sexta-feira, 20 de março de 2009

WOODY ALLEN E O ETERNO RETORNO...



Desde o seu surpreendente, e, por isso mesmo, maravilhoso Ponto Final, Woody Allen tem nos mostrado possuir uma capacidade pouco comum em cineastas veteranos, por melhor que eles sejam, a de “renovação”, e isso aconteceu justamente quando Woody era acusado por muitos de não se cansar de New York, de Jazz, de comédias e de outros temas tão comuns à sua obra cinematográfica... aí aparece Ponto Final, onde New York é trocada por uma Londres sem estereótipos, onde o jazz dá lugar à ópera e a comédia é envolvida por uma tragédia sem precedentes. Seguindo esta mesma receita, vieram Scoop – O grande furo (a partir daí, ninguém mais teve dúvidas de seu casamento profissional com a talentosa e e-xu-be-ran-te, Scarlett Johansson) e o não compreendido O sonho de Cassandra. Mas é com seu mais novo sucesso, Vicky Cristina Barcelona (Espanha/Estados Unidos, 2008; com Rebecca Hall, Scarlett Johansson, Penélope Cruz, Javier Bardem, Christopher Evan Welch, Chris Messina, Patricia Clarkson, Kevin Dunn, Julio Perillán e Josep Maria Domènech... Aproveitem, também, para ver o trailer: http://www.youtube.com/watch?v=NfmWONdVFlc) que Woody Allen nos mostra que, aos 72 anos, sua mente e seu talento estão mais maduros e criativos do que nunca. Num filme onde tudo, aparentemente, parece se dirigir para o óbvio e para o lugar-comum, a aparente ordem dos factos se subverte e o que antes parecia racional, se entrega quase que inteiramente ao romantismo intenso, a um Carpe Dien impulsionado pelo desejo de felicidade incondicional, que é o caso da personagem Vicky, vivido pela talentosíssima Rebecca Hall (mais que merecedora de um Oscar), e o que antes era apenas impulso e desejo de descoberta, se deixa arrebatar por situações incontroláveis e impossíveis de se fugir, que se aplica à Cristina, personagem de Scarlett Johansson. Vicky aproveitará o impulso para se construir uma nova rota para sua vida; Cristina declinará e se envolverá em um círculo e voltará ao mesmo ponto de partida, porém triste, insatisfeita e angustiada, principalmente por descobrir que a vida pode conter inúmeras coisas em que lhe falta a coragem e a sabedoria para abraçá-las. No centro desde dilema, estão as figuras do sedutor Juan Antonio, muito bem interpretado por Javier Barden, e da caótica e sensual Maria Elena, a quem Penélope Cruz empresta toda a sua força e beleza. Segundo Isabela Boscov, “trata-se, enfim, quase de um jogo de salão, em que cada espectador deve decidir, ao final, se é mais Vicky ou mais Cristina, e se isso lhe convém realmente ou não”. Vicky Cristina... mergulha profundamente no universo de Barcelona, e o seu diretor parece se absorver (e também querer que experimentemos tamanha sensação), da arte, da música, da cultura e do calor catalão. Mostrando-se, mais uma vez um profundo conhecedor do ambiente cinematográfico europeu, Woody Allen tem seus vários momentos de Pedro Almodóvar, capitando, deste, suas cores fortes e sua visão feminilizada da vida; aliás, desde Hannah e suas irmãs, de 1986, que Woody Allen não se entregava tanto às suas personagens femininas, nem fazia um filme tão marcado pelo sabor e pela imagem do desejo...

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