quinta-feira, 13 de maio de 2010

GABRIEL FERREIRA: ARTISTA...


O artista plástico, músico e professor Gabriel Ferreira
Gabriel Ferreira é um artista excepcional! Porém, dizer isto a respeito de qualquer outro é muito fácil, numa época em que temos artistas aos quilos, e por metro quadrado, perambulando por nossas ruas e galerias, enchendo-nos os olhos com suas abundantes colorações performáticas e, de igual proporção, vazias e efêmeras. No caso de Gabriel, a coisa muda de figura.

Este tanquienhense é um artista ligado às tradições, pois, um artista, precisa de algo para se apoiar, e isto está muito claro desde Da Vinci a Portinari, por que com ele haveria de ser diferente? O folclore, a vida pacata do interior, a cultura popular de um modo geral estão para a obra de Gabriel da mesma forma que as cores e as impressões luminosas estão para a obra de um Monet ou um Sisley. Mas cores também não são seu fraco, pois Gabriel equilibra cores e contorno com a simplicidade primordial do desenho, aliado ao acabamento técnico e expressivo das tintas sobre as telas, que conseguem juntar o abstracionismo e figurativo em uma tênue barreira aliada aos malabarismo imagéticos do artista.

Suas telas também não se limitam em serem uma acabada fotografia de um momento contemplativo, antes, o movimento com que se deixam olhar e irradiam de si, nos esclarece ainda mais a idéia de que um quadro ainda precisa nos dizer, contar-nos algo, ou melhor, nos instigar a procurar os segredos que em nós habitam o quadro. Por estas e muito mais coisas que o espaço e os limites desta conversa não me deixam detalhar, Gabriel é um grande artista, porque um grande artista deve estar sempre vivo e atento ao mundo que o cerca e deve capturá-lo e o dissecar da maneira mais minuciosa o possível, para que a posteridade saiba que ali se encontrava um transformador de mundos e não um falsário, por isso mesmo o poeta Ildásio Tavares, disse que sua arte é uma arte “honesta, sem truques nem conceitos em que as imagens são tratadas com esmero artesanal para um final de perfeita solução plástica expressa por uma mão segura de um hábil colorista; não se esconde atrás dos modismos tão encontradiços no momento presente; parte para uma definida vocação de pintar e realiza seu desiderato plasticamente, através de sua habilidade no manejo de pinceladas às vezes vigorosas, mas nunca frouxas, nunca guiadas pelo acaso”.

E como se não bastasse tanta demonstração de talento e reconhecimento pelo mesmo, Gabriel dedicou uma pequena exposição a meu trabalho de poeta, no dia do lançamento de meu novo livro, A pele de Esaú, que eu reproduzo aqui, na íntegra para todos os que lêem este Blogger, como prova da profunda admiração e do grande agradecimento que tenho por este notável artista e grande amigo: http://artistagabrielferreira.blogspot.com


"Bendito seja todo esquecimento;
bendita, também, seja toda sede
e tudo mais que nos desperte a carne
ou que nos torne estranhos ante o espelho."




"Grande conforto esta visão da noite,
esta noite existente em cada ouvido,
qual o mar encarcerado em cada concha...
Há, em cada sonho, um anjo adormecido..."






"E o que eu adoro em ti é a tua carne,
porque tudo o que é vivo se deseja;
assim, desejo em ti o meu tormento
que há-de crescer na proporção do tempo."





"Contemplo em tuas chagas a beleza
e a memória de tudo o quanto é vivo.
A dor, inda presente, sente a carne;
o amor nos oferece um gesto antigo."



"Nua, és como os frutos contra o vento,
o contrair impuro de teus músculos,
como a transpiração das tuas flores,
vela chorando só em meio as preces..."



"...a noite derramando-se em ternura
e sono, o amanhecer que partilhamos...
Tudo passa, até mesmo a tua ausência
e a saudade que trago de quem somos."



"No dia em que fazemos tudo vive,
realizar é escapar da morte... mas,
não durarei apenas entre os outros,
pois dou aos versos usos e clarezas."






"Pesa-me sobre os ombros meu silêncio,
penso no fogo – renascer de tudo –,
na carne que perdi entre os escombros
do desejo, dos sonhos, dos sentidos..."

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