Cesto com frutas de Caravaggio (14596): óleo sobre tela 46x64 cm; Pinacoteca ambrosiana, Itália.
Esculpo
uma cesta de frutas
a cozinha
os cheiros da manhã
lá fora.
A solidão dos frutos:
a mesma solidão das coisas vivas
dos propósitos
das palavras que esperam por seus usos.
A beleza destas frutas
é a mesma beleza dos milagres
das súplicas
das lágrimas
da lâmina da morte e os seus cortes.
A beleza destas frutas
é a mesma beleza das obras inconclusas
do canavial ao vento
d’outras matérias
enfim
vencidas.
Todo amor é madureza
encanto descoberto
instante exato
cesto de mangas
bananas
romãs
tanjerinas
jabuticabas...
goiabas
figos
e melancias abertas como carne.
Todas as coisas trazem seu desejo
e o que não foi ou não quis
hoje
agoniza.
De aparições surgem brotos
abrem-se flores
abrigam-se grãos
e sucos...
Tudo que é belo assim o é e assim se mostra.
Mas
mesmo as coisa belas
mudam
envelhecem
amarelam-se como papel
frutos
peles
depressa ou lentamente escrevem seus nomes
suas promessas
seus sabores.
Assim é a poesia...
assim, os homens:
frutos da eternidade
e de tudo
que apodrece.
3 comentários:
'(...)Frutos da eternidade e de tudo
que apodrece.' -Essa parte é a pura verdade! *.*
Olá poeta! No final seremos todos comidas de vermes, incluindo as frutas e os belos legumes.
1º vez aqui e voltarei, pois gostei...
Bjs poéticos!
Silverio tem se tornado uma espécie de profeta do tempo, ainda que pareça um oxímoro ou paradoxo, tal afirmação. Acontece que ele consegue, vem conseguindo criar antecipações, pela poesia, da mais alta estirpe estética e de uma maturidade que beira a velhice, quando sábia. Não são poucos os poemas, versando sobre o tempo, em que Silvério consegue se livrar do lugar-comum, tão frequente a esse tema, e criar um templo de orações ao belo, eternizando-o. Sugiro aos leitores a leitura dos sonetos do poeta. Abç a todos.
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