amigo Sérgio Marcone


que um dia sofreu preconceito por não querer ter preconceitos...1



Amar, amar, amar siempre y com todo


el ser y com la tierra y com el cielo,


com lo claro del sol y lo obscuro del lodo.


Amar por toda ciência y amar por todo anhelo.


RUBÉN DÁRIO









Muito tempo se passou, caro leitor, desde que Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo de Sérgio Porto, publicou as primeiras colunas de seu FEBEAPÁ. Todavia, O festival de besteiras que assola o nosso Brasil só tem aumentado e, graças ao aval de nossos governantes, que se empenham cada vez mais à legalização de absurdos, torna-se cada vez pior e mais perigoso.



Desde que se tornou o principal objetivo da gnose puramente humana, a morte de Deus, anunciada aos quatro ventos pelo falso Zaratustra alemão, como nos lembra Bruno Tolentino, no prólogo de seu O Mundo como Idéia, não pareceu contentar o homem que, imbuído do espírito caricato do cientista louco, à maneira do Barão Frankenstein, de Mary Shelley, deixou de lado o orgulho de ter caçado e matado o Criador para se dedicar, como nos lembra Eric Voegelin, também, a ser o algoz da Criatura. Por isso mesmo, o século XX foi testemunha de um teatro de horror jamais visto, onde se permitiu o assassinato em massa em nome das mais torpes ideologias e do “saneamento revolucionário” – palavras do Tolentino –, promovido, principalmente, por prosélitos do marxismo e do cientificismo racial do século XIX como Hitler, Stálin, Mussoline, Mao, Pol-Pot, Fidel Castro, Milosevic e, por que não, Kim Jong-Il e Hugo Chavez, que nunca aceitaram o homem para além de um mero produto de “um orgulhoso e auto atribuído imanetismo hipotético”, segundo o bardo carioca, por eles patenteado. Para isso, o assassinato permitido e calculado poderia se dá tanto no campo físico quanto intelectual, ou seja: mata-se tanto pessoas quanto culturas – lembrem-se no que se tornou o Camboja –, principalmente se esses forem considerados “inimigos do sonho” e das utopias sociais que, infelizmente, não caíram com a queda do Muro, nem com o fim da U.R.S.S.



Para piorar, todo o genocídio acontecido, em nome de idéias que julgavam o homem feliz apenas no campo das utopias, é apoiado, intelectualmente, por ideólogos da morte, que não enxergam outra alternativa senão furtar, ao homem, a sua condição de superioridade tanto natural quanto intelectiva. E, para nosso total desgosto e desespero, a grande maioria das Universidades brasileiras há muito nada mais são que berçários de agitadores e de bajuladores de criminosos sociais, e, por isso mesmo, incapazes de ver, para além de sua índole burra, corrupta e destrutiva, o mundo de complexidades e maravilhas que se derrama a olhos vistos... é só querer ver.



Imbuído da mais fina flor carnívora do gnoticismo secular, como Kant, Hegel, Nietzsche, Heidegger e, principalmente, Marx, Engels, Bakunin, Comte, Gramsci, Sartre e Foucault, dispensando e ignorando completamente a existência de um pensamento filosófico que consiga ir além de uma ordenação do ser e das coisas que não estejam só, e somente só, neles mesmos, como Sto. Agostinho, Tomás de Aquino, Leibnitz, Kierkegaard, Jasper, Unamuno, Ortega y Gasset, Voegelin, Constantin Noica, Mário Ferreira dos Santos, Olavo de Carvalho e, claro, Sócrates, Platão e Aristóteles, nosso “pensamento acadêmico” se empenha cada vez mais em construir, distribuir e propagandear tolices ideológicas discriminatórias que desencadeiam uma imensa crise moral onde a própria moralidade, a ética e os valores seculares são vitimados, não restando nada para além do homem a não ser aceitar a sua condição de mais um entre tantos seres irracionais e “socialmente selvagens”. Assim sendo, ao invés de “valer mais do que as aves” passe a se igualar ou a se tornar menor do que os vermes que lhe roerão a face e o crânio já há muito corroído pelo socialismo cientifico e outras tolice semelhantes.



Ao invés de se fundamentarem como centros de saber em constante aprimoramento, a maioria de nossas Universidades é responsável por propagar uma política educacional tacanha, detestável e limitadora, onde a iniciativa individual e a inventividade são consideradas ações extremamente perigosas e cujo objetivo não é outro senão destruir os princípios pelos quais tais instituições se criaram e se firmaram. E, como monstros geram monstros geram outros monstros, é justamente a ninhada deste criadouro de ideólogos da ignorância que dirige aquela que deveria ser a maior e a mais idônea das instituições deste país: o MEC. O nosso Ministério da Educação, ao longo dos últimos anos, não tem mostrado outra razão de ser e de agir para além da disseminação de ideais políticos em que toda educação e toda moral, como também toda arte, toda literatura se tornam sujas e apequenadas...



Quem mais tem sofrido com isso?! Nossas crianças e jovens do ensino fundamental e médio que, quando não são emburrecidos são transformados em pequenos Ches Guevaras por seus professores2, oriundos de nossas universidades vermelhas, que, se desviando freqüentemente da matéria e do objeto da disciplina para assuntos relacionados ao noticiário político ou internacional, adotando ou indicando livros, publicações e autores identificados com determinada corrente ideológica, como o marxismo e coisa e tal, impondo a leitura de textos que mostram apenas um dos lados de questões controvertidas, exibindo obras de arte de conteúdo político-ideológico, submetendo-as à discussão em sala de aula, sem fornecer os instrumentos necessários à descompactação da mensagem veiculada e sem dar tempo aos alunos para refletir sobre o seu conteúdo, ridicularizando gratuitamente ou desqualificando crenças religiosas ou convicções políticas, ridicularizando, desqualifica ou difamando personalidades históricas, políticas ou religiosas que não se enquadram em seu estreito “ciclo de heróis”, pressionando alunos a expressar determinados pontos de vista em seus trabalhos, aliciando alunos para participarem de manifestações, atos públicos, passeatas, etc., permitindo que a convicção política ou religiosa dos alunos interfira positiva ou negativamente em suas notas, encaminhando o debate de qualquer assunto controvertido para conclusões que necessariamente favoreçam os pontos de vista de determinada corrente de pensamento, divulgando e fazendo propaganda de suas preferências e antipatias políticas e ideológicas, omitindo ou minimizando fatos desabonadores da corrente político-ideológica de sua preferência – como, por exemplo, o facto de que Cuba é uma ditadura cruel e sanguinária –, transmitindo aos alunos a impressão de que o mundo da política se divide entre os “do bem” (comunistas, por exemplo) e os “do mal” (a exemplo: capitalistas), não admitindo a mera possibilidade de que o “outro lado” possa ter alguma razão; promovendo uma atmosfera de intimidação em sala de aula, não permitindo, ou desencorajando a manifestação de pontos de vista discordantes dos seus, não impedindo que tal atmosfera seja criada pela ação de outros alunos, utilizando-se da função de professor para propagar idéias e juízos de valor incompatíveis com os sentimentos morais e religiosos dos alunos, constrangendo-os por não partilharem das mesmas idéias e juízos, há décadas vem desencadeando um dos maiores e mais covardes processos de doutrinação ideológica “nunca antes visto na história deste país”...




Estou exagerando? Então relembrem do que foi feito a um de nossos mais aclamados escritores: Monteiro Lobato.



Dono de uma genialidade inigualável, de uma força literária que iluminou – e ilumina – dezenas de gerações de crianças (eu mesmo muito me embriaguei de sua ilustração quando ainda as crianças não eram expostas a figuras infames como os Teletubbies ou o Harry Potter), de uma ironia extremamente profunda quão sutil, que o fez denunciar uma cultura educacional de maus tratos desnecessária e abusiva, como em seu célebre Negrinha, que mostrou toda a crueza de um mundo dominado pelos senhores de terra, que traziam, no bolso e no chicote, a vida de seus familiares e de seus agregados, como no conto Bugio Moqueado, que desnudou, através de seu famoso Jeca Tatu, os mais diversos problemas políticos e sociais pelos quais passavam e ainda passam a maioria dos brasileiros, mesmo depois de programas sócio-governamentais, tão excelentes teoricamente, quão desastrosos em sua práxis, como Bolsa família, PAC ou Fome Zero e outras tantas formas legalizadas de coopitar eleitores.



Possuidor de uma pedagogia que nenhum Paulo Freire, ou qualquer um que siga suas teses ordinárias, teria em séculos, Monteiro Lobato – já muito vitimado pelo “cooperativismo de suínos”, algo que os paulistas de 22 aventaram como ninguém, por falar a verdade mais óbvia: que aqueles trabalhos de Anita Malfatti, tão aclamados pelos seus patéticos colegas, eram, e são até hoje, uma coisa ordinária. Não obstante, Monteiro nunca disse que ela era má pintora ou que, pelo menos, não era talentosa – foi difamado, vilipendiado e desacreditado por uma horda de estultos totalmente incapazes de compreender a diferença entre o mundo real e o mundo de hipocrisias no qual vivem e querem nos impor, que o diga o arsenal literário de um dos maiores de nossas Letras. E em nome de uma meia-dúzia de ideologias estúpidas, antiquadas e sem o menor senso do que é uma lenda, um arquétipo ou uma alegoria – sem falar em sentido prático –, o próprio Conselho Nacional de Educação (pasmem!) tentou censurar uma obra que fez muito mais pela literatura e pela educação no Brasil do que qualquer cartilha desta mesma instituição faria em milênios. Mesmo assim, símbolo de afeto, de respeitoso carinho e de uma aceitação às diferenças feita com valores, hoje, deturpados – e não através do rancor e do ódio incondicional disfarçado pelo discurso vitimista –, Tia Anastácia protagonizou mais um capítulo infeliz da imensa obsessão que os grupos de esquerda – principalmente os que dizem “representar as minorias” – têm por preconceitos. Obsessão essas que acaba alimentando um problema que julgam querer amenizar, ou mesmo resolver, que é a discriminação.



Sectárias diretas do gnoticismo secular, as políticas anti-discriminatórias acabam criando situações onde a segregação se torna cada vez maior e mais perigosa; e as fazem copiando o que de pior existem em modelos de outros países com realidades raciais bem diferentes as da nossa. O nosso sistema de cotas para negros é um deles: querendo incutir uma idéia de segregação que jamais existiu no Brasil democrático, as cotas raciais dizem resolver um problema sócio-cultural e uma “dívida histórica” que nunca nos disse respeito nem mesmo em suas raízes, pois os brancos europeus dos séculos retrasados compravam negros de tribos vencedoras que trocavam seus espólios de guerra – incluindo seus “irmãos” escravos – por armamentos, entre outras coisas, que lhes serviriam para conquistar e, conseqüentemente, escravizar mais desafetos. Sem contar o facto de o herói por eles escolhido, Zumbi dos Palmares, “o homem em cuja data de morte se comemora em muitas cidades do país o Dia da Consciência Negra, mandava capturar escravos de fazendas vizinhas para que eles trabalhassem forçados no Quilombo dos Palmares. Também sequestrava mulheres, raras nas primeiras décadas do Brasil, e executava aqueles que quisessem fugir do quilombo”, como bem escreveu Leandro Narloch em seu Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil. Por mais que tal afirmação possa causar chiliques nos defensores das causas raciais, é preciso entender o seguinte: Zumbi não foi nenhum bandido, foi apenas um rei negro com servos e escravos, como mandava suas tradições tribais. Além do mais, no século XVII, época em que viveu, não se constituía um crime, nem um pecado, ser dono de gente. Zumbi praticava um ato aceito pela lei, pela religião, por séculos de uma tradição tão antiga quanto a própria África... Ele só matou dois coelhos com um só cetro. Axe!!! “Não devemos condená-lo com os valores de hoje – nem ele nem os outros senhores escravistas, brancos ou negros, da mesma época”, afirma Leandro Narloch; aliás, muitos negros que desempenhavam trabalhos mais difíceis o honorários gozavam de certos privilégios, como ter escravos, por exemplo. Isso me faz lembrar um relato que Machado de Assis nos fez através de seu cronista póstumo:




Tais eram as reflexões que eu vinha fazendo, por aquele Valongo fora, logo depois de ver e ajustar a casa. Interrompeu mas um ajuntamento; era um preto que vergalhava outro na praça. O outro não se atrevia a fugir; gemia somente estas únicas palavras:



— “Não, perdão, meu senhor; meu senhor, perdão!” Mas o primeiro não fazia caso, e, a cada súplica, respondia com uma vergalhada nova.



— Toma, diabo! dizia ele; toma mais perdão, bêbado!



— Meu senhor! gemia o outro.



— Cala a boca, besta! replicava o vergalho.



Parei, olhei... justos céus! Quem havia de ser o do vergalho? Nada menos que o meu moleque Prudêncio, — o que meu pai libertara alguns anos antes. Cheguei-me; ele deteve se logo e pediu-me a bênção; perguntei-lhe se aquele preto era escravo dele.



— É, sim nhonhô.



— Fez-te alguma coisa?



— É um vadio e um bêbado muito grande. Ainda hoje deixei ele na quitanda, enquanto eu ia lá embaixo na cidade, e ele deixou a quitanda para ir na venda beber.



— Está bom, perdoa-lhe, disse eu.



— Pois não, nhonhô manda, não pede. Entra para casa, bêbado!



Saí do grupo, que me olhava espantado e cochichava as suas conjeturas. Segui caminho, a desfia uma infinidade de reflexões, que sinto haver inteiramente perdido; aliás, seria matéria para um bom capítulo, e talvez alegre. Eu gosto dos capítulos alegres; é o meu fraco. Exteriormente, era torvo o episódio do Valongo; mas só exteriormente. Logo que meti mais dentro a faca do raciocínio achei-lhe um miolo gaiato, fino e até profundo. Era um modo que o Prudêncio tinha de se desfazer das pancadas recebidas, transmitindo-as a outro. Eu, em criança, montava-o, punha-lhe um freio na boca, e desancavao sem compaixão; ele gemia e sofria. Agora, porém, que era livre, dispunha de si mesmo, dos braços, das pernas, podia trabalhar, folgar, dormir, desagrilhoado da antiga condição, agora é que ele se desbancava: comprou um escravo, e ia-lhe pagando, com alto juro, as quantias que de mim recebera. Vejam as sutilezas do maroto!3




Uma coisa é certa: as cotas raciais, inevitavelmente, acabam levando as pessoas menos informadas a acreditar que indivíduos de uma determinada raça são necessitados de apoio graças às suas incapacidades. Ironicamente, enquanto que cegos, surdos, velhos e aleijados procuram fugir de tais condições e estereótipos de deficientes (ou até mesmo de inúteis), outros, muito saudáveis, querem entrar nesta barca furada por uma simples questão de cor de pele. Para piorar, toda a nossa visão de racismo, graças às saraivadas de falsas e descontextualizadas idéias descarregadas pelos nossos “paladinos das minorias” é unilateral. Acompanhe-me, caro leitor, num exemplo simples: se um homem de pele escura veste uma camiseta com a inscrição “100% Negro”, a todos parecerá um mero e devido exercício de auto-afirmação étnica; mas basta um pobre infeliz de pele um pouco mais clara, vestir algo como “51% Branco” e pronto, seu mundo cairá sob uma chuva de impropérios e acusações de nazi-fascismo. Não faz muito tempo, o nosso ex-presidente Luís Ignácio Lula da Silva disse para Deus e o mundo ouvir que a última crise econômica fora causada “por comportamentos irracionais de gente branca de olhos azuis, que antes pareciam saber de tudo, e, agora, demonstram não saber de nada”2, num dos exemplos mais agressivos de racismo que já testemunhei. Disseram alguma coisa? Acusaram-no de preconceituoso?? Alguma representação foi feita contra ele??? Claro que não! Já, do outro lado, Jair Bolsonaro não pode usar a palavra “preta” nem se referindo a cor de sua esferográfica.



Se levarmos, leitor amigo, estas parvoíces para o campo das artes, como querem os propagadores dos estudos culturais e seus asseclas – outra praga academicista a assolar os campos já bastante ermos de nossa intelectualidade – que olham para as artes, como disse outrora, como um reality show atrasado e defasado, onde tinta parece valer mais do que a pintura, o metal mais do que o anel ou o barro mais do que o vaso – aliás, mostrando-lhes um vaso, são capazes de enxergar o barro, a pintura, o verniz, as mãos oprimidas que o fizeram – só não enxergam o vaso – , que procuram rotular a poesia como um produto de raça, de preferência sexual ou do meio social onde seu autor se criou, não demorará para presenciarmos senas que deveriam fazer parte de uma história antiga e passiva de esquecimento, como a de livros sendo atirados ao fogo ou taxados a sangue por conter idéias , propagandas e conteúdo impróprios ao “bem estar cultural” das pessoas, como ainda acontece em certas repúblicas descendentes do velho Comunismo. É só nos lembrar do que aconteceu com o livro Caçadas de Pedrinho.



Monteiro Lobato que se cuide... e eu também.





***



Ainda querendo provar minha total falta de exageros e continuar a chamar atenções para este FEBEAPÁ infindável, promovido por aqueles que deveriam exercer a vigilância de nossa Educação e de nossas Letras, vejam, por exemplo, o caso polêmico que envolve o livro Por uma vida melhor, aprovado e distribuído pelo MEC para mais de meio milhão alunos de todo o país, num dos maiores exemplos de descaso público que estes tristes trópicos já viram, pois se trata tanto de um descaso educacional quanto, por causa deste descaso, um gasto de dinheiro público sem precedentes.



Mas dinheiro sempre é o de menos, principalmente nesses casos... o problema é que no livro dostribuído pelo MEC, apregoa-se que, em nossa língua, não existe certo ou errado, e que as regras da gramática não passam de mais uma das muitas formas de expressão que podemos tirar de nosso idioma e, que, de certa forma, é a menos importante; por isso mesmo a frase “nós pega o peixe” estaria correta e o aluno é livre para escolher escrever e falar deste jeito. O que os senhores do MInistério da Edicação parecem não entender é que a norma culta não é uma mera forma expressiva, pois o problema não reside na eficiência comunicativa entre falantes incultos e sim na inclusão que os cidadãos menos favorecidos culturalmente possam ter através de um aparato lingüístico que lhes abram as portas da filosofia, da ciência, da grande literatura – possibilitando, a todos aqueles que a aprendem, raciocinar, profundamente, a respeito tanto das realidades objetivas quanto subjetivas – e, claro, de um mercado de trabalho cada vez mais exigente, competitivo e, por isso mesmo, ávido de qualificação.



Toda esta idiotice tem como “fundamento” a idéia de “preconceito lingüístico”, expressão cunhada por Marcos Bagno, funcionário (pois sempre me recusei e me recuso, como professor que sou, a atribuir, a um indivíduo como este, uma profissão e uma qualificação tão messianicamente honrada) da Universidade de Brasília (UnB) e título d’um livro seu de mesmo nome, que durante meu curso de Letras aqui na UEFS, fui obrigado a ler e, muitas vezes, censurado ao discordar de seus argumentos ao mesmo tempo confusos, infundados e, acima de tudo, criminosos. Tal sofisma só serve para desqualificar as regras da norma culta de nossa língua e estabelecer preconceitos – mas preconceitos contra a gramática e com o bom falante do português. Esta ideologia obscurantista – mais uma a povoar nossas Universidades e, conseqüentemente, ser implantada na mente de nossas crianças e jovens – move-se em torno da visão de que língua culta é um instrumento de dominação das elites burguesas, numa explícita valorização da ignorância em nome de um marxismo de fundo de quintal que vem parasitando e se arrastando há décadas em nossas instituições de ensino superior, principalmente nos cursos de Pedagogia e Letras, de onde sairão (e que Deus e Darwin se apiedem de nós!) grande maioria de nossos professores e educadores.



Para os prosélitos da ideologia do senhor Bagno, ensinar a um aluno o idioma culto de nossa língua é uma forma de dominação capitalista que só poderá ser desfeito com o ensino da fala popular que, por sua vez, o libertará das garras do imperialismo dominante. Este coroamento do descaso, pelas idéias marxistas mais burras e ortodoxas possíveis, só pode levar a uma única e absurda lógica: não devemos submeter os alunos menos informados, e, por isso mesmo, ávidos de conhecimento, a nenhuma regra gramatical, para que estes não se tornem passivos de preconceito lingüístico, por falarem e escreverem errado, e, desta forma, parar de ensinar a quem quer que seja, para que ninguém se sinta humilhado por não saber e, ao mesmo tempo, não seja estimulado a melhorar – o que caracterizaria um preconceito ainda maior –; desta forma não precisamos de escolas – pois, se todos permanecermos na ignorância, a escola se torna uma instituição supérflua – e poupamos dinheiro público para que o MEC e o senhor Marcos Bagno continuem produzindo a “imbecilidade nossa de cada dia”.



Parece absurdo, caro leitor? E é claro que é. Mas só estou seguindo a lógica que nos está sendo imposta: a de que a escola deve ignorar a língua-padrão, e de que nos nivelemos por baixo, descriminando aqueles que conhecem e buscam o conhecimento... e os menos privilegiados que fiquem como estão. Foi isso que eu ouvi em anos de Universidade; era isso que a maioria dos professores de lingüística que tive, ignorando o facto de que a Lingüística deve apenas estudar os diferentes modos de expressão e apresentação de uma língua ou idioma sem lhes deturpar as normas pré-estabelecidas e que lhes servem de modelo e base – tentaram impor em minha mente através de uma doutrinação cada vez mais intensa em nossas escolas e Universidades e que cada vez mais tem apoio do governamental. E todo este desserviço escolar ocorre em um país que há muito é deficiente de educação e cada vez mais exposto a este tipo de “lixo acadêmico travestido de vanguarda cultural”, como afirma a procuradora de justiça, Janice Ascari, em entrevista à revista VEJA, desta última semana. O crime apontado pela procuradora ocorre em um Brasil onde 62% de nossos estudantes se mostram incapazes de interpretar corretamente o mais simplório dos textos e que aparece na 53ª posição – já ocupou 64ª, e há quem comemore esta “subida”... – entre os 65 países avaliados pelo Pisa, o mais rigoroso teste comparativo-educacional do mundo. Tudo isso me faz lembrar um texto profético o filósofo Olavo de Carvalho, que, em 1999, já dizia4:




O livro de Marcos Bagno, Preconceito Lingüístico: O Que É, Como Se Faz, ao assumir a defesa do mais entrópico laissez-faire gramatical contra toda tentativa de conservar a unidade da norma culta, abominada como mecanismo de exclusão social e opressão dos pobrezinhos. Adornando de terminologia técnica uma argumentação que no fundo não passa do habitual apelo ao ressentimento populista contra os adeptos do purismo vernáculo, supostamente também senhores do capital — ai, meu Sacconi! —, o autor nem de longe dá sinal de perceber que, afrouxada a norma portuguesa, o que haverá de predominar não será o democratismo igualitarista das falas populares, autoneutralizantes por sua multiplicidade mesma, e sim a influência ordenadora da norma anglo-americana, ocupando substitutivamente — e usurpatoriamente — o lugar da regra vernácula. Isso, aliás, já vem acontecendo, como se vê pela alarmante disseminação do uso de palavras portuguesas montadas segundo uma sintaxe inglesa — "amanhã estarei indo viajar" —, o que já não é mais a corriqueira assimilação de vocábulos estrangeiros e sim precisamente o contrário de uma assimilação...




E completa:




Toda cultura nacional é um vasto sistema de incorporações, no qual manifestações isoladas e locais vão se integrando numa unidade superior, e isto acontece com a língua tanto quanto com as idéias. Se, no topo, esse movimento não encontra um critério de unidade que lhe seja próprio, ele logo se amolda a um de fora, preferindo antes ser assimilado do que voltar à dispersão de onde partiu. Se o prof. Bagno fosse um agente consciente do imperialismo, pretendendo dissolver a nossa unidade lingüistica para lhe sobrepor a americana, seu livro seria obra de inteligência, mista de maquiavelismo. Mas não: ele é apenas mais um esquerdista doido, desses que, ansiosos para expressar sua miúda revolta imediatista e cega, não sabem a quem servem em última instância e aliás não querem nem saber: falam o que lhes dá na telha e, de tempos em tempos, constatam, mais revoltados ainda, que tudo deu errado e seu mundo caiu. Para cúmulo de inconsciência, o prof. Bagno, citando indevidamente Aristóteles, proclama que sua obra é política, quando a política para o Estagirita é o cuidado do bem comum, isto é, a vigilância sobre os rumos da sociedade como um todo, e nunca a adesão parcialista a exigências de grupos ou classes, defendidas como se valessem por si e sem o mínimo exame das conseqüências que seu atendimento possa produzir sobre o corpo da sociedade integral. Para os meninos da Febem ou para o lavrador de Ponta Grossa, pode ser bom ou pelo menos cômodo, a curto prazo, que os deixem escrever como falam, sem subjugá-los à uniformidade da norma. Subjetivamente, eles talvez se sintam, assim, menos excluídos. Mas, objetivamente, aí sim é que estarão excluídos, aprisionados na sua particularidade e sem acesso à conversação das classes cultas. Tudo depende de saber se preferimos enfraquecê-los pela lisonja ou fortalecê-los pela disciplina. Há nisso uma escolha moral que os amigos do povo preferem não enxergar. E se, levando as opiniões do prof. Bagno às últimas conseqüências, as próprias classes cultas desistirem da norma unitária e, para não passar por preconceituosas ante o olhar malicioso dos ressentidos, adotarem como obrigatória a entropia populista, então das duas uma: ou a entropia arrastará na sua voragem o pouco de possibilidade de diálogo racional que ainda resta neste país, ou então uma norma substitutiva acabará por se impor...5




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Por todas essas coisas, vejo que não podemos confiar em um Ministério da Educação que quer nos proibir de ler um de nossos maiores escritores educadores, como Monteiro Lobato, mas que pretende distribuir em nossas escolas primárias vídeos e testos sobre gays, lésbicas e coisa e tal, dizendo-se querer acabar (logo de cedo) com a homofobia, quando a única idéia que crianças de 7 a 10 anos têm de homossexualidade é o Tinky Winky.



Como acreditar em Universidades que ensinam professores a “desensinar” as normas gramaticais de nossa língua-padrão, em nome de uma “idéia libertária” que só tornará nossos alunos ainda mais escravos de suas condições de pobreza tanto econômica quanto culturais?



Entre Gênios, como Lobato, e ratos, defensores do laissez-faire gramatical6 e do materilismo-científico, que infestam nossas Universidades – à maneira do personagem Cérebro, do desenho Pinky and the Brain, sempre apostos para dominar ou destruir o mundo –, que infestam, querendo que sejamos suas cobais, este grande laboratório chamado mundo, precisamos tomar consciência, de que precisamos, por meio nossa própria iniciativa, educarmo-nos e nos prepararmos, tanto para encarar os desafios que o mundo (de uma maneira geral) nos prepara, quanto para perceber a imensa rede de preceitos e de ações dominadoras que se estende por cima de nossas cabeças, ou, do contrário, poderemos, dia menos dia, caro leitor, nos deixar, finalmente, enganar e aceitemos estas muitas inversões que os filhos da gnose secular querem tanto nos impor – seja através do medo, da lavagem cerebral ou da legitimação por lei –, porque, como nos lembra Unamuno: por mais terríveis que sejam as ortodoxias religiosas as científicas são bem piores... imagine as ortodoxias político-sociais!? Se dependermos, do MEC, de nossas Universidades, de nossos professores e de todas as doutrinas ideológicas que nos cercam e se dizem nossas protetoras, “nós tamo é fudido”!










Alagoinhas, 03 de junho de 2011.













1 – A questão aqui foi a seguinte: Este meu amigo foi obrigado a ler e resenhar, durante o Curso de Letras Vernáculas da Universidade Estadual de Feira de Santana, o livro do senhor Bagno. Após a leitura e ele constatou o óbvio e fez uma resenha crítica apontando erro por erro do livro em questão; mas o que ele ouviu da professora foi: o senhor tem certeza de que não escolheu o Curso errado?



2 – Como bem se pode conferir através da iniciativa do site Escola sem Partido: http://www.escolasempartido.org



3ASSIS, Machado. Memórias póstumas de Brás Cubas. Ed. Ática, 1997, p.126.



4CARVALHO, Olavo de. In Quem come quem: texto original distribuído aos alunos de seu Seminário de Filosofia, em 12 de junho de 1999. Fonte: http://www.olavodecarvalho.org/apostilas/quem.htm



5CARVALHO, Olavo de. In Op. Cit.



6Em nota, à mesma apostila, o filósofo Olavo de Carvalho afirma:Erros idênticos aos do Prof. Bagno já podiam ser encontrados, com um ano de antecedência, em Por Que (Não) Ensinar Gramática na Escola, de Sírio Possenti, professor da Unicamp (Campinas, Mercado de Letras, 2ª impressão, 1998. As idéias de Bagnos e Possentis vêm fazendo as cabeças — isto é desfazendo os cérebros — da maioria dos estudantes de Letras neste país”.



7 – Conferir: http://oglobo.globo.com in http://oglobo.globo.com/economia/mat/2009/03/26/lula-diz-que-crise-causada-por-gente-branca-de-olhos-azuis-755003398.asp ou http://www.youtube.com/watch?v=jlpcLvLn58Y

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