domingo, 31 de outubro de 2010

MORRE O POETA ILDÁSIO TAVARES, AOS 70 ANOS...



Ildásio Tavares (1940-2010)


Morreu, hoje, às 17h, deste triste 31 de outubro de 2010, aos 70 anos, o poeta, compositor, tradutor, mestre e, acima de tudo, amigo, Ildásio Tavares. Internado no Hospital Jorge Valente, em Salvador, desde o dia 27 deste mês, Ildásio sofreu um Acidente Vascular Cerebral que ceifou a sua vida de poeta.



Segundo nota de Assis Brasil, em A poesia baiana do século XX, pertence à geração Revista da Bahia, juntamente com Cyro de Mattos, Fernando Batinga de Mendonça, Marcos Santarrita, Alberto Silva. Estes, e mais José Carlos Capinam, Ruy Espinheira Filho, Adelmo Oliveira, José de Oliveira Falcón, Carlos Falck, Maria da Conceição Paranhos entre outros "formam um panorama fecundo e variado" a partir da década de 60.



Possui vários livros publicados, como Imago, Ditado, O canto do homem cotidiano, Tapete do tempo, Poemas seletos, Livro de salmos, IX Sonetos da Inconfidência, Lídia de Oxum, O amor é um pássaro selvagem, O domador de mulheres, A arte de traduzir... entre outros. É ganhador, entre tantos prêmios, do Leonard Ross Klein, de tradução; do Afrânio Peixoto, de ensaio; do Fernando Chinaglia, de poesia; e do prêmio nacional do centenário de Jorge de Lima. É bacharel em Direito e licenciado em Letras pela Universidade Federal da Bahia; mestre pela Southem Illinois University; doutor pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; pós-doutor pela Universidade de Lisboa.



Seu trabalho como jornalista compreende participação em vários periódicos, entre os quais, Diário de Notícias, Jornal da Cidade, A Tarde e Tribuna da Bahia. Membro praticante do candomblé, foi consagrado Ogan Omi L’arê, na casa de Oxum, e Obá Arê, na casa de Xangô e no Axé Opô Afonjá. É cidadão da cidade de Salvador desde 1986.



É muito difícil, para mim, falar de tamanha perda; assim como à toda grande Literatura Brasileira. Ildásio Tavares é da mesma linha de um Bruno Tolentino ou um Ferreira Gullar. Sua vida e sua obra se cercaram de uma busca incansável pela qualidade poética e pela defesa da mais pura tradição de nossas Letras. Homem formidável, polêmico, de rara cultura e inegável talento, sempre foi solícito aos novos aspirantes e jamais lhes negou o seu papel de professor, como aconteceu a este humilde poeta, pois foi Ildásio quem prefaciou, com sabedoria e elegância, o meu último livro. Agora, como muitos, este humilde poeta, como muito, chora a sua morte.



Como me faltam as palavras “mais burocráticas” neste momento, talvez a melhor maneira para me despedir de um poeta seja com poesia; por isso, deixo, aqui, um soneto que fiz com base em um de seus poemas e que eu, muito agradecido lhe dediquei, fazendo deste a minha maneira mais sincera e particular de lhe dizer: obrigado, Mestre e até breve, meu Amigo!







[OFÉLIA]





ao mestre, amigo e poeta Ildásio Tavares... este bastardo





Meu coração é um cabedal de sonho

de dores que antecedem cada instante

e a noite há de chegar, assim suponho

como a pisada brusca de um gigante.


De ausência e de desejo, em vão, componho

uma canção cafona e dissonante

e, ao ver tal despautério, então suponho:

sou talentosa como um elefante!


Ah, andai meus pés, andai que o rio espera

nossas cruéis lembranças, nossos corpos...

pois quem jamais amou melhor viveu.



Se eu vejo outro nascer? A Nova Era...?!

Eu vejo o que eu vivi; vejo os meus mortos;

quem dá valor a vida é quem morreu.


3 comentários:

MaRiShKa disse...

=/

Anônimo disse...

Poeta Silvério Duque,
Pedi ao Renato Suttana que publicasse seu poema ao bardo maior da Bahia que se foi: Ildásio Tavares. O chão desabou sob os meus pés, estou vivendo feito um fantasma, a dor é imensa, Abraços, Miguel Carneiro

Anônimo disse...

Puta que pariu, os tercetos são de uma força impressionante!!!!!! E de um pessimismo a Augusto dos Anjos e Raul de Leoni,com o qual muito me identifico, porque eivado de poesia, de beleza, de arte, enfim. Mas o melhor, para mim, ainda está nos dois versos do segundo terceto. Perfeitos. Soneto de fazer acordar o falecido, um amante do bom soneto.

Henrique Wagner